terça-feira, 26 de junho de 2018

nem vem

Indicado com certo entusiasmo por um amigo querido, pensei que iria me envolver mais e apreciar esse "Nem vem", de Lydia Davis, mas não foi o caso. Talvez eu pudesse dizer a ele e ao eventual leitor, de forma elíptica e confortável, que trata-se de um livro interessante, acrescentar uma ou outra ambiguidade, mas não vai ser este o caso. Paciência. As 122 curtas narrativas que forma o livro estão divididos em cinco conjuntos, mas não há diferenças notáveis entre eles. Há algo de aleatório, monótono, idiossincrático nas histórias, que são bem escritas, mas logo cansam o sujeito, como exercícios fúteis que sabemos fazer e pouco acrescentar a nosso engenho. Talvez eu entenda o porquê. Praticamente todo o material já havia sido publicado originalmente em jornais e revistas. Lidos separadamente são potentes e instigantes, mas quando enfeixados num volume deixam explícita a irregularidade no acerto de cada um. Os relatos ou narrativas, contos enfim, na falta de uma palavra melhor, envolvem o registro cáustico de cousas banais do cotidiano, o olhar irônico sobre o hábito, a rotina e as convenções sociais. O leitor encontra o registro laborioso de sonhos bastante engenhosos, sonhos dela mesma e de amigos; invenções com verniz autobiográfico; cartas formais envolvendo questões práticas, direitos privados ou reclamações públicas; espantos com o inusitado da vida; fragmentos de memórias; mini contos amalucados; sociologia selvagem; tiradas de humor; conversas roubadas; epifanias artificiais; jogos verbais; uma falsa biografia de uma meia irmã mais velha. Há também várias reconstruções de passagens das famosas cartas que Flaubert escreveu para Louise Colet, nas quais ele fala sobre a gênese de seu romance Madame Bovary. São interessantes, reconheço, mas prefiro o resultado obtido por Julian Barnes em seu "O papagaio de Flaubert", derivado do mesmo assunto e material. É muita "angústia da influência" para um livro só. Paciência velho e cansado Guina, paciência. Vamos em frente. Vale! 
Registro #1275 (contos #148) 
[início: 15/02/2018 - fim: 28/02/2018]
"Nem vem: ficções", Lydia Davis, tradução de Branca Vianna, São Paulo: Editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras),1a. edição (2017), brochura 13,5x20,5 cm., 302 págs., ISBN: 978-85-359-2962-1 [edição original: Can't and Won't (New York: Farrar, Straus and Giroux / MacMillan Publishers) 2014]


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