Nos sete contos reunidos neste pequeno volume Krishna Monteiro sabe mostrar seu domínio da linguagem e uma imaginação realmente poderosa. Numa história ele dá voz a um homem em coma ("As encruzilhadas do doutor Rosa"); noutra a um galo de rinha ("Quando dormires, cantarei"); noutra a um cão ("Um âmbito cerrado como um sonho"); noutra ainda a consciência de um suicida ("O sudário"). Nas demais o narrador é alguém mais crível, verossímil, familiar: um jovem angustiado com as memórias de seu pai ("O que não existe mais", que dá nome ao livro); um rapaz que conta o amor e as memórias compartidas de um avô (em "Monte Castelo", o mais longo dos contos do livro) ou um outro rapaz que descreve um mundo que desmorona e brota das lembranças de sua avó ("Alma em corpo atravessada"). As dúvidas de todos os narradores são metafísicas, pouco contato têm com a vida prática, com os problemas do cotidiano. De fato Krishna Monteiro escreve bem, mas os contos parecem artificiais demais, impessoais demais, exercícios estilísticos ou divertimentos de alguém que aprendeu a usar uma técnica e não sabe exatamente o que fazer com ela. Mas não são assim todos os livros de estréia? Talvez seja o caso de acompanhar o que irá oferecer no futuro esse habilidoso autor de nome improvável.
[início: 13/07/2015 - fim: 15/07/2015]
"O que não existe mais", Krishna Monteiro, São Paulo: editora Tordesilhas, 1a. edição 92015), brochura 14x19 cm., 110 págs., ISBN: 978-85-8419-027-0
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