Encontrei esse pequeno livro junto com ao divertido "Vida y opiniones filosóficas de un gato", de Hippolyte Taine. Ambos foram editados pela "Libros de la resistencia" e os encontrei algo escondidos na incrível La Central de Madrid, um bom lugar para gastar em livros os euros que se tem à mão. Balzac, a exemplo de Taine, usa o artifício de contar a vida e os hábitos dos gatos para digressar sobre um assunto menos prosaico e tolo, no caso, as diferenças do modo de vida entre franceses e ingleses de seu tempo. Sua protagonista, uma gata nascida em meados do século XIX, relata aventuras e amores. Balzac ironiza a moral vitoriana, o mundo de aparências daquela sociedade, seu rígido sistema de classes sociais, a hipocrisia sexual daquela época. Ele contrasta o código social de conduta pública inglês com aquele praticado na França, onde a tirania das instituições públicas aparentemente não era tão onipotente. O livro deixa entender que temas sociais importantes como feminismo, abolicionismo, liberdade sexual, combate ao trabalho infantil e descriminalização de pequenos delitos eram discutidos abertamente na França e solenemente ignorados pela elite social, econômica e política inglesa. A vocação é diferente, mas este pequeno livro lembra o bom "Eu sou um gato", de Natsume Soseki. Divertido.
[início - fim: 02/03/2014]
"Penas de amor de una gata inglesa", Honoré de Balzac, tradução de Jean Cendrars, ilustrações de J.J. Grandville, Madrid: Libros de la resistencia
(1a. edição) 2013, brochura 10,5x15 cm., 62 págs., ISBN:
978-84-15766-08-7 [edição original: Scènes de la vie privée et publique des animaux: Les animaux peints par eux-mêmes et dessinés par un autre (Paris: Pierre-Jules Hetzel) 1842]
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