sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

antes não era tarde

De tempos em tempos cada cidade tem a fortuna de ter sua psique capturada com notável maestria (por sujeitos como João do Rio, Rubem Braga, Nelson Rodrigues ou Paulo Mendes Campos, no Rio de Janeiro; Luís Henrique Pellanda, em Curitiba; Humberto Werneck, em Belo Horizonte; Guilherme de Almeida, Lourenço Diaféria, Plinio Marcos, Antonio Penteado Mendonça e Matthew Shirts, em São Paulo, apenas para citar uns poucos). Aqui nos pagos do Rio Grande, nos últimos anos, tenho lido regularmente as cousas de Pedro Gonzaga. Leio ele no jornal gaúcho ZeroHora, usualmente nas quartas-feiras. É certamente meu favorito contemporâneo, dentre os cronistas sulinos. Suas cousas são exemplares no gênero, registros de um cotidiano específico (a sofisticação de quem gravita o mundo dos livros e da cultura aqui no Sul), que provocam empatia no leitor, mas não só isso. A riqueza da linguagem e o controle dos efeitos também se destacam. Há dois anos li "O livro das coisas verdadeiras", uma seleção cronológica de 53 de suas crônicas. Nesse "Antes não era tarde" Gonzaga reuniu outras 54, publicadas entre 2016 e 2019. Desta vez ele optou por uma reunião temática, que parte de registros da infância, segue pela juventude, depois por sua experiência como músico amador, seus anos de iniciação como cronista profissional e as mais recentes, que ainda ecoam notícias vagamente contemporâneas. Esta sequencia temática acompanha portanto seus anos de formação; sua constelação familiar, de amigos e professores; seu cotidiano de viagens, com os pais e depois com amigos; a experiência da leitura, influências, descoberta de autores, o amor pela palavra, o eterno aprendizado, seu auto adestramento no oficio de tradutor e escritor. As crônicas da última seção são mais experimentais, parecem exercícios com a forma, registros de espantos de um mundo que sabe ser maravilhoso, mas que pode nos brutalizar, se não nos permitirmos olhar as coisas com os olhos certos, os de quem antes é honesto consigo mesmo, não aos outros. Vale! 
Registro #1483 (crônicas e ensaios #266) 
[início 19/12/2019 - fim 03/01/2020] 
"Antes não era tarde", Pedro Gonzaga, Porto Alegre: Arquipélago Editorial (A arte da crônica, vol. 9), (1a. edição) 2019, brochura 14x21 cm., 144 págs., ISBN: 978-85-5450-033-7

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