Só conseguimos ler "Harán de mí un criminal", um livro quase sempre árido, onde são abordados temas terríveis, por conta do gênio de Javier Marías. Ele sustenta o livro com sua boa prosa, seu domínio da lógica, sua erudição. Ele age como se fosse Éaco, Minos ou Radamanto, senhores infernais que perscrutam a alma dos homens. No caso de Marías ele parece averiguar com seu texto quais de nós tem fôlego e tino para acompanhar seu sofisticado raciocínio até o fim. É um livro muito bom. Javier Marías reune 96 crônicas, publicadas originalmente na revista El Semanal entre fevereiro de 2001 e dezembro de 2002. Ele incluiu também uma crônica que foi censurada por seus empregadores e que provocou sua tempestiva saída da revista (desde 2003 ele publica suas crônicas no jornal El País). Sempre antecipando temas e tendências ele defende com contundência a democracia, condena o xenofobismo, aponta iniciativas e propostas fascistas, execra publicamente os regimes totalitários. Vários textos comentam os atentados do 11 de setembro de 2001 e os desdobramentos políticos engendrados naquele dia. Nas crônicas mais bem humoradas ele desmascara com sarcasmo os farsantes, ri do amadorismo da crítica e do mal jornalismo (disto estamos fartos também no Brasil), da arte ruim e artificial, convida o leitor a acompanhá-lo em questões da linguística, do uso da língua. Mais que entretenimento facilmente digerível (mal que acomete boa parte do que é publicado por articulistas nos jornais brasileiros) ele nos mostra como a imbecilidade reinante parece contaminar todos os setores da vida, sem remissão. Ainda tenho duas séries de suas crônicas para ler. Ouro fino, que vou guardar com cuidado. [início 14/03/2011 - fim 25/03/2011]
"Harán de mí un criminal", Javier Marías, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones) , 1a. edição (2003), brochura 14x22 cm, 319 págs. ISBN: 84-204-0019-X
Fiquei curiosa!
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