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segunda-feira, 6 de maio de 2019

wilcock

Juan Rodolfo Wilcock foi um escritor, crítico literário e tradutor argentino que radicou-se na Itália em meados dos anos 1950. Quando morava na Argentina era interlocutor de escritores do calibre de Jorge Luis Borges, Silvina Ocampo e Adolfo Bioy Casares, já na Itália frequentava círculos literários igualmente ilustres. Foi autor de quase duas dezenas de volumes, de poesia, ficção e ensaios, boa parte publicado postumamente (ele morreu em 1978). Kelvin Falcão Klein é gaúcho (acho), crítico literário, ensaísta e professor universitário. Está radicado no Rio de Janeiro, mantém um excelente blog literário, o "Um túnel no fim da luz", e publicou o bom "Conversas apócrifas com Enrique Vila-Matas", que já registrei aqui. Pois foi exatamente de suas leituras de Vila-Matas que brotou o interesse de Falcão Klein por Rodolfo Wilcock. Durante o período em que esteve envolvido em sua tese de doutoramento Falcão Klein consultou muito material publicado em jornais e revistas por Wilcock, nunca traduzido para o português. Como nem tudo relacionado a Wilcock pode ser incluído em sua tese (que pode ser consultada aqui: clicka!), ele resolveu publicar, neste pequeno volume, algo sobre seu envolvimento afetivo e intelectual com Wilcock e sua obra. São seis capítulos curtos, onde o leitor é apresentado a este invulgar autor italo-argentino, que traduziu portentos de T. S. Eliot, Willian Carlos Willians, James Joyce, Samuel Beckett e Wittgenstein; produziu uma obra que chama a atenção pela originalidade e virtuosismo; aparentemente se dedicava a "ridicularizar a razão, a tradição e seus instrumentos" e que é pouco conhecido no Brasil. Nunca li nada dele e fiquei curioso pela associação que Falcão Klein nota entre o projeto literário de Wilcock com o do artista plástico Marcel Duchamp, no interesse de ambos pela técnica de estereoscopia (algo mais que um desejo poeticamente justo de Falcão Klein é imaginar a possibilidade de Duchamp ser o pai de Wilcock!). A peregrinação de Falcão Klein à casa onde morou e morreu Wilcock, em Lubriano, que fica a pouco menos de 100 Km de Roma, dá conta de sua determinação. O registro dessas viagens sentimentais, fruto de um envolvimento profundo com a obra de um determinado autor, são sempre interessantes. Este livro faz parte de uma coleção chamada Micrograma, cuja ambição é oferecer ao público leitor obras de grande valor, de ensaio, crítica e narrativa, que dificilmente seriam publicadas por grandes corporações. De fato o resultado alcançado por Falcão Klein é notável. Não vejo a hora de conhecer melhor Wilcock. Logo veremos. Vale!
Registro #1393 (crônicas e ensaios #253)
[início: 27/03/2019 - fim: 10/04/2019]
"Wilcock: ficção e arquivo", Kelvin Falcão Klein, Rio de Janeiro: editora Papéis Selvagens, 1a. edição (2018), brochura 14x21 cm., 68 págs., ISBN: 978-85-92989-19-4

domingo, 5 de junho de 2011

conversas apócrifas com enrique vila-matas

Kelvin Falcão Klein é um jovem entusiasta da obra de Enrique Vila-Matas e tem se dedicado, já há muitos anos, a entender e interagir com esta obra. Não sei exatamente quando ele começou, mas foi antes de 2005, quando Klein esteve na sessão de lançamento da tradução de "Bartleby e companhia" e encontrou pessoalmente seu "guru literário" (vamos dizer assim, pois as relações entre efebos e precursores sempre são divertidas). Depois disto Klein teve a chance de trocar alguns e-mails com Vila-Matas e reencontrá-lo em um outro lançamento de livro, desta feita na Argentina. Em 2009 Klein defendeu, no programa de pós-graduação em letras da UFRGS, a dissertação de mestrado intitulada "Vozes compartilhadas: a poética intertextual de Enrique Vila-Matas", onde analisa o conjunto da obra publicada até então, mas dá especial atenção ao livro "O mal de Montano", publicado originalmente em 2002. Portanto, Kelvin Klein não é um neófito, mas sim um dos sujeitos no Brasil que deve conhecer mesmo a obra de Vila-Matas. Seu livro "Convesas apócrifas com Enrique Vila-Matas" funciona como um convite a leitura de seu autor favorito. Um convite agradável, pois nele não há as doses altas de teorias literárias, típicas dos trabalhos acadêmicos, nem a superficialidade das entrevistas conduzidas por jornalistas mal preparados. Na verdade este livro tem a mesma estrutura dos jogos caros à Vila-Matas, que em seus livros sempre cria uma nebulosa fronteira entre a invenção propriamente dita e a apropriação de textos alheios, ou melhor dizendo, sempre explicita a aventura intertextual de sua obra. Klein afirma que encaminhou questões a Vila-Matas durante a elaboração de sua dissertação e esta é a gênese de seu "Convesas apócrifas", mas também afirma que compilou trechos retirados de seus livros para suprir eventuais lacunas. O resultado destas duas fontes de inspiração ele transformou em um discurso direto (entrevistas que tem 92 perguntas e respostas. sim, eu contei). Em que medida paráfrases, eventuais paródias, alusões ou a tradução propriamente dita de textos originais de Vila-Matas se complementam ao factualmente perguntado e respondido por ele só Klein saberá dizer (mas a meu juízo pouca coisa não é). Isto não é exatamente um problema. É uma coisa proposital de Klein, pois na verdade ele está utilizando, na construção de seu livro, a mesma ambiguidade que encontramos nos livros de Vila-Matas. As conversas registradas/criadas no livro são muito orgânicas, bem organizadas, o que facilita a vida do leitor (ao contrário do que Vila-Matas faz, paciência). Klein dividiu seus "entrevistas" em temas: amizade, tradição e literatura, crítica, política, vanguardas e metaficção. No final ele incluiu um depoimento, o de Rita Malú, um artista plástica amiga (!?) de Vila-Matas. Este depoimento (provavelmente falso como a própria Rita Malú, traduzido por Marcos de Menezes) lembra as coisas mágicas e inventivas de Vila-Matas. Realmente divertido. Enfim, este é um livro escrito de forma ágil e a leitura é mesmo muito agradável. Eu teria incluído uma lista dos livros a título de bibliografia essencial, como o próprio Vila-Matas faz no seu 'Historia abreviada de la literatura portátil". Mas eu não sou o autor deste livro. Parabéns ao Klein por ele. Vamos em frente (tenho ainda a minha cota de Vila-Matas para ler). [início 18/05/2011 - fim 29/05/2011]
"Conversas apócrifas com Enrique Vila-Matas", Kelvin Falcão Klein, Porto Alegre: editora Modelo de Nuvem, 1a. edição (2011), brochura 14x21 cm, 120 págs. ISBN: 978-85-63057-01-3