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Quando soube, ainda em 2017, do pré-lançamento de "
Cuando los tontos mandan", preparei-me bem. Graças aos bons serviços da
Casa del Libro espanhola e da
DHL o livro saiu de Madrid no dia 15 de fevereiro à tardinha e chegou aqui, no interior do interior do Rio Grande do Sul, no dia 20 de fevereiro, fresco como pão quente, ainda com cheiro de livro novíssimo que era. Já conhecia todas as 95 crônicas de Javier Marías reunidas nele, pois as leio todos os domingos assim que são publicadas no
El Pais Semanal. As reli ainda nas férias e antes do início das aulas, em março, mas deixei para fazer esse registro só agora, ao finalizar os registros possíveis em 2018 no
Livros que eu li. Esse volume sintetiza meu ano, meu humor, meu entendimento da vida. Vivemos sim numa desgraçada época onde os tontos mandam. É insuportável. Paciência. Como não concordar com Marías? As crônicas são variadas. Sua curiosidade intelectual é vasta. As crônicas foram publicadas entre 8 de fevereiro de 2015 e 29 de janeiro de 2017. Ele fala de política espanhola e política internacional; de costumes e modismos; de Cervantes e Shakespeare; recupera fragmentos de sua biografia, louvando amigos e vergastando inimigos; fala de filmes antigos, de religião, de guerras, de terrorismo, da Europa e de linguagem, de literatura contemporânea, de questões filológicas discutidas na RAE e de sexo discutido com amigos, da vaidade e de suas obsessões literárias, seus hábitos, sua rotina e seu oficio. Poucas pessoas me parecem tão honestas intelectualmente quanto ele (como nos ensinou
Isaiah Berlin, ato que exatamente define verdadeiramente um intelectual). Poucas pessoas me parecem tão corajosas, implacáveis com a má-fé, com a mentira e a desfaçatez. Seu sarcasmo é sempre onipotente, ferino, necessário. A mediocridade o importuna, mas ele dá exemplos de como faz para blindar-se dela e da legião de escravos mentais que nela vicejam. Ele fala da tragédia que é o pensamento politicamente correto. Fala do curral mental em
que se transformaram as escolas, onde muitos professores praticam
sem pudor o que pior alguém pode fazer a um aluno: mentir, desinformar, falsear. Sempre
é implacável justamente com os indivíduos que deveriam ser exemplares e confiáveis,
mas são exatamente o contrário: filisteus acadêmicos, juízes venais,
jornalistas que nem fazem mais questão de esconder sua estupidez, políticos profissionais e seus assessores amestrados, professores universitários, maus críticos e pensadores ruins. De qualquer forma um humor sereno percorre as crônicas, um humor que desarma qualquer fascista ou canalha de plantão. É possível escolher uma como a melhor dentre elas? Não consigo. Em todas encontra-se reflexões de alguém que sempre respeita seus leitores, convida-os a raciocinar, a pensar com lógica e independência, a devotar nosso bem mais valioso, que é o tempo, em ações que promovam a liberdade, a
democracia, a correção, a verdade, valores
morais e a boa educação, a vida bem vivida. Recomendo
sempre a leitura de qualquer um de seus conjuntos de crônicas: Mano de sombra, Seré amado cuando falte, A veces un caballero, Harán de mí un criminal, El oficio de oír llover, Demasiada nieve alrededor, Ni se les ocurra disparar, Tiempos ridículos e Juro no decir nunca la verdad. Em todos encontramos aulas exemplares da história recente da Espanha e de como opera um intelectual notável em todos os sentidos. Bom divertimento. Evoé Marías, evoé!
Vale!
Registro #1354 (crônicas e ensaios #240)
[início: 20/02/2018 - fim: 04/03/2018]
"Cuando los tontos mandam", Javier Marías, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones / Penguin Random House Grupo Editorial), 1a.
edição (2018), brochura 15x24 cm, 301 págs. ISBN: 978-84-204-3231-1
Passei a ler as crônicas,mas nem sempre regularmente, do Javier, a partir das tuas postagens. Escritores com a autonomia de consciência como ele são indispensáveis. Dilan Camargo.
ResponderExcluirQue alegria Dilan, saber que você está acompanhando o Marías. Aprendemos um bocado com ele. Boas festas para ti e teu pessoal. Tudo de bom.
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