terça-feira, 12 de julho de 2016

el quijote de wellesley

Neste 2016 celebra-se os 400 anos da morte de Cervantes (o 400cervantes.es é um dos bons sites dedicado as comemorações que seguem ao longo do ano). A Alfaguara participou dos festejos com a publicação de um pequeno - e inédito - caderno de notas utilizado por Javier Marías num curso sobre o Quijote que ele ministrou no Wellesley College, no outono de 1984. Quem conhece a biografia de Marías sabe que ele morou em Wellesley quando ainda era recém nascido, pois seu pai, Julián Marías, havia conseguido uma posição temporária lá em 1951. Deve saber também que um dos autores aos quais Marías devota mais respeito, Vladimir Nabokov, também morou em Wellesley e também ministrou um curso sobre o Quijote lá (já escrevi aqui sobre isso no: "Curso sobre el Quijote"). As notas de Marías são bem mais sintéticas que aquelas de Nabokov. Correspondem apenas as anotações básicas que ele utilizava a cada dia e não a transcrição exata do material que era lido e desenvolvido nas aulas. De qualquer forma sabemos o formato do curso: as aulas começaram num 04 de setembro e terminaram num 06 de dezembro. A cada uma das vinte e seis aulas as alunas (pois o Wellesley é um colégio apenas para mulheres, cabe dizer) deveriam fazer a leitura dos capítulos indicados por ele, fazer comentários individuais e responder perguntas. A avaliação consistia em uma defesa oral sobre um tópico do livro, escolhido livremente pelas alunas, além da produção de duas monografias cujos temas foram escolhidos por Marías. Ele defende que o Quijote é o romance mais rico e complexo já escrito, talvez por oferecer uma miríade de leituras diferentes (e até contraditórias) ao longo do tempo. Mais do que a história propriamente, Marías enfatiza nas aulas os aspectos técnicos e temáticos, a sofisticada estrutura do livro, faz comentários sobre aqueles que, inseridos por Cervantes no livro (utilizando os distintos narradores), dão conta e justificam a forma dele narrar ou suas opiniões sobre a arte e a literatura. Nestes comentários Cervantes destaca as vantagens da ficção sobre a realidade, do romance sobre a história e joga com o leitor, que sabe tratar-se de invenções tudo o que está a ler, mas que é possível que as regras do ofício literário daquele autor talvez o obrigasse a fazer seus personagens defenderem ideias com as quais eventualmente não concordasse (todos estes temas são caros à Marías, que reiteradamente os explora em seus livros a ideia que mesmo a realidade deve ser inventada). Se as notas são breves (o livro mal tem cem páginas) os argumentos e defesa de seus pontos de vista são quase sempre seminais. Vale. É certo, um sujeito sempre aprende algo novo com Javier Marías.
[início: 16/06/2016 - fim: 01/07/2016]
"El Quijote de Wellesley: Notas para un curso en 1984", Javier Marías, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones / Penguin Random House Grupo Editorial), 1a. edição (2016), brochura 15x24 cm, 104 págs. ISBN: 978-84-204-2395-1

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