sexta-feira, 18 de junho de 2010

pianista no bordel

Vi uma entrevista com Juan Luis Cebrián, fiquei entusiasmado com seus argumentos e decidi comprar este livro. Ele foi o primeiro editor do jornal espanhol El País. Neste livro estão incluídos dez ensaios que na verdade são bem variados nos temas e nas abordagens que oferecem. Alguns tem um viés mais histórico, onde Cebrián conta a origem dos jornais como hoje os entendemos, até histórias da transição da ditadura franquista para a democracia espanhola de nossos dias (lendo-o, como não identificar o desprezo pela democracia nos governos José Maria Aznar - primeiro ministro espanhol entre 1996 e 2003 - com as tentativas patéticas do atual governo brasileiro de controlar - e comprar, principalmente - corações e mentes através da mídia.) Um dos ensaios fala de bons escritores que também foram bons jornalistas, do jornalismo como um gênero literário específico. Noutros o que se discute é o valor absoluto da democracia, de como jornalismo e democracia se relacionam. Ele tenta entender qual será o futuro do jornalismo como ferramenta de informação, pensa sobre o papel dos blogs, das redes sociais e de outros instrumentos na sociedade digital em que vivemos. São boas as suas reflexões. Agora passo a dividir minhas próprias opiniões, provocadas por esta leitura. Hegel escreveu que "o jornal é a oração matinal do homem civilizado". Mas ele era um homem do início do século XIX, de uma sociedade industrial. O homem contemporâneo, desta ainda incipiente sociedade digital (logo veremos), não exatamente lê jornais, mas absorve informações de uma miríade de formas. As pessoas discutem pouco a razão mesma das coisas, mas sim repetem informações e dados como forma de substituir o entendimento do mundo. O suporte da informação ligeira do dia-a-dia não será o papel por muito mais tempo, mas isto não é um problema. São mesmo bons temas para discussão, mas a meu juízo acho que estas discussões devem ser conceituais, abstratas, não aferradas a estudos de caso do mundo real, sempre dominado pela política, pela economia, pela espetacularização da cultura. Acho engraçado algumas pessoas defenderem, por exemplo, a obrigação do diploma de jornalismo para o exercício da escrita (que no limite me obrigaria a contratar um jornalista para manter um blog como este) e, ao mesmo tempo, defenderem o papel dos blogs e das redes sociais para a democracia. Cebrián nos lembra que a independência do jornalismo é mesmo uma mitologia, nada mais. Em um mundo onde a informação é construída por muitos, nem todos que escrevem, que opinam, serão jornalistas (mas deve ser difícil para um jornalista aceitar isto, como foi para um artesão aceitar uma máquina de tecer, duzentos anos atrás). O título do livro é uma piada espanhola, que talvez funcione no Brasil, mas com os sinais trocados: "Não digam a minha mãe que sou jornalista, prefiro que ela continue pensando que toco piano em um bordel." É curioso como isto é o oposto do papel glamurizado nas escolas de jornalismo. Grande sujeito este Cebrián. [início 04/06/2010 - fim 17/06/2010]
"O pianista no bordel", Juan Luis Cebrián, tradução de Eliana Aguiar, editora Objetiva, 1a. edição (2009), brochura 14x21 cm, 166 págs. ISBN: 978-85-390-0045-6

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