Contar muito do que é narrado em "Só faltou o título" rouba alguma coisa dele. É um livro que se deixa ler com facilidade, um bom thriller que oferece hilários momentos para o leitor. Edmund, o protagonista, é um homem de quarenta e poucos anos, gaúcho, diplomado em escrita criativa, porém escritor fracassado; inepto para quase tudo na vida, mas que alcança ser um assassino eficaz. É autoindulgente e caricato o tempo todo. Ele conta os sucessos de sua vida, prisão e julgamento. O ritmo é frenético, um truque para não deixar o leitor se cansar deste protagonista com quem não suportaríamos conviver no mundo real (nem tampouco no mundo mágico das letras). Edmundo é o rei dos clichês, das platitudes, dos lugares comuns, dos epítetos verborrágicos, frasista intoxicado pela própria voz, contador de histórias de ninar bêbados. No jogo proposto por Pujol seu personagem flerta com a realidade, busca tornar sua patética vida em material digno para um romance definitivo, campeão de vendas, admirado pela crítica; mas passa o tempo todo espalhando pistas falsas sobre si, sua vítima, seu livro ainda não escrito, lentamente se dissociando, fugindo das mãos do narrador (ou talvez sendo abandonado por ele, numa brincadeira metaliterária). A Porto Alegre que brota das páginas do livro é uma cidade culturalmente paralisada, narcisista, uma cidade aprisionada em estereótipos. O romance é uma longa descida aos infernos da mente do protagonista, guiado por um Nietzsche de almanaque (o narrador da história afinal, o litero-gaudério criador do romance). Dá para se divertir um bocado com esse livro. Vale.
[início: 11/04/2016 - fim: 13/04/2016]
"Só faltou o título", Reginaldo Pujol Filho, Rio de Janeiro: Editora Record, 1a. edição (2015), brochura 15,5x23 cm., 320 págs., ISBN: 978-85-01-10566-0
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