sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

blues do fim dos tempos

Esse curto ensaio foi preparado originalmente como uma palestra na Stanford University, em 2007. McEwan parte da invenção da fotografia, que congela imagens e tempo desde meados do século XIX, para refletir exatamente sobre o fluir do tempo, sobre nossa mortalidade, sobre o porvir, o futuro, futuro de cada um de nós e de toda a humanidade. Calcado sobretudo num livro de Norman Cohn, The Pursuit of the Millennium, McEwan discute o apocalipse cristão, o milenarismo e sobre as inúmeras seitas que ao longo dos séculos apregoam a iminência do final dos tempos, da morte completa e extinção dos homo sapiens. Trata-se de um ensaio produzido por alguém imune à fé religiosa, da ideia de exista um deus que povoe os céus e nos vigie, controle ou puna. Sua palestra basicamente oferece à audiência, sugere, talvez seja o termo mais apropriado, que não há evidência em nosso passado que possa nos fazer crer em um futuro predeterminado, fixo, previamente decidido por alguma deidade e descrito em algum livro santo ou por alguma revelação mística, que indivíduos possam ter experimentado. Os homens deveriam para ele, emprestando as palavras do biólogo e entomologista americano, Edward Osborne Wilson, conhecido por seu trabalho com ecologia, evolução e sociobiologia, divorciar-se da religião, pois um homem sozinho não consegue produzir um sistema moral de valores e tampouco competir com a exuberante descrição dos apocalipses e finais do tempo engendrados por poetas e artistas visuais  vinculados a todos os grupamentos humanos que desenvolveram sistemas mitológicos sofisticados, porém simples de serem apropriados, entendidos, pelo mais limitado dos fiéis. Morrer é fácil, viver é difícil. Vamos em frente meu caro McEwan, não será desta vez que o milenarismo será esquecido pelos pobres homo sapiens deste periférico e frio planeta. Vale!
Registro #1493 (ensaio #267) 
[início 20/01/2020 - fim: 22/01/2020] 
"Blues do fim dos tempos", Ian McEwan, tradução de André Bezamat, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Biblioteca Antagonista #29), 1a. edição (2019), brochura 12x18 cm., 164 págs., ISBN: 978-85-92649-53-1 [edição original: End of The World Blues (Stanford University) 2007]

Nenhum comentário:

Postar um comentário