quinta-feira, 22 de novembro de 2012

epifanias

Para os cristãos epifania é a revelação divina de Jesus, a visita que ele recebeu dos três reis magos, evento comemorado no dia de reis, o seis de janeiro de cada ano. Já secularmente e/ou literariamente falando epifania é uma forma não divina de revelação, a súbita percepção de uma verdade, uma associação inusitada de idéias, um insight ou intuição sobre algo, ainda que não verbalizável. Joyce não inventou o conceito. Talvez o uso da palavra epifania para o conceito tenha sido uma escolha original dele (mas há quem diga que Ralph Waldo Emerson já o havia feito), enquanto Gerard Mankey Hopkins, William Wordsworth, além de místicos, como Hildegard of Binge e Marguerite Porete, também fizeram uso deste procedimento em suas produções poéticas. Joyce apresenta sua teoria pela primeira vez no inacabado "Stephen Hero" (em parte adaptado no romance "Retrato do artista quando jovem") numa passagem na qual descreve a conversa de uma moça com seu namorado e associa a hesitação da moça com a paralisia incorrigível da Irlanda. Joyce passou a  registrar o que ele entendia por epifanias em um caderno (e certamente utilizou parte delas no Ulysses e no Finnegans Wake). Dentre as prováveis 71 epifanias originais produzidas por Joyce descobriu-se os manuscritos de 40, que foram publicadas em livro no início dos anos 1990 [James Joyce: Poems and Shorter Writings, editors: Richard Ellmann, A. Walton Litz and John Whittier-Ferguson (Londres: Faber and Faber) 1991]. Comprei o livro com entusiasmo, mas não gostei muito do resultado. É mesmo uma pena, mas um leitor não familiarizado com a obra de James Joyce (e talvez também aquele não familiarizado com o aparato crítico sobre sua obra) pode até ter ouvido falar sobre epifanias, mas não vai entender nada sobre elas lendo esse livro. Claro, as 40 epifanias remanescentes estão ali, traduzidas e lado a lado com os originais. O livro oferece isso, óbvio, mas o eventual (e neófito) leitor dificilmente vai entender o que há nelas de belo e fundamental (ou o que há de revelador e questionador nelas). A apresentação assinada por Dirce Waltrick do Amarante, incluída nas orelhas, é boa, e ajuda um tanto ao convidar o leitor para aventurar-se com o livro, apontando para seu valor, mas o ensaio assinado pelo tradutor Piero Eyben é maçante demais, técnico e acadêmico demais, para que o leitor passe por ele antes de chegar às epifanias e tenha ainda algum ânimo. Paciência. Talvez a proposta editorial fosse esta mesmo. Apresentar as epifanias e deixar ao leitor o exercício de reconstruir o sentido de cada uma delas, forçando-o a fazer suas próprias associações. Sabe-se lá. Eu, vou em frente.
[início 16/11/2012 - fim 19/11/2012] 
"Epifanias", James Joyce, tradução de Piero Eyben, São Paulo: editora Iluminuras, 1a. edição (2012) brochura 14x21cm, 42 pág. ISBN: 978-85-7321-397-3 [edição original: James Joyce: Poems and Shorter Writings, editors: Richard Ellmann, A. Walton Litz and John Whittier-Ferguson (Londres: Faber and Faber) 1991]

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