quarta-feira, 25 de março de 2015

a balada de adam henry

Já li um bocado de livros de Ian McEwan (os registros podem ser encontrados aqui). Me parece que esse último que li, "A balada de Adam Henry" é de longe o menos interessante deles. Em algumas passagens pensei estar lendo uma versão moderna de "O pequeno príncipe" e noutras uma vulgarização - quase um plágio - daquele conto fascinante de Joyce incluído no Dublinenses: "The dead". Vamos a ver. O livro é bem escrito, claro, tem passagens realmente boas e apresenta um dilema moral interessante, mas no final tudo parece artificial demais, esquemático demais, aborrecido demais, envelhecido demais. O tema geral do livro é realmente contemporâneo e importante, já que se trata de uma discussão sobre as fronteiras de atuação da ciência e da força do estado (das leis), em contraposição ao pensamento mágico (ou outras formas de conhecimento, digamos assim) e o direito a privacidade e/ou crença de qualquer indivíduo. Enfim, na trama do livro a Fiona Maye, uma atarefada e eficiente juíza de uma alta corte do sistema judiciário inglês, cabe o papel de interpretar a lei no caso de um jovem não emancipado que precisa forçosamente receber uma transfusão de sangue e cujos pais se recusam a autorizar tal procedimento por conta de suas convicções religiosas. A juíza decide pela autorização (e obviamente salva a vida do rapaz) mas num processo clássico de transferência o rapaz cobra da juíza um relacionamento contínuo, uma troca, como se ela fosse a partir daquela decisão responsável para sempre por seu renascimento. O livro inclui várias passagens onde diferentes processos jurídicos e demandas são decididas pela juíza (o código de leis inglês segue um procedimento bastante diferente do brasileiro, portanto soa estranho à nossa experiência o ritmo e a sequência lógica das decisões da juíza). Em paralelo às muitas questões jurídicas que a protagonista da história precisa resolver (sobretudo a principal, que dá estrutura ao livro) o leitor é apresentado as dificuldades da protagonista para manter um relacionamento afetivo, continuar com sua paixão pela música e planejar adequadamente seu futuro. Acho que James Joyce consegue apresentar em "The Dead" o mesmo dilema experimentado por Fiona Maye com mais força e sutileza que Ian Macwen alcançou fazer, mas claro, trata-se de uma covardia minha esse tipo de associação. Vamos em frente. É tempo.
[início: 09/03/2015 - fim: 11/02/2015]
"A balada de Adam Henry", Ian McEwan, tradução de Jorio Dauster, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras), 1a. edição (2014), brochura 14x21 cm., 196 págs., ISBN: 978-85-359-2513-5 [edição original: The Children Act (New York: Nan A. Talese (Knopf Doubleday / Random House Group)

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