domingo, 10 de maio de 2015

de dedos cruzados

Conheci o João Batista há mais de quarenta anos, certamente antes de 1975 (que foi o ano em que comecei a trabalhar e deixei de frequentar os treinamentos de atletismo que ele organizava na Vila Euclides, em São Bernardo do Campo). Fiquei sem notícias dele por anos. Noutro dia, por acaso encontrei esse livro dele (o hábito e o acaso sempre competem para serem o mais fiel dos camareiros que velam por nós). A ficha catalográfica diz que se trata de literatura infanto-juvenil, mas vou classificar "De dedos cruzados" neste meu blog como novela, uma boa e honesta novela. O narrador da história dá conta de alguns sucessos da vida de um sujeito que nasce numa pequena cidade do interior do Brasil e torna-se um respeitado professor de educação física. Esse sujeito, Givaldo, vence a poderosa inércia desses lugares, grotões perdidos deste Brasil, consegue estudar numa boa universidade, volta para sua pequena Curva do Rio e assume não apenas o cargo formal de professor, mas sim o de educador dos alunos de sua antiga escola. Trata-se de um romance moral, que ilustra através da ficção as possibilidades transformadores da educação, dos bons exemplos, dos valores perenes de uma coletividade, do trabalho solidário. A trama é movimentada (o protagonista da história quase morre logo no início do livro, a cidade experimenta uma terrível inundação, Givaldo luta para tornar sua teorias pedagógicas em ferramentas reais de efetiva mudança social). O narrador mantém o leitor curioso pelos desdobramentos dos sucessos que cada um de seus personagens experimentam. Aliás o narrador é um otimista incorrigível (como sempre foi o João Batista que conheci), mas não é nada condescendente, nem ofende a inteligência do leitor explicitando soluções mágicas ou adotando o fácil caminho do proselitismo político (cousas que se praticam com demasiada frequência nesse azarado país). Ao fim, o que o João Batista oferece é um honesto convite para a reflexão prática sobre os complexos problemas da educação brasileira. Não é pouco. Valeu João.
[início: 26/04/2015 - fim: 28/04/2015]
"De dedos cruzados", João Batista Freire, ilustrações de Dane D'Angeli, Porto Alegre: editora Mediação, 1a. edição (2014), brochura 14x21 cm., 128 págs., ISBN: 978-85-7706-101-3

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