Este é mais um dos livros que ganhei da Sibele. É uma graphic novel que ganhou o Eisner Award de 2007 e recebeu muitos elogios quando de seu lançamento. Alison Bechdel conta parte da história de sua família, descreve o relacionamento tenso e ambíguo com seu pai. Como em toda história familiar que é narrada por um dos envolvidos há algo de artificial no texto, como se um recorte da vida pudesse ser linearizado, ser compreendido plenamente em suas sutilezas, em seus matizes. Alison parece acreditar que o fato de ter contado aos pais que é lésbica tenha induzido seu pai a cometer suicídio, justo ele que nos é apresentado com um gay enrustido típico dos anos 1950/60. Associando cada uma das fases de seu relacionamento com o pai em textos literários potentes (Camus, Proust, Joyce, Wallace Stevens), Alison consegue alcançar registros muito especiais, que levam o leitor a pensar no delicado dos temas que ela aborda. Claro, o texto é mais cerebral do que usualmente são as análises das turbulencias e embates de qualquer família, em qualquer tempo. A memória não costuma ser boa conselheira quando reviramos os guardados de eventuais tragédias familiares, pois há sempre racionalizações e interpretações superpostas às verdades factuais (se é que mesmo estas sejam reais e não construções mentais). Na narrativa há algo de conto de fadas, algo de propositadamente esquemático, o que de certa forma torna mais tolerável algumas das reflexões e sínteses de uma autora que também é personagem. Talvez a arte seja mesmo uma ferramenta boa para se purgar dos aborrecimentos reais desta vida, mas apenas alguns, um reduzido e feliz pequeno bando (como já disse o bardo), tem a sorte de encontrar em algum texto passagens suficientemente poderosas para mitigar sofrimentos e dramas. Talvez Alison Bechdel tenha tido esta sorte e tenha tido a felicidade de se contentar com esta forma de reflexão sobre a vida. O traço economico e a fixação no preto e branco tornam a leitura agradável, sem sobressaltos. Bom livro afinal de contas. [início 09/09/2010 - fim 06/10/2010]
"Fun Home: uma tragicomédia em famìlia", Alison Bechdel, tradução de André Conti, editora Conrad, 1a. edição (2007), brochura 16x23 cm, 239 págs. ISBN: 978-85-7616-271-1
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