Conheci virtualmente o Weaver há uns dois ou três anos. Tempos depois recebi dele "Seres Urbanos", uma antalogia de fanzines produzidos por ele e seus colegas no Ceará, na década de 1990 (e que ganhou o prêmio Miolo(s) de melhor livro de HQ em 2015, prêmio importante organizado pela editora Lote 42 e a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo). Desde o início dos anos 2000 ele tem se dedicado às artes visuais e tem participado de salões e mostras coletivas. Em 2011 ele iniciou um projeto de arte urbana, o RASTRO, cuja proposta permitiu a ele viajar pelo interior do Ceará e produzir grafittis e pinturas em espaços públicos e nas fachadas de casas particulares. A ideia não era apenas interferir graficamente no espaço urbano ou nas casas que conservam em sua arquitetura características típicas do sertão nordestino (principalmente o colorido vivo das fachadas, portas de madeira, marcos das janelas e platibandas - elemento arquitetônico muito antigo, gótico, cuja função é esconder telhado das edificações). Ele também interage com a população das cidades que visita, conversa com os moradores, dá palestras em escolas e percorre as ruas das cidades distribuindo aleatoriamente obras originais de sua autoria (serigrafias ou pinturas, assinadas e numeradas, cujos temas são comuns às suas intervenções urbanas em grandes formatos). Esse esforço pela democratização da arte, que inventiva os moradores da cidade a participarem do processo criativo alcançou tão bons resultados que Weaver conseguiu patrocínio público para uma exposição individual na Caixa Cultural Fortaleza, que ficou aberta para visitação durante o outono deste 2016. Não vi a exposição, composta por aproximadamente uma centena de obras, entre painéis com grafites em grandes formatos,
pinturas inéditas em tinta acrílica sobre tela, os moldes utilizados na produção, fotos e vídeos com os registros da interação com a população nas cidades em que ele fez suas intervenções urbanas. Todavia, tive a sorte de encontrá-lo em sua definitiva Fortaleza e receber dele esse catálogo, onde estão reproduzidos boa parte do que poderia ser visto na exposição. O catálogo inclui dois textos longos, assinados por Juliana Castro e Luciana Rodrigues, nos quais são discutidos aspectos técnicos e conceituais do projeto. As imagens do catálogo contam e comprovam uma bela história. O povo cearense tem sorte de contar com um sujeito tão industrioso e talentoso. Em tempo: o projeto RASTRO continua. Ainda veremos os desdobramentos da ideia original e os novos caminhos trilhados pelo Weaver. Ojo.
[início: 10/06/2016 - fim: 05/07/2016]
"Rastros: Uma exposição de Weaver F", Weaver Lima, Fortaleza/Ceará: Caixa Cultural Fortaleza, capa-dura 16x21 cm., 184 págs., sem ISBN