Este será o último livro que vou resenhar este ano. Quem fez propaganda dele foi don Ronai Rocha. Ao cabo do tempo curto que levamos para ler o livro, pequeno afinal, menos de oitenta páginas, percebemos que não é trivial o que aprendemos. É gratificante notar que estamos com um material bruto onde há algo valioso. Reli várias passagens. Refleti uns dias. Conversei com amigos sobre o tema (Luis Grassi e eu estamos a tentar convencer don Ronai para uma explicação sobre este texto, mas esta é outra história). David Mamet utiliza a estrutura clássica de divisão de uma peça teatral, três atos, três momentos (a saber: definição do problema, complicação do problema, resolução do problema) para analisar aspectos da vida em sociedade. Não que ele exemplifique ou demonstre o tempo todas suas hipóteses de trabalho como em uma tese, factualmente comprovando suas informações. Quase ao contrário disto ele apenas vagamente ancora a estrutura formal das peças nas situações arquetípicas de nosso tempo, de como dramatizamos individualmente e coletivamente nossas vidas. São os aspectos políticos, comunitários e sociais que lhe interessam. Ele tenta delimitar o que é apenas informação do que é reflexão consciente, o que é um bom drama/filme/livro do que é uma total perda de tempo e sentido. É um livro de dramaturgia, um livro técnico de dramaturgia, onde se discute como se pode contar uma história, mas que serve também para qualquer leitor refletir sobre suas posições frente à vida. Afinal, nada como um teatrinho, um drama, para nos entendermos um tanto mais, mesmo sendo os maus atores que somos. [início 01/12/2009 - fim 03/12/2009]
"Três usos da faca", David Mamet, tradução de Paulo Reis, editora Civilização Brasileira (1a. edição) 2001, brochura 13,5x21, 81 págs., ISBN: 978-85-200-0575-6
-------------------------------------------------------------------Balanço final [31.12.2009]
Este foi um ano de desvios, para o bem e para o mal. Não li muita coisa que tinha planejado. Li muita coisa boa e ruim que caiu-me às mãos por acaso. Li muita coisa em espanhol neste ano, acho que um quinto do total dos livros lidos. Li muitos Javier Marías e também muitos Cees Nooteboom, eles dois marcaram este ano, aprendi a gostar do ritmo - tão distinto - deles dois. Li os últimos Montalbán ficcionais do meu balaio de achados e guardados. Rencontrei coisas poderosas de Le Clézio, Philip Roth, Coetzee e Amèlie Nothomb. Li vários livros infanto-juvenis, alguns por conta de presentes que ia dar, outros de caso pensado mesmo. Gostei da experiência. Li vários romances japoneses. Li mais contos e menos ensaios neste ano. Li muito mais poesias do que no ano passado. Achei muitas coisas boas em sebos , tanto pela internet quanto ao vivo, em Porto Alegre, em São Paulo e também nos sebos espanhóis, de Madrid e Barcelona. Li livros editados por amigos, que sempre são difíceis de classificar, mas alguns eram realmente bons. Espero não ter sido nem pernóstico nem tímido nas resenhas. Criei marcadores/tags novos. Talvez eu junte todos eles em algo mais geral no ano que vem. Veremos. Foram 134 livros, mais precisamente 46 romances, 23 de crônicas ou ensaios, 11 de contos, 10 infanto-juvenis, 9 de perfis ou memórias, 8 de poesias, 6 novelas, além de 21 de outros gêneros (4 de fotografias, 3 cartuns ou mangás, 3 de gastronomia, 2 de turismo, 2 didáticos, 2 livros de arte, 1 de aforismos, 1 de cartas, 1 dicionário, 1 vocabulário e um único romance policial). O ano que vem será um ano marcado pelo futebol e pela política, dois temas tristes. De futebol nada a declarar, a copa do mundo pouco afetará minha vida. Já da política não podemos fugir, ela afeta a tudo e a todos sem clemência. Lula e seus petistas amestrados vão mentir à beça neste ano e vão mentir para uma população majoritariamente semi-analfabeta e limitada intelectualmente - meus concidadãos brasileiros, parvo povo - sonho de consumo de todo grupo político medíocre e mal-intencionado como o que atualmente nos governa. Enfim, será um ano podre, do começo ao fim. Mas os livros estão por aí, prontos para serem lidos, portanto terei ao menos algo gratificante para fazer enquanto a canalha pasta nos capinzais da ignorância. Vamos a ver quais serão os títulos que se apresentarão para uma leitura no ano que vem. Enfim, vamos a ver o que se passará em 2010. Vale.