quarta-feira, 2 de junho de 2010

cavalos do amanhecer

Quem fez propaganda deste livro foi o Ronaldo Lippold, também um rato dos livros. Ele me emprestou e li em uns dias de quase inverno, cinzas, como se mostrou ser o adequado. São contos de fronteira, daquele mundo onde os gaúchos mal se sabem brasileiros dos pagos ou uruguaios, castelhanos da gema, ou melhor, sabem, mas não vêem isto como uma separação intrínsica. São contos robustos, retratando um mundo do final do século XIX, tempos de quase guerra civil no Uruguai. Acho que este é o único livro de Mario Arregui (morto em 1985) traduzido para o português. Não sei se os contos pertencem a um único livro (o primeiro, "Noite de São João, sei que é de 1956) ou se foi compilado dentre uma produção literária que se estende por bons trinta anos. A tradução ficou a cargo do Sérgio Faraco. Difícil escolher um dos nove contos para ressaltar, são todos muito parelhos (para usar um termo gaudério). Gostei do "Diego Alonso", onde um sujeito escolhe uma forma limite para provar sua honradez e coragem. Em "A vassoura da bruxa" o leitor também se surpreende como Arregui retrata tão bem o espírito gaúcho, do homem integrado ao ritmo dos campos e das coxilhas. A conversa entre sogra e genro em "A volta de Ranulfo González" é impagável, muito boa mesmo. Neste conto ele registra: "Deus fez o mundo, tomou uns tragos pra festejar e até hoje não curou na borracheira". Incrível, que idéia! Em "Os contrabandistas" sonho e realidade criam uma atmosfera tensa. Há um clima grego nas histórias, como se o gaúcho fosse sim um marinheiro no vasto mar verde destes pagos. Belo livro. Esta dica eu tenho de agradecer ao Lippold. [início 10/05/2010 - fim 19/05/2010]
"Cavalos do amanhecer", Mario Arregui, tradução de Sérgio Faraco, editora LP&M (pocket vol. 346), 1a. edição (2008), brochura 11x18 cm, 138 págs. ISBN: 978-85-254-1291-1

Um comentário:

Ronai disse...

E eu desde já te agradeço o comentário, que me obrigará a passar na Cesma já na segunda-feira para deitar a mão no cujo livro. Fiquei com gosto. Terminei também o Humilhação e estou me deliciando com o Teatro de Sabbath, que espero devolver logo. Grande abraço!