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sexta-feira, 8 de julho de 2016

rastros

Conheci virtualmente o Weaver há uns dois ou três anos. Tempos depois recebi dele "Seres Urbanos", uma antalogia de fanzines produzidos por ele e seus colegas no Ceará, na década de 1990 (e que ganhou o prêmio Miolo(s) de melhor livro de HQ em 2015, prêmio importante organizado pela editora Lote 42 e a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo). Desde o início dos anos 2000 ele tem se dedicado às artes visuais e tem participado de salões e mostras coletivas. Em 2011 ele iniciou um projeto de arte urbana, o RASTRO, cuja proposta permitiu a ele viajar pelo interior do Ceará e produzir grafittis e pinturas em espaços públicos e nas fachadas de casas particulares. A ideia não era apenas interferir graficamente no espaço urbano ou nas casas que conservam em sua arquitetura características típicas do sertão nordestino (principalmente o colorido vivo das fachadas, portas de madeira, marcos das janelas e platibandas - elemento arquitetônico muito antigo, gótico, cuja função é esconder telhado das edificações). Ele também  interage com a população das cidades que visita, conversa com os moradores, dá palestras em escolas e percorre as ruas das cidades distribuindo aleatoriamente obras originais de sua autoria (serigrafias ou pinturas, assinadas e numeradas, cujos temas são comuns às suas intervenções urbanas em grandes formatos). Esse esforço pela democratização da arte, que inventiva os moradores da cidade a participarem do processo criativo alcançou tão bons resultados que Weaver conseguiu patrocínio público para uma exposição individual na Caixa Cultural Fortaleza, que ficou aberta para visitação durante o outono deste 2016. Não vi a exposição, composta por aproximadamente uma centena de obras, entre painéis com grafites em grandes formatos, pinturas inéditas em tinta acrílica sobre tela, os moldes utilizados na produção, fotos e vídeos com os registros da  interação com a população nas cidades em que ele fez suas intervenções urbanas. Todavia, tive a sorte de encontrá-lo em sua definitiva Fortaleza e receber dele esse catálogo, onde estão reproduzidos boa parte do que poderia ser visto na exposição. O catálogo inclui dois textos longos, assinados por Juliana Castro e Luciana Rodrigues, nos quais são discutidos aspectos técnicos e conceituais do projeto. As imagens do catálogo contam e comprovam uma bela história. O povo cearense tem sorte de contar com um sujeito tão industrioso e talentoso. Em tempo: o projeto RASTRO continua. Ainda veremos os desdobramentos da ideia original e os novos caminhos trilhados pelo Weaver. Ojo.
[início: 10/06/2016 - fim: 05/07/2016]
"Rastros: Uma exposição de Weaver F", Weaver Lima, Fortaleza/Ceará: Caixa Cultural Fortaleza, capa-dura 16x21 cm., 184 págs., sem ISBN

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

seres urbanos

"Seres Urbanos" é uma antologia de trabalhos originalmente publicados em fanzines cearenses na década de 1990. Recentemente "Seres urbanos" ganhou o prêmio Miolo(s) de melhor HQ (o Miolo(s) é um encontro de artistas plásticos e editores independentes que acontece anualmente na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo). O grupo Seres Urbanos começou a produzir fanzines na capital cearense após dois rapazes, Weaver Lima e Marcílio, participarem de uma oficina de quadrinhos na Universidade Federal do Ceará. Posteriormente incorporaram-se outros garotos: Elvis, Lupin, Mychel, Galba e Kaos. Esse dois últimos já eram artistas plásticos mais ou menos conhecidos. O Kaos trabalhava com arte postal e "mídia xerox" desde pelo menos meados dos anos 1980. O grupo produzia fanzines para shows de música (shows do Patu Fu, Titãs, Planet Hemp e Raimundos, por exemplo), também participava de projetos experimentais de intervenção urbana e exposições improvisadas de arte alternativa. Eles chegaram a manter uma página de experimentação gráfica num jornal de grande circulação de Fortaleza e trabalhos do grupo ganharam repercussão em jornais de São Paulo e Rio de Janeiro. Enfim, trata-se mesmo de uma antologia das boas, tanto dos trabalhos feitos em conjunto pelo grupo quanto aqueles publicados individualmente por cada um deles. As influências são mais ou menos claras: revistas de histórias em quadrinhos como Métal Hurland (francesa), El víbora (espanhola), Animal (brasileira) e Fierro (argentina). Não é o tipo de livro que se deixa ler de capa a capa, mas há muito material interessante ali para ser garimpado. O livro inclui reproduções de capas dos fanzines e também uma longa entrevista com os integrantes do grupo. Muito divertido. Parabéns ao grupo. A edição em livro foi viabilizada por um edital da Secretaria Estadual da Cultura do Ceará. 
[início: 01/10/2015 - fim: 25/11/2015]
"Seres Urbanos, 1991-1998, Antologia do quadrinho underground cearence", Weaver, Marcílio, Elvis, Lupin, Kaos, Galba, Mychel, Fortaleza/Ceará: Sebo, 1a. edição (2015), brochura 20,5x30 cm., 96 págs., ISBN: 978-85-01526-13-X