Em "A vida secreta do senhor de Musashi" encontramos duas novelas curtas de Junichiro Tanizaki, um escritor japonês que morreu em meados dos anos 1960 mas que ainda hoje é bastante popular e bastante respeitado. Na primeira novela (que dá nome ao livro) dois relatos, de dois personagens distintos, se sucedem. Ambos descrevem características biográficas e factuais de um temido senhor feudal, desde sua infância, até os anos em que já é poderoso e tem pleno domínio de sua região. Os dois relatos contam o impacto na psique deste sujeito provocado pela experiência de ver, quando jovem, como as mulheres de um castelo preparavam as cabeças cortadas dos inimigos (que em geral tinham seus narizes cortados como forma final de humilhação - preciso estudar para entender melhor isto). Quando adulto ele usa a cabeça de um de seus servos (que é um dos narradores da história) como fantoche e somente se relaciona sexualmente com sua mulher e concubinas na presença desta cabeça/fantoche. O outro narrador é uma velha empregada do senhor feudal, que no fim da vida está recolhida em um mosteiro. Para ela, mulher que vê e participa com assombro dos jogos sexuais de seu senhor, a degradação é menos inteligível ou aceitável. É uma história que se acompanha com curiosidade, que fala de um mundo de regras rígidas de comportamento. Há muita movimentação, muita ação física, mas também descrições psicológicas sofisticadas dos personagens mais importantes. Já a segunda novela, Kuzu, trata de como um escritor se prepara para escrever um romance histórico, usando como material ficcional os anos em que o Japão feudal teve dois imperadores, um oficial em Edo, a atual Tóquio, e outro escondido nas montanhas de Yoshino, uma região remota do centro do Japão. O escritor encontra com um amigo que vai a região das montanhas de Yoshino pedir a mão de uma moça em casamento. Ele ouve a história de como a mãe do amigo foi vendida pelos pais para uma casa de divertimentos (gueixas) qando era pequena e de como ela foi adotada posteriormente por uma rica família na capital. O material que o autor coleta - material que fala dos anos em que o imperador celestial viveu nas montanhas - é fragmentário, confuso, não o deixa satisfeito. Ele percebe que para reconstruir o passado não basta um conhecimento objetivo das coisas, mas sim um envolvimento particular, como aquele muito forte que ele teve com a história da família de seu amigo ou com aquele que experimenta quando descobre quem será sua futura mulher. Tanizaki parece dizer ao leitor que os livros são produzidos também apenas com a imaginação, com a invenção, não faz falta justificá-los com dados e informações objetivas. Preciso ler mais coisas deste sutil escritor. [início 28/11/2009 - fim 30/11/2009]
"A vida secreta do senhor de Musashi - duas novelas", Junichiro Tanizaki, tradução de Dirce Miyamura, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2009, borchura 14x21, 219 págs., ISBN: 978-85-359-1531-0
Eu vi esse livro na Saraiva e fiquei curiosa. Vou colocar na minha lista infinita de coisas a ler. Bom 2010 pra ti!
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