Há três ou quatro anos Roberto Cataldo me indicou este livro, dizendo que eu deveria conhecer Javier Marías. Mas foi só em 2007 que o comprei. Foi na FNAC de Madrid em um dia estival. Cristina e eu flanávamos como se deve fazer sempre que possível, especialmente nas cidades caras a nossa alma. Ganhei dela um outro Marías (o "Todas las almas", poderoso, já resenhado aqui) e dei de presente a ela um Coetzee talvez pesado demais, mas assim é a vida e os sucessos com os amigos. Mas é incrível que eu tenha deixado para lê-lo somente agora, tanto tempo precedido por outros projetos. Paciência. Neste "Vidas escritas" Javier Marías incluiu vinte curtas biografias ou mais bem relatos biográficos de escritores fortes e seminais do século XX (Faulkner, Conrad, Joyce, Stevenson, Mann, Nabokov, Rimbaud, apenas para citar uma terça parte de uma longa lista). Os textos foram escritos originalmente para uma revista espanhola (Claves de Razón Práctica) e são mesmo objetivos, claros, bons de ler. O livro inclui também seis relatos de uma natureza diferente. Ele fala de seis mulheres que foram escritoras, mas que se tornaram mais bem arquétipos de mulheres fortes, dominantes, à frente de seu tempo. Este seis textos são um tanto irregulares. Por fim há três outros elementos curiosos: uma série de quase quarenta fotografias de escritores, brevemente comentadas; um curto ensaio à título de epílogo onde Marías descreve a profissão e o engajamento natural dos escritores à sua arte e por fim uma completa e definitiva bibliografia que pode servir de guia para qualquer efebo em busca de informações sobre os escritores apresentados no livro. Enfim, este livro é uma maravilha, um pequeno guia para entendermos um tanto sobre um bom punhado dos melhores escritores do século XX. Na sessão onde ele descreve as fotografias é difícil não se surpreender com a capacidade de invenção de Marías. Mesmo quando ele é factual e objetivo vislumbramos o poder do gênio criativo. Curiosamente Marías sempre descreve as circunstâncias, a data, o local (detalhes um tanto mórbidos) da morte de todos os escritores e escritoras retratados. Caso eu fosse um editor perdulário gostaria de criar uma versão do poderoso "Tumbas", de Cees Nooteboom, com todas aquelas fotos maravilhosas dos túmulos de escritores, acompanhando estes excelentes textos de Marías (sem desmerecer os textos de Nooteboom, claro). Excelente livro, excelente escritor. [início 05/06/2009 - fim 10/06/2009]
"Vidas Escritas", Javier Marías, ediciones Debolsillo (1a. edição) 2007, brochura 13x19, 331 págs. ISBN: 978-84-8346-287-4
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