domingo, 1 de setembro de 2013

a educação dos cinco sentidos

Agosto foi o mês das viagens, dos reencontros com pessoas queridas, das delícias sem fim, de tempos de verdadeira e boa vagabundagem. Talvez seja por conta disto que atrasei as postagens, deixei acumular tanta cousa que li e que agora apenas a generosidade das musas me fará resgatar. Essa reedição de "A educação dos cinco sentidos" de Haroldo de Campos comecei a ler ainda em julho, assim que a recebi, mas só terminei neste último final de semana de férias. Já tive um exemplar da primeira edição, que é de 1985, mas aquele volume perdeu-se em uma viagem, ou talvez fugiu com um amigo a quem o emprestei, ou ainda resta sepultado e incógnito nos guardados de minha biblioteca, muito desorganizada, caótica mesmo, de uns tempos para cá. A reedição é da Iluminuras, nem faz-se necessário registrar que está muito caprichada. Organizada por Ivan de Campos, além dos poemas, nela temos direito a vários anexos preciosos: um CD com gravações das leituras de poemas de Goethe e de Christopher Middleton, traduzidos por Haroldo; um prefácio e um posfácio assinados por Kenneth David Jackson (um pesquisador da Yale University); o prefácio à edição espanhola (de 1990), assinado pelo poeta Andrés Sánchez Robayna; um registro biográfico-afetivo de João Ubaldo Ribeiro e uma bibliografia detalhada da obra de Haroldo.  Os poemas são muito ricos, de uma erudição que impressiona, mas que convida o leitor a entendê-la (alertando que apenas a primeira leitura nunca é suficiente). Dentre eles reencontro a "baladeta à moda toscana", que é uma jóia, um tesouro poético e vulcânico, que já cantei para tantos amigos e me confortou tantas vezes nesta vida. Nos poemas o leitor reconhece o frescor daquilo que aprendemos nas viagens, o humor que nos salva dos aborrecimentos, o sabor da troca de informações com os amigos, a riqueza que brota das artes e da ciência, a miríade de experiências que podemos alcançar se assim nos permitirmos. Nos poemas originais de Haroldo as ferramentas que ele (como bom artífice) adestrou para seu ofício de tradutor (como chamá-las?: invenções tradutórias, transcriações, reimaginações, plagiotropias) estão a serviço da criação pura, da gênese, do encantamento. Que belo livro. Este ninguém toma mais de mim.
[início: 27/07/2013 - fim: 28/08/2013]
"A educação dos cinco sentidos", Haroldo de Campos, São Paulo: editora Iluminuras, 1a. edição (2013), brochura 16x23 cm., 160 págs., ISBN: 978-85-7321-337-9 [edição original: (São Paulo: editora brasiliense) 1985]

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