quarta-feira, 1 de agosto de 2018

eva

"Eva" é o segundo volume de uma série dedicada a guerra civil espanhola. Arturo Pérez-Reverte fala panoramicamente dos anos 1930, os anos espanhóis de ascensão do franquismo. Essa série foi iniciada com o bom "Falcó", que já registrei aqui. Os sucessos de "Eva" correspondem ao oitavo mês da guerra civil, logo após a sangrenta Batalha de Jarama, no início de 1937. Mas a disputa narrada no livro não se dá em território espanhol, mas sim num enclave neutro, na cidade de Tánger, no Marrocos, sempre tão misteriosa, exótica, cara aos filmes em preto e branco que tinham a segunda grande guerra como tema. Falcó é enviado para Tánger, que naquela época tinha um estatuto especial, sendo administrada de forma conjunta por belgas, espanhóis, italianos, americanos, franceses, holandeses, ingleses, russos e portugueses (ou seja, erra uma terra de todos e de ninguém). Falcó precisa administrar uma questão delicada: impedir que um navio que leva um carregamento de ouro, originalmente parte do patrimônio espanhol que foi enviado para ser eufemisticamente guardado na União Soviética, aliada dos republicanos (que é o grupo que combate as forças de Franco na guerra civil). Os falangistas (apoiadores de Franco) obviamente não querem que o dinheiro cai nas mãos dos russos. Falcó reencontra sua Nêmesis, Eva, a espiã russa que atuava em território espanhol e que ele mesmo havia salvo das mãos dos falangistas, a contragosto de seu chefe direto, o Almirante. Como em todo bom folhetim, os sucessos se sucedem em ritmo acelerado. A narrativa segue a receita de sucesso de livros de aventura  e espionagem: um prólogo à la 007 (uma perseguição pelas ruas de Lisboa, uma morte violenta, a descoberta de uma pista, os planos de intervenção, as ordens que devem ser cumpridas); uma transição sóbria onde se descreve todo o excêntrico cenário e os personagens que serão coadjuvantes na trama, sobretudo dois capitães de navio e suas tripulações; e por fim o crescendo de diálogos e  sucessos que levarão o livro a seu desfecho. Não se pode esperar nada muito cerebral em livros deste tipo, trata-se de entretenimento ligeiro, mas Pérez-Reverte domina esta técnica como ninguém, seus livros garantem diversão pura (lê-se esse livro em um final de semana vagabundo, ao sol, caso o sujeito queira). Sabemos que nunca há só inocentes e vilões no mundo, só os muito ingênuos acreditam nos bons motivos e sobretudo nos métodos de qualquer tipo de revolução. Livro estival, alegre, leve, mas que leva o leitor a pensar (já me contradigo). Afinal qualquer pessoa curiosa sobre a guerra civil espanhola ganha algo com ele. Claro, Pérez-Reverte oferece também ao leitor mais exigente um pouco de verossimilhança, precisão histórica, alguma digressão sobre a clivagem radical experimentada na sociedade espanhola daquela época, dividida entre duas utopias/distopias inconciliáveis e terríveis. Os diálogos são repletos de ironia. Eva e Falcó voltam a ficar em lados opostos no jogo de espionagem, mas têm lá seu jeito de se atraírem e se respeitarem. Certamente haverá um terceiro volume nesta série, mas eu preferiria mesmo é que Pérez-Reverte lançasse o oitavo volume da série dedicada as aventuras do Capitão Alatriste. Isso sim. E vamos em frente. Vale! 
Registro #1298 (romance #343) 
[início: 11/03/2018 - fim: 13/03/2018]
"Eva", Arturo Pérez-Reverte, Barcelona: Alfaguara / Penguin Random House Grupo Editorial, 1a. edição (2017), capa-dura 16x24,5 cm., 394 págs., ISBN: 978-84-204-1957-8

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