quarta-feira, 3 de abril de 2013

confissões de um jovem romancista

São quatro ensaios, originalmente produzidos em 2008 para um ciclo de palestras (Richard Elmann Lectures in Modern Literature). As três primeiras são interessantes. Em "Escrever da esquerda para a direita" Umberto Eco oferece algumas considerações sobre cinco de seus romances (O nome da rosa; O pêndulo de Foucault; A ilha do dia anterior; Baudolino; A misteriosa chama da rainha Leona), só deixando, obviamente, O cemitério de Praga, que é de 2011, de fora. Eco descreve as idéias originais que resultaram nos romances, sobre alguns truques e as restrições que o autor se impõe ao escrever, detalhando também algo sobre o pós-modernismo na literatura. Faz um bocado de comentários jocosos sobre como os leitores receberam cada um deles. Em "Autor, texto e intérpretes" ele descreve como mesmo no mundo empírico, real, um leitor ideal deve interpretar um livro ideal, escrito por um autor ideal. Enfim, fala sobre os limites das interpretações que os leitores podem fazer dos textos que lêem, bem como dos limites para o desejo dos autores de serem adequadamente compreendidos. Os curtos comentários sobre as traduções de seus textos são muito bons. Já "Alguns comentários sobre os personagens de ficção" é um tanto mais técnico que os dois primeiros, mas ainda assim mantém o interesse do leitor. Neste Eco fala sobre o processo através do qual os leitores se apropriam da realidade alternativa construída pelos escritores, um processo que envolve uma considerável cota de auto-ilusão. Utilizando seu habitual arsenal semiótico Eco fala sobre como escritores criativos alcançam emular o mundo real e personagens interessantes em seus livros, estimulando a cumplicidade dos leitores, cativando-os no processo. Se esses três ensaios valem o livro é uma questão que cada leitor deve avaliar (eu acho que sim), mas o último, "Minhas listas", é um aborrecimento só (Eco sempre consegue me irritar um tanto, inclusive nos romances, confesso). O texto é aborrecido e confuso. Eco descreve sua obsessão pela enumeração de coisas. Descreve como tal procedimento literário é largamente utilizado, desde textos mais remotos. Seguramente mais da metade do ensaio corresponde a citação de material de terceiros (autores que ele valoriza e que se utilizam desta técnica literária). Fora do contexto não há como o leitor se interessar por aquilo. Arre! Que porre. Paciência. É hora de seguir em frente. 
[início: 28/03/2013 - fim: 02/04/2013]
"Confissões de um jovem romancista", Umberto Eco, tradução de Marcelo Pen, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm, 192 págs., ISBN: 978-85-405-0286-4 [edição original: Confessions of a Young Novelist (Cambridge: Harvard University Press) 2011]

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