segunda-feira, 1 de março de 2010

barroco tropical

Não gostei deste livro. Todavia gostei de uma coincidência, que só os livros sabem trazer: terminei de lê-lo exatamente um ano após Agualusa terminar de escrevê-lo, eu em um 19/02 na quente Santa Maria, ele em um 19/02 na fria Amsterdam, onde passou uma temporada como escritor-bolsista residente. Talvez por conta disto (do fato do livro ter sido em parte escrito na Holanda) eu sinta algo nele que faz-me lembrar coisas do Cees Nooteboom, um holandês que eu gosto de ler (lembrei particularmente do artifício das asas, dos anjos, da queda, utilizado por Nooteboom no "Paraíso perdido"). Bueno. Agualusa conta em "Barroco tropical" os sucessos de um triângulo amoroso. Vários personagens tem voz e contam como um sujeito (Bartolomeu, o narrador principal) se envolve aos poucos, mas intensamente, com uma cantora angolana muito famosa. Há encontros e desencontros nos passados dele, da cantora, de sua mulher, seu sogro, dos amigos em comum e principalmente desencontros com uma outra moça (ex-Miss Angola e relacionada com os poderosos do país) que num surto psicótico acreditava ser "Maria, mãe de Jesus" e pretendia seduzir Bartolomeu. Agualusa utiliza as tramas amorosas para descrever um tanto da história recente de Angola, sua independência, sua guerra civil, a ascensão de uma elite governante contraditória, patética e venal (como costuma acontecer em todos os lugares desgraçados deste mundo). Gostei da descrição das línguas de Angola e dos paralelos entre o sincretismo angolano e brasileiro, e também do trecho onde ele fala da influência das novelas brasileiras na linguagem utilizada pela população angolana. Todavia o livro tem muitas bobagens que me irritam: umas obviedades bestas de almanaque antigo (ou típicos de revistas femininas modernas) espalhadas pelo texto; um epílogo que acho desnecessário, que explica demais, que se justifica demais; uma seção de esclarecimentos onde Agualusa parece se prevenir de um eventual processo judicial, ainda mais patético que o epílogo. Preciso ler algo mais dele (pois gostei bastante do romance "As mulheres de meu pai" e do livro de contos "Manual prático de levitação"). Veremos. [início 12/02/2010 - fim 19/02/2010]
"Barroco tropical", José Eduardo Agualusa, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2009), brochura 14x21 cm, 344 págs. ISBN: 978-85-359-1569-3

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