segunda-feira, 9 de março de 2015

goodbye to all that

Comprei esse volume na incrível Dussmann, em Berlin, no início do ano passado. Lembro-me de ter lido uma tradução de  "Goodbye to All That" nos anos 1980, mas não encontrei o volume nos meus guardados. De qualquer forma comecei a ler essa bela edição da Collector's Library ainda na viagem de volta e havia já avançado um bom terço quando por alguma razão acabei perdendo-me dele num ponto qualquer das loucuras do miserável 2014 enfrentado por esse perturbado país. Na viagem de inverno deste ano, rumo a Navarra e a Dublin, levei-o comigo, retomei a leitura desde o início e o segui até o final sem muitas interrupções. Trata-se de um livro de memórias, sobretudo um registro das memórias da primeira grande guerra mundial. Robert Graves alistou-se logo no início da guerra, aos 19 anos, experimentou sua cota de desgraças, ferimentos e perdas. No livro há duas partes, a primeira, introdutória e bem curta (umas cinquenta páginas) é sobre sua história pessoal (sua educação principalmente) e a de sua família, de antecedentes irlandeses e alemães (as passagens divertidas estão todas aí). A segunda parte trata da grande guerra propriamente. Ele feriu-se gravemente pelo menos três vezes e na batalha do Somme chegou a ser dado como morto (teve até que pedir para The Times londrino a retificar a notícia de sua morte). Nenhuma guerra ou conflito armado, por menor ou mais afastado de nós que seja, tem um lado bom ou educativo, algum valor, mérito ou necessidade. As descrições de Graves são cheias de detalhes bizarros, que nada tem a ver com as versões edulcoradas - e consagradas - pelo cinema. O leitor aprende também algo sobre o sistema de classes inglês. O livro foi lançado originalmente em 1929 e tornou-se um enorme sucesso de vendas. Graves tinham pouco mais que 33 anos e termina o livro abruptamente, dizendo que os anos do pós-guerra pareciam apenas um intervalo que anteciparia outros conflitos. Essa edição que li foi corrigida por ele quase trinta anos depois, em 1957. Nela Graves pôde incluir nomes e localidades que algum tipo de segredo de guerra e/ou preocupações éticas fizeram-no omitir. Num longo posfácio incluído no livro um sujeito chamado Ned Halley afirma que Graves não é exatamente preciso em suas memórias e que ao menos dois de seus colegas militares (e também poetas como ele, Siegfried Sassoon e Edmund Blunden) registraram algo sobre a cronologia fantasiosa e digressões demasiado inventivas. De qualquer forma o impacto da leitura é impressionante. O leitor acompanha as mortes e as inúteis batalhas progressivamente se anestesiando daquele horror (como acontece mesmo no mundo real, onde a maioria das pessoas acaba desgraçadamente tornando-se bruta e acostumada com qualquer violência). Bom livro. 
[início: 18/02/2014 - fim: 03/03/2015]
"Goodbye to All That", Robert Graves, London: Collector's Library (CRW Publishing limited), 1a. edição (2013), capa-dura 10x15,5 cm., 437 págs., ISBN: 978-1-909621-05-3 [edição original: Good-bye to All That (London: Jonathan Cape) 1929]

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