Na primeira semana de todos os semestres letivos da ufesm (como sói dizer don Ronái Rocha) há uma perda generalizada de força vital na universidade: a maioria das turmas ainda não está completamente formada; os ajustes de matrículas nunca terminam; os sistemas de comunicação e telefonia colapsam; o ruído resultante das vozes que se encontram é infernal; os trotes reiteram a inutilidade da incerta educação prévia do corpo social que passa a frequentar a instituição (mas onde rapidamente encontram seus precursores abúlicos). É uma semana inútil. Simples assim. Como lenitivo aproveitei para ler um bocado e encontrei nos guardados esse "Cuando fui mortal", de Javier Marías. Foi um dos primeiros livros que li dele. Cada um dos contos é uma pequena jóia, o tempo com ele um verdadeiro descanso na loucura. Já escrevi aqui o impacto da primeira leitura desses contos, em janeiro de 2008. São doze histórias originalmente publicadas em jornais ou revistas, entre 1991 e 1995. As narrativas sempre envolvem o desdobramento de uma situação concreta que não é igualmente interpretada pelo narrador e pelos protagonistas das histórias. "Cuando fui mortal" e "No más amores", as duas histórias de fantasmas do conjunto, são boas; a mais longa das histórias, "Sangre de lanza" continua minha favorita; "Menos escrúpulos", "En el viaje de novios", "Domingo de carne" e "Prismáticos rotos" igualmente incríveis, pela linguagem, invenção e concisão. Nenhum dos demais: "El médico nocturno", "La herencia italiana", "Figuras inacabadas", "Todo mal vuelve" e "En el tiempo indeciso" é irrelevante, dispensável ou tolo. Você acaba de ler um dos contos e não se incomodaria de voltar a relê-lo, tamanho o impacto. Bueno, se um sujeito ainda precisar de incentivo para começar a ler Javier Marías reafirmo: os contos de "Cuando fui mortal" irão arrebatá-lo.
[início: 11/08/2014 - fim: 16/08/2014]
"Cuando fui mortal", Javier Marias, editorial Debolsillo (Contemporánea) Randon House Mondadori, 1a. edição (2007) brochura 13x19 cm, 168 pág., ISBN: 978-987-566-257-5 [edição original: Cuando fui mortal (Madrid: Punto de lectura) 1996]
Ai, meu santo, olha eu mirando grande para esse marías, quando outros dele me aguardam na infindável e inamovível fila. Mas tenho esperanças.
ResponderExcluircom meu abraço,
doña clara