Quem já leu ao menos um dos contos reunidos em "Pássaros na boca" sabe quanta imaginação tem a premiada escritora argentina Samanta Schweblin. "Distancia de rescate" é seu primeiro romance e foi publicado em 2014. A história é enigmática o suficiente para permitir vários planos de leitura. A mais óbvia descreve o efeito devastador do uso indiscriminado de pesticidas por grandes latifundiários (plantadores de milho e soja). Os animais e os moradores de uma comunidade do interior da argentina ficam intoxicados sem causa aparente e o poder público esconde da população os perigos de contágio e sua quase sempre fatal consequência. Há dois narradores na história. Um é Amanda, uma mulher que visita a zona rural e fica doente. Em transe, na cama de hospital ou clínica, sem entender nada do que se passa, pensa na filha pequena, Nina, que deve ter ficado aos cuidados de uma vizinha chamada Carla e de seu marido, que mora numa cidade grande e ainda não foi comunicado de sua doença. O outro é David, o filho de Carla e Omar (um criador de cavalos), que parece já estar morto e portanto conhece a natureza do envenenamento que ambos experimentam. Os dois narradores se alternam, discutem entre si. David age como um investigador, um policial que interroga um suspeito ou testemunha. Mas esse interrogatório de David parece ser evocado por Carla enquanto vela por Amanda no hospital. Amanda é aquela que digressa, perde o foco do que narra, procura na história de David uma explicação para a sua. A história é curta, Samanta poucas pistas dá ao leitor sobre o que é real ou sonhado na trama. Algo nela lembra aqueles contos macabros de Edgar Allan Poe. Ojo. Vale mesmo a pena acompanhar a produção desta moça. Vale.
[início: 19/08/2015 - fim: 26/08/2015]
"Distancia de rescate", Samanta Schweblin, Buenos Aires: Literatura Random House, 3a. edição (2015), brochura 14x23 cm., 128 págs., ISBN: 978-987-3650-44-4
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