sexta-feira, 15 de maio de 2015

del natural

"Del natural" é um poema longo de W.G. Sebald, publicado originalmente em 1988. São três os conjuntos temáticos do poema. Nos primeiros oito cantos (intitulados "Como la nieve en los Alpes") o leitor é apresentado a uma biografia poética de Matthias Grünewald von Ashaffenburg, um pintor alemão do gótico tardio ( final do século XV e início XVI) que foi contemporâneo de Albrecht Dürer e é reputado como um dos precursores do expressionismo. Assim como em seus romances Sebald começa sua narrativa num lugar não convencional (no caso o retábulo de uma igreja em Lindenhardt, na Baviera, Alemanha) e parte dali seguindo as pistas esparsas de sua obsessão por Grünewald. Mas ele não se restringe a viajar no período de tempo entre as datas de nascimento e morte do artista. Visitamos com ele museus contemporâneos; descobrimos como um biógrafo do pintor cometeu um grave erro de identificação, trocando o nome de Grünewald (que na verdade era Mathis Gothart Niethart); seguimos por cidades e paróquias que encomendam seus trabalhos; com ele fugimos de perseguições religiosas; lamentamos a morte de seu filho único e aprendiz; aprendemos que dele só sobreviveram duas dezenas de trabalhos. O segundo conjunto, de vinte e um cantos (intitulado "Y si me quedar junto al mar más remoto") é também uma biografia poética. A obsessão de Sebald se volta para o botânico e explorador alemão Georg Wilhelm Steller, que viveu na primeira metade do século XVIII. Assim como nos cantos dedicados a Grünewald Sebald narra poeticamente os sucessos da vida de Steller: seus anos de formação em Wittenberg; suas viagens para a Rússia; os anos de trabalho acadêmico com o naturalista Messerschmidt em São Petersburgo; as expedições de trabalho pela Sibéria e sua participação no mapeamento do extremo leste da Rússia, na península de Kamchatka e no Alaska, sob o comando de Vitus Bering. O clima da região é terrível, as dificuldades enfrentadas pelos exploradores enormes. Após a morte de Bering Steller e uns poucos sobreviventes permanecem por meses isolados numa ilha próxima a península antes de conseguirem retornar ao continente. Os dois conjuntos de cantos se espelham. Num é a religião, o sagrado, as coisas divinas que inspiram Grünewald. Noutro é a ciência, a curiosidade científica, o rigor metodológico e a vontade de aprender mais que estimula um Steller profano, que mesmo próximo da morte (jovem, aos 37 anos) zomba da religião ao dizer que somente a natureza, misteriosa e bela, seria responsável por seu destino). O terceiro conjunto de cantos é intitulado "La noche escura hace una incursíon". Sebald faz uma curta autobiografia: conta a história de seus antepassados (que segue até o bombardeio e destruição de Dresden, em 1943); explora o fato de Saturno e a melancolia definirem o dia de seu nascimento; tem a lembrança de um navio chinês no porto de Hamburgo; fala do passado industrial da Manchester; fala dos temas que aguçam sua curiosidade acadêmica; nos leva a Pinacoteca de Munique, onde tenta entender o significado de um quadro: "A batalha de Alexandre em Isso", de Albrecht Altdorfer. Nestes últimos sete cantos achei tudo um bocado enigmático, difícil de associar ou decifrar. Talvez eu entenda melhor numa outra tentativa. Sebald utiliza o subtítulo "poema rudimentario" para identificar seu trabalho. Suas reflexões sobre o impacto da Religião, Natureza e História sobre o homem são realmente poderosas. 
[início: 10/02/2015 - 20/04/2015]
"Del natural: poema rudimentario", W.G. Sebald, tradução de Miguel Sáenz, Barcelona: editorial Anagrama (colección Panorama de narrativas, #591), 1a. edição (2004), 14x22 cm., 109 págs., ISBN: 978-84-339-7052-6 [edição original: Nacht der Natur (Ein Elementargedicht) (Nördlingen: Greno Verlagsgesellschaft m.b.H.) 1988]

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