segunda-feira, 2 de março de 2009

cordilheira

Neste "Cordilheira" Daniel Galera, jovem autor, emula uma voz feminina, certamente um exercício, um teste, para suas habilidades literárias. O texto é bem escrito, mas eu não fiquei totalmente convencido pelo romance (como uma história que se defenda sozinha e me leve a pensar na vida, ou que simplesmente me dê prazer). Paciência. Uma garota, escritora jovem, com amigos e amigas, tem um relacionamento afetivo com um sujeito ligeiramente mais velho. Na verdade ela quer ter um filho, mas este filho não é desejado pelo outro sujeito. Ela também está bloqueada, não consegue mais escrever após o sucesso de um primeiro romance. É dada a ela uma oportunidade de resolver os dois problemas ao ser convidada a lançar seu último livro na Argentina. A partir deste início bem explicadinho, linear, cheio de informações, o romance muda para Buenos Aires e seus mistérios (borginanos, claro) e surrealismos (cortazianos, claro). Ela se envolve com um sujeito e seu grupo de amigos. Trata-se de pessoas que levam a literatura de um jeito muito particular, não exatamente a sério: inventam um personagem, emulam sua vida até o fim baseados nesta personagem e produzem um livro onde o perfil, as memórias, a vida enfim desta personagem/identidade é contada. É de uma maluquice atroz, fazer o quê, mas metaforicamente claro que é reconhecível neste nosso mundo real, afinal de contas muita gente vive fantasias o tempo todo e abandona gradativamente as agruras do mundo real. A garota fica dividida entre seu desejo (mas que isto, decisão) de ter um filho e a constatação que o parceiro portenho que ela escolheu é totalmente tantã. O romance segue até um final que é mais ou menos previsível. Daniel Galera certamente conhece seu ofício e mantêm o livro nos eixos até o fim, navegando entre a ficção e a realidade, ora usando artifícios, ora descrevendo banalmente a imensidão dos Andes. Não é meu tipo preferido de livro (já que é mágico e irreal demais), mas a seu favor cabe dizer que ao lê-lo tentei lembrar de passagens do mesmo calibre (mas melhor resolvidas) de dois pesos-pesados que li recentente: Ian McEwan e Philip Roth. No fundo Daniel não faz feio. Cabe o registro final de que o romance é fruto de encomenda, pois faz parte de uma coleção chamda Amores Expressos (histórias de amor ambientadas em diversas cidades do mundo, diz a quarta-capa). No fundo todo romance é de encomenda, aprendi com o Carlos Heitor Cony, mas esta é outra história. [início 21/01/2009 - fim 22/01/2009]
"Cordilheira", Daniel Galera, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 174 págs. ISBN: 978-85-359-1326-2

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