Tumbas. Eis um belo e bom livro para encerrar o ano. Com as festas de final de ano vou ficar atrapalhado, as meninas estão chegando de Barcelona, vou fazer mais festas e ler menos, portanto resenhas no "livros que li" só em janeiro de 2009. Claro, já li "Princesas, esquecidas e desconhecidas", belíssimo, que vou presentear a minha sobrinha Clara; já li "Cómo ser Europeos", pensando em dueña Helga; já li um livrinho sobre o Hemingway, li umas 100 páginas do "Crime e Castigo" e estou a ler um livro infanto-juvenil do Christopher Paolini, mas só em janeiro retomo a lida, pois ler é uma coisa, resenhar é outra. Este foi o ano em que descobri Cees Nooteboom e li vários livros dele. "Paraíso Perdido" é bom, mas gostei mais de "Caminhos para Santiago" e de "Dia de Finados". "Tumbas, de poetas y pensadores" é um livro feito por encomenda. Um sujeito convidou Nooteboom a registrar túmulos de escritores alemães e fazer comentários sobre a vida e a obra para um evento. O projeto cresceu e Nooteboom, que escreve livros de viagens a mais de trinta anos transformou a idéia original em uma peregrinação pelos túmulos dos escritores e escritoras (e filósofos e pensadores) com os quais ele mais tem afinidade. O resultado é um livro poderoso, onde ora temos longos trechos analíticos sobre a vida e a obra do escritor, ora temos apenas a fotografia do túmulo e um trecho de texto ou poesia onde o autor conta uma experiência com a idéia de morrer. As historias mais longas são mesmo as mais deliciosas: Bernhard, Casares, Borges, Cortázar, Dante, Goethe e Schiler, Hoffman, Antônio Machado, Mary McCarthy, Nabokov, Erza Pound, Murasaki, Nabokov, Sartre, Wittgenstein, Virgínia Wolf, Virgílio. As curtas também têm seu valor. O livro abre com uma história divertida, perto do túmulo do Machado de Assis no cemitério de São João Batista, Rio de Janeiro. "Qual é mesmo o primeiro nome de Machado de Assis pergunta o administrador do lugar?" Ninguém do grupo parece se lembrar e a lista das campas está em ordem alfabética! Curioso mesmo! Primeiro eu achei Tumbas em alemão, comprei só pelas fotografias (de Simone Sassen, mulher de Nooteboom), belíssimas, sente-se o silêncio entranhado destes lugares. Quem de nós, amantes dos livros e da literatura, não fez uma peregrinação ao túmulo ou ao local onde viveu um autor que nos agradasse. O livro chegou na semana em que soube da morte recente de meu amigo Johannes Musolf, um artista plástico alemão com quem eu me dava muito bem. Folheando o livro lembrei também daquela passagem do Proust onde o narrador reencontra o Barão de Charlus velhinho dizendo: "Hannibal de Bréauté, morto! Antoine de Mouchy, morto! Charles Swann, morto! Adalbert de Montmorency, morto! Boson de Talleyrand, morto! Sosthène de Doudeauville, morto!" Percebi logo que o texto de Nooteboom deveria ser tão poderoso quanto as imagens e acabei procurando e encontrando esta versão em espanhol. Valeu a pena. No ano que vem tem mais. Boas festas.
Tumbas: de poetas y pensadores, Cees Nooteboom, tradução de María Condor, fotografias de Simone Sassen, Ediciones Siruela, (1a. edição) 2007, capa dura 22x29, 264 págs. ISBN: 978-84-9841-115-7
Fiquei feliz de ter terminado o ano com um livro espanhol e com um livro tão bonito quanto este. "Tumbas" é mesmo uma declaração de amor de um escritor a seus pares. Este 2008 ainda foi um ano de "espanholices": continuei com as leituras de Montalbán, mas aprendi um tanto mais sobre a Espanha buscando outras vozes, como a de Rosa Montero ou outros temas, como os livros de viagem do Cees Nooteboom (de fato minha grande surpresa deste ano.) Foi um ano onde li muitos livros de mulheres (sugestão de Cristina Gómez-Polo). Na segunda metade do ano conheci Rosa Montero, Amèlie Nothomb, Inês Pedrosa e Isabel Allende. Foi de fato o ano de grandes romances (de Melville, de McEwan, de Roth, de Nothomb, de Nooteboom) e muitos livros de crônicas ou ensaios. Li menos romances policiais (quase todos do Montalbán, meu grande guru espanhol), quase nada de poesia (tolo que sou), alguma gastronomia (cozinhei muito este ano.) Claro, continuei a ler solenes bobagens (as vezes a compulsão cobra caro sua fatura.) Foram 98 livros, mais precisamente 35 romances, 26 de crônicas ou ensaios, 8 de contos, 6 romances policiais, 5 novelas, 4 cartuns e mangás, 4 de gastronomia, 4 perfis ou memórias e 4 de outros gêneros (um único de poesia, dois infanto-juvenis, duas peças de teatro e 1 catálogo de exposição belíssimo, sobre o grande sertão veredas). Vamos a ver o que se passa em 2009. Minha lista de projetos sempre aumenta. Estou devendo os grandes russos, comecei tímido neste ano, mas os russos estão chegando sim. Desvios ocorrerão, os livros têm mesmo uma alma própria, seus segredos, suas sutis conexões com eles mesmos e conosco. Estou certo que haverá surpresas no próximo ano. Vale.
Olá Aguinaldo, fiquei contente ao ver como seu blog é interessante. Parabéns! E gostei demais do que você fala desse livro do Cees Noteboom. Em sua procura, você chegou a encontrar alguma edição em inglês? Eu tenho uma dificuldade enorme em ler em espanhol. Um abraço, Isabel
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