segunda-feira, 3 de setembro de 2018

mares do leste

O sueco Tomas Tranströmer recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 2011. Esse é o primeiro volume com poemas dele editado no Brasil. A seleção e organização é assinada por Marcia Schuback. Não se trata exatamente de uma antologia. Ela recolheu poemas de "17 poemas", primeiro livro dele publicado, em 1954; "Mares do Leste", de 1974; "Gôndola lúgubre", de 1996; "Prisão", de 2001 e "Grande enigma", de 2004. Ficaram de fora pelo menos oito outros livros, publicados entre 1958 e 1989. Àqueles cinco citados acima a tradutora acrescentou um texto inédito, de 1977, cedido pela viúva de Tranströmer e, separados, um conjunto de 64 robustos haikus retirados dos três últimos ("Gôndola funebre", "Prisão" e "Grande enigma"). De qualquer forma, metade do volume corresponde a haikus, forma poética de inspiração japonesa, na qual cinco, sete e novamente cinco sílabas formam três versos curtos. Essa constatação é óbvia,  vale sempre, para qualquer autor forte de poesia, mas especialmente aqui não se trata de material para ser lido depressa. Comecei e abandonei esse livrinho diversas vezes. Os poemas são densos, as imagens e metáforas cobram algum esforço. Curiosamente, nos meses em que fiquei com o volume à mão, assisti várias séries nórdicas na Netflix (algumas por sugestão do indefectível Renato Cohen, sempre antenado), assim sendo minha imaginação já estava povoada com a vastidão do horizonte, a paleta de cores frias, a onipresente neve, o silêncio tumular, o vertical assombro das compactas florestas de pinheiros, o céu plúmbeo repleto de aves de arribação em fuga. "Mares do Leste", que dá nome ao volume, é um poema longo, cheio de surpresas. "Preludio", recolhido de "17 poemas", também espanta pela falsa simplicidade dos achados. Os poemas de "Gôndola fúnebre" foram os que mais gostei. Tratam de viagens, pela Europa e pelo tempo. A edição é bilingüe, mas o sueco é tão impenetrável escrito quanto ouvido, não se pode alcançar saber tudo nesta babélica vida. Os haikus se defendem sozinhos. Há cousas típicas do mundo flutuante, o lago, o sapo, a árvore, o rio e o mosteiro, mas também cousas do Norte escandinavo, os fiordes, os mares de gelo, as sombras longas. Preciso em algum momento registrar os haikus do Bashô que me assombram desde janeiro, mas ainda não estou pronto, não é tempo. Em dezembro talvez. Vale!
Registro #1322 (poesia #99) 
[início: 16/05/2017 - fim: 31/08/2017]
"Mares do Leste e outros poemas", Tomas Tranströmer, tradução Marcia Sá Cavalcante Schuback, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Das Andere #2), 1a. edição (2018), brochura 10,5x15 cm., 231 págs., ISBN: 978-85-92649-32-6 [edição original:  (Stockholm/Sweden: Albert Bonniers Förlag) 2015]

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