quarta-feira, 29 de novembro de 2017

a coleção privada de acácio nobre

"A coleção privada de Acácio Nobre" nasceu como peça de teatro, encenada em Lisboa, em 2010 (um trecho da peça pode ser visto aqui: clica!). Patrícia Portela, cenógrafa de formação, assinava sua criação e direção. Recentemente, a exemplo do que fez com outras peças suas, ela transformou aquele roteiro em um romance, publicado, quase simultaneamente, pela lisboeta Caminho, em 2016, e pela porto-alegrense Dublinense, em 2017. Cabe registrar o bom trabalho que nos últimos anos a Dublinense tem feito ao dedicar-se pela publicação de outros dois autores portugueses: José Luis Peixoto e Gonçalo Tavares. Como bem registra Reginaldo Pujol Filho nas orelhas do livro trata-se de um jogo, em que autora brinca com a ideia de ter achado um baú repleto de guardados de um sujeito excêntrico, supostamente multitalentoso, uma espécie de gênio da raça português hoje completamente esquecido, nascido em Lisboa na segunda metade do século XIX e que teria vivido mais de cem anos. Esse tipo de jogo criativo lembrou-me algo dos livros de Enrique Vila-Matas, sobretudo os mais antigos e experimentais, como "Historia abrevida de la literatura portátil", "París no se acaba nunca", "Una casa para siempre", por exemplo. A criação de Patrícia Portela elenca parte dos objetos encontrados no baú, transcreve algumas cartas, reproduz fotografias de objetos, desenhos, esquemas de quebra-cabeças. O romance reproduz também a transcrição de algumas entrevistas que a narradora/autora teria feito com uma musa inspiradora de Acácio, uma mulher chamada Alma. A proposta é curiosa. A ideia de que tudo o que um autor diga que seja verdade é absolutamente verdadeiro entre capa e contracapa de um livro, certamente válida. Entretanto o resultado me parece aquém desta ambição. Talvez, a exemplo de um outro livro que li recentemente, "Laços", de Domenico Starnone, o efeito produzido em um teatro seja mais impactante e eficiente que aquele que se alcança por meio das palavras, num livro. Enfim, nem todo mundo precisa gostar dos mesmo jogos. Vamos em frente. Vale! 
Registro #1243 (romance #328)
[início: 08/11/2017 - fim: 10/11/2017]
"A coleção privada de Acácio Nobre", Patrícia Portela, Porto Alegre: editora Dublinense, 1a. edição (2017), brochura 13x19 cm., 224 págs., ISBN: 978-85-8318-099-9 [edição original: A colecção privada de Acácio Nobre (Lisboa: Editorial Caminho / Grupo Leya) 2016]

Um comentário:

  1. Olá Guina Medici:
    Por sua causa, enfrentei a leitura de Ulysses. Fiz a leitura sem guia e sem saber nada-quase-nada do livro, só essas coisinhas repetidas que se diz por aí, você sabe, difícil, um dia na vida de etc. Gostei, não gostando, não gostei, gostando. Que legal quando encontrei nas palavras do tradutor, Caetano Galindo, o seu nome lá, nos agradecimentos.
    Entretanto, depois da leitura, vim aqui procurar sua resenha do Ulysses e não tem. Sinto falta também de uma resenha sua para Madame Bovary e A Metamorfose. É curioso que, apesar de citar e falar muito desses três livros, você ainda não nos presenteou com uma resenha específica de cada um. Abração!

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