Foi Heloísa, querida amiga, quem me fez conhecer esse pequeno livro. Sylvia Loeb conta uma história potente e concisa. Ela usa no livro alguns artifícios literários: trechos de jornais e revistas, um poema de Mário de Sá Carneiro, uma ilustração curiosa, de uma tamareira milenar. Esses artifícios enfatizam sobretudo a banalidade e preponderância do mal, a natureza potencialmente cruel e vingativa de todos os homens (na verdade todos os personagens do livro são cruéis e vingativos, amargurados e duros, com eles mesmo e com os outros). Diferentemente do herói grego, o glorioso domador de cavalos, filho de Príamo, defensor valoroso das muralhas de Tróia, o Heitor personagem de Sylvia Loeb é mau pai, mau marido, mau chefe, mau filho, mau amigo. Felizmente o livro é curto. Em um livro longo um protagonista como o Heitor que a autora nos apresenta tornaria nossos dias de leitura insuportáveis. As vozes da narração são multiplicadas, um artificio que ajuda a
tolerar o convívio que o leitor experimenta com personagens tão
medonhos, doentes, sofridos. Claro, há uma truque ingênuo no livro,
aquele em que todos os personagens fazem seu relato do que viveram e
todos acabem aceitando de alguma forma sua cota de azares e sorte, como se fosse possivel que na
vida todos pudéssemos simultaneamente nos conformar com os destinos que
trilhamos (acredito que é sempre uma minoria - que se medica, se ilustra ou, simplesmente, que tem sorte - alcança algum descanso perene na loucura dessa vida). Vou procurar outros livros dela, pois passei poucas horas a ler "Heitor", mas continuo com algo dele comigo. Não é pouco.
[início: 18/10/2012 - fim: 19/10/2012]
"Heitor", Sylvia Loeb,
São Paulo: editora Terceiro Nome, 1a.
edição (2012), brochura 14x21 cm, 102 págs.
ISBN: 978-85-7816-089-0
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