Quem me falou com algum entusiasmo sobre esse livro foi don Titi Roth, artista plástico - e gastrônomo - dos bons (sempre escudado nas aventuras literárias e da vida pela Dèsirée, claro). Mas isso foi há muitos anos, sei lá quantos. Noutro dia, dando uma arrumada nos guardados, dei com "Um ganso em Toulouse" escondido entre outros que tratavam da boa arte da cozinha (junto com livros que tratavam das vantagens óbvias do hedonismo). O autor desse "Um ganso em Toulouse" é Mort Rosenblum, jornalista americano muito experiente, principalmente nas áreas de política, economia e conflitos armados, e que trabalhou muitos anos como correspondente estrangeiro na Europa. Radicado em Paris desde meados dos anos 1970 ele acabou conhecendo bem a França e os franceses. Em "Um ganso em Toulouse", publicado originalmente em 2000, ele conta histórias que gravitam o mundo da gastronomia, da culinária, dos vinhedos e dos restaurantes, mas no fundo todas elas têm algo de ensaios sociológicos disfarçados. Talvez eu esteja exagerando, talvez sejam apenas reflexões pretensamente sociológicas, tentativas de entender uma sociedade complexa sem muita metodologia e rigor. De qualquer forma o texto de Rosenblum é envolvente, um belo exemplo de "new journalism" aplicado, onde a narrativa jornalística se funde bem com as liberdades literárias próprias da ficção. Cada um dos 19 artigos do livro devem ter sido escritos no intervalo entre a queda do muro de Berlin (1989) e o fim do século XX. Enquanto todos os europeus parecem temer os sinais da nova ordem política e econômica (e os franceses em particular parecem temer as mudanças de sua identidade nacional com os novos rumos da União Européia) Rosenblum viaja pelo país e pergunta aos franceses "se a cozinha da França está declinando", compilando com algum humor as respostas que recebe. O viés de analista político e correspondente de guerra sempre transparece nas entrevistas. Rosenblum fala com a gente do setor primário da economia (produtores de vinhos e de queijos, criadores de animais de grande porte, peixes e aves); com grandes chefs, sócios-proprietários de restaurantes estrelados pelo guia Michelin, mas também com proprietários de modestos albergues e tabernas do interior francês, com amigos e vizinhos, gente que ele encontra nos mercados e no campo. Talvez o mundo esteja se transformando depressa demais para que livros como este sirvam como guias secundários de viagem (frente ao que acompanhamos pelos jornais hoje em dia, tudo o que Rosenblum conta parece ser mais contemporâneo do mundo do pós segunda grande guerra, da guerra fria, e não de algo vivído apenas há quinze anos). Todavia, ainda assim, é um bom livro, adequado para aqueles interessados na cultura, tradições e hábitos franceses. Acho que vou procurar outros livros desse sujeito (há mais na pilha hedonista de onde veio esse).
[início 06/01/2013 - fim 17/01/2013]
"Um ganso em Toulouse e outras aventuras culinárias na França", Mort Rosenblum, tradução de Talita M. Rodrigues, Rio de Janeiro: editora Rocco (coleção Prazeres e Sabores), 1a.
edição (2003), brochura 14x21 cm, 376 págs.
ISBN: 85-325-1515-0 [edição original: A goose in Toulouse and Other Culinary Adventures (New York: Hyperion Books) 2000]
Li esse livro e achei inicialmente um pouco confuso, mas melhorou mais para o final. É bom para entender um pouco da França e dos franceses. Vale a pena ler sim.
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