O eterno marido é um curto romance muito bom de se ler, uma belo livro de Dostoiévski. Trata-se de uma história perturbadora, violenta mesmo, que se deixa contar pelo autor como se fosse coisa corriqueira e fácil. Na história é narrado o reencontro de um sujeito chamado Páviel Pávlovitch Trussótzki (os nomes em russo são sempre curiosíssimos) com Aleksiéi Ivânovitch Vieltchânimov (Aleksei Ivanovitch é o nome do personagem principal de "o jogador", mas acho que não se trata do mesmo personagem). Este último havia sido amante da falecida mulher do primeiro. Enquanto o ex-amante é um jovem frívolo, fútil e indeciso o viúvo é agressivo, alcoólatra e violento. O reencontro é pleno de emoções, ódios represados, sofrimento psíquico, mas tudo é apresentado com um humor-negro que torna as situações socialmente toleráveis. Páviel faz saber Aleksiéi que sua mulher (Natália Vassílievna) havia tido uma filha (Lisa) com ele, ou seja, que ele Páviel sabia desde muito tempo da indiscrição de ambos, mas apenas agora, dez anos passados, tinha a coragem de confrontá-lo. Na verdade só teremos certeza disto no final, mas a história é perturbadora demais para que o personagem não se envolva com o viúvo e a jovem criança. A menina tem a saúde bastante frágil e, apesar dos esforços de Aleksiéi para salvá-la, acaba morrendo na casa de alguns amigos. Pouco tempo depois o viúvo aparece a Aleksiéi dizendo estar com planos para se casar com uma das filhas de ricos proprietários do campo. Em um exercício, talvez, de auto-punição, Aleksiéi acompanha o viúvo à propriedade da pretensa noiva, mas acaba por tornar o caráter pusilânime e tolo de Páviel ridiculamente visível a todos da família da pretendente. De volta a São Petersburgo Páviel ajuda Aleksiéi com um problema de saúde e ato contínuo tenta matá-lo em uma noite tensa, onde sonho e realidade se confundem. Pela manhã Páviel desaparece. Anos mais tarde Aleksiéi reencontra Páviel em um trem, casado com uma jovem do campo (talvez tão igualmente rica, quanto aquela que Aleksiéi demoveu de casar-se com Páviel). O eterno marido continua o mesmo tolo e bufão de sempre, aparentemente envolvido em um triângulo amoroso entre sua mulher e um jovem cadete, vagamente aparentado a ele. O trem com o casal parte e Aleksiéi fica na estação rumindo todo o patético desta curiosa história. O texto foi traduzido diretamente do russo por Boris Schnaiderman, que assina um bom e curto ensaio no final. Esta edição é mesmo super bem cuidada. Agora que tirei os escolhos da frente preciso afiar os dentes para enfrentar os tijolos de "os demônios", "crime e castigo" e "os irmãos karamazov". Veremos.
“O eterno marido”, Fiódor Dostoiévski, tradução de Boris Schnaiderman editora 34, 2a. edição (2003), brochura 14x21cm, 210 págs. ISBN: 978-85-7326-283-4
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