sábado, 9 de abril de 2011

harán de mí un criminal

Só conseguimos ler "Harán de mí un criminal", um livro quase sempre árido, onde são abordados temas terríveis, por conta do gênio de Javier Marías. Ele sustenta o livro com sua boa prosa, seu domínio da lógica, sua erudição. Ele age como se fosse Éaco, Minos ou Radamanto, senhores infernais que perscrutam a alma dos homens. No caso de Marías ele parece averiguar com seu texto quais de nós tem fôlego e tino para acompanhar seu sofisticado raciocínio até o fim. É um livro muito bom. Javier Marías reune 96 crônicas, publicadas originalmente na revista El Semanal entre fevereiro de 2001 e dezembro de 2002. Ele incluiu também uma crônica que foi censurada por seus empregadores e que provocou sua tempestiva saída da revista (desde 2003 ele publica suas crônicas no jornal El País). Sempre antecipando temas e tendências ele defende com contundência a democracia, condena o xenofobismo, aponta iniciativas e propostas fascistas, execra publicamente os regimes totalitários. Vários textos comentam os atentados do 11 de setembro de 2001 e os desdobramentos políticos engendrados naquele dia. Nas crônicas mais bem humoradas ele desmascara com sarcasmo os farsantes, ri do amadorismo da crítica e do mal jornalismo (disto estamos fartos também no Brasil), da arte ruim e artificial, convida o leitor a acompanhá-lo em questões da linguística, do uso da língua. Mais que entretenimento facilmente digerível (mal que acomete boa parte do que é publicado por articulistas nos jornais brasileiros) ele nos mostra como a imbecilidade reinante parece contaminar todos os setores da vida, sem remissão. Ainda tenho duas séries de suas crônicas para ler. Ouro fino, que vou guardar com cuidado. [início 14/03/2011 - fim 25/03/2011]
"Harán de mí un criminal", Javier Marías, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones) , 1a. edição (2003), brochura 14x22 cm, 319 págs. ISBN: 84-204-0019-X

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