Lourdes, já faz tempo, virou uma leitora disciplinada, que aceita e dá sugestões para os amigos. Vi este "a menina que roubava livros" com ela e pedi emprestado. Ao terminá-lo fiquei um tempo a pensar sobre o tempo que já fazia desde minhas últimas incursões nos temas espinhosos que envolvem a segunda grande guerra, a morte de inteligentes e tolos, fortes e fracos, ricos e pobre, bem como a morte de ciganos, russos, judeus, negros, deficientes, azarados simplesmente ou apenas os diferentes de todas as outras classes, sempre em grande escala. O livro de Markus Zusak, um australiano descendente de alemães, foca sua descrição da guerra na experiência vívida de uma menina de pouco mais de dez anos, Liesel Meminger, em uma pequena cidade do sul da Alemanha. Os crescentes desastres e horrores da guerra e o contato da pequena menina com os livros são marcadamente contrastantes. Cada um de nós normalmente esquece estes anos mágicos em que somos apresentados aos livros e que aos poucos vamos aprendendo a amá-los. Não é o caso dela, pois todas suas experiências estéticas são marcadas pela brutalidade da guerra de uma forma muito particular para serem simplesmente esquecidas. Repleto de ironias e nem um pouco auto-indulgente o livro faz também algumas experiências literárias, incluindo verbetes de dicionário para explicar o desenvolvimento quase embrionário da linguagem e do vocabulário da pequena leitora e também incluindo uma narradora eficientemente onisciente: a própria morte. Nos anos oitenta eu me lembro repetindo uma piada do Woody Allen onde ele dizia ter como única curiosidade em relação a morte sabê-la boa de cama ou não. Hoje sei que a morte é ainda mais cruel que a mais indiferente das mulheres sabe ser, portanto não haverá este tempo para uma última cantada às margens do Estige, do Aqueronte, do Lete e do Cócito. Mas voltemos ao livro. Apesar do carimbo indelével de best seller é mesmo um livro que se lê com um genuíno prazer. Há algo nele que me lembra aquela série de livrinhos da Natália: "Desventuras em Série", mas esta é outra história. Recomendo sem medo.
"A Menina que Roubava Livros", Markus Zusak, tradução de Vera Ribeiro, editora Intrínseca, 1a. edição (2007) ISBN: 978-85-980-7817-5
Nenhum comentário:
Postar um comentário