segunda-feira, 14 de maio de 2007

bibliófilos


Este livro fica devendo muito ao leitor. Não chega a ser um romance, nem de longe. Na verdade é uma pequena novela, mas uma novela que deixa algo matutando nas memórias do leitor. A maioria dos leitores ou amantes da literatura têm uma relação com livros, o objeto livro, muito distinta que aquela experimentadad pelas pessoas comuns. Não chega a ser uma relação notadamente ambígua pois há de tudo neste mundo: há aqueles que colecionam a leitura dos livros e se sentem possuidores de seu conteúdo, com suas preferências, obssessões, manias particulares; há outros que têm o distinto prazer em ir distribuindo os livros que leram, como se neste processo eles ficassem mais caros a eles; há ainda alguns que preferem queimar um livro a emprestá-lo ou mesmo imaginar vê-lo nas mãos de outra pessoa; há os disciplinados que montam coleções realmente importantes ao longo da vida, cuidando dos livros com o mesmo zêlo dos botânicos em relação às flores. A Casa de Papel conta um pouco sobre um sujeito que tão envolveu-se com seus livros que resolveu fazer uma casa com eles, usando-os literalmente como tijolos de uma construção. A idéia do livro é curiosa, o exercício de desapego da paixão pelos livros genuíno, a descrição das viagens sentimentais ao passado que vez ou outra fazemos magistral, enfim é um livro de alguém familiarizado com o tema e dono dos meios para escrevê-la, mas o livro fica sem fôlego, muito cedo. Quando somos apresentados ao bibliófilo já percebemos que sua biblioteca está condenada. A novela é curta demais para que nos afeiçoemos ao sujeito ou mesmo a professora de literatura que nos leva até ele ao morrer em um acidente de trânsito. Gostei da idéia dos "corredores" que se podem encontrar nas páginas impressas dos livros com estilo, mas ela morre na mesma página em que nasceu. Paciência, don Carlos é o autor e eu sou apenas este resenhador contumaz. Vou procurar outras coisas do Carlos María Domíngues (argentino radicado em Montevidéu) para entender um pouco mais sua literatura.
"A Casa de Papel", Carlos María Domínguez, tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro, editora Francis, 1a. edição (2006) ISBN: 85-89362-54-5

Nenhum comentário: