Kelvin Falcão Klein é um jovem entusiasta da obra de Enrique Vila-Matas e tem se dedicado, já há muitos anos, a entender e interagir com esta obra. Não sei exatamente quando ele começou, mas foi antes de 2005, quando Klein esteve na sessão de lançamento da tradução de "Bartleby e companhia" e encontrou pessoalmente seu "guru literário" (vamos dizer assim, pois as relações entre efebos e precursores sempre são divertidas). Depois disto Klein teve a chance de trocar alguns e-mails com Vila-Matas e reencontrá-lo em um outro lançamento de livro, desta feita na Argentina. Em 2009 Klein defendeu, no programa de pós-graduação em letras da UFRGS, a dissertação de mestrado intitulada "Vozes compartilhadas: a poética intertextual de Enrique Vila-Matas", onde analisa o conjunto da obra publicada até então, mas dá especial atenção ao livro "O mal de Montano", publicado originalmente em 2002. Portanto, Kelvin Klein não é um neófito, mas sim um dos sujeitos no Brasil que deve conhecer mesmo a obra de Vila-Matas. Seu livro "Convesas apócrifas com Enrique Vila-Matas" funciona como um convite a leitura de seu autor favorito. Um convite agradável, pois nele não há as doses altas de teorias literárias, típicas dos trabalhos acadêmicos, nem a superficialidade das entrevistas conduzidas por jornalistas mal preparados. Na verdade este livro tem a mesma estrutura dos jogos caros à Vila-Matas, que em seus livros sempre cria uma nebulosa fronteira entre a invenção propriamente dita e a apropriação de textos alheios, ou melhor dizendo, sempre explicita a aventura intertextual de sua obra. Klein afirma que encaminhou questões a Vila-Matas durante a elaboração de sua dissertação e esta é a gênese de seu "Convesas apócrifas", mas também afirma que compilou trechos retirados de seus livros para suprir eventuais lacunas. O resultado destas duas fontes de inspiração ele transformou em um discurso direto (entrevistas que tem 92 perguntas e respostas. sim, eu contei). Em que medida paráfrases, eventuais paródias, alusões ou a tradução propriamente dita de textos originais de Vila-Matas se complementam ao factualmente perguntado e respondido por ele só Klein saberá dizer (mas a meu juízo pouca coisa não é). Isto não é exatamente um problema. É uma coisa proposital de Klein, pois na verdade ele está utilizando, na construção de seu livro, a mesma ambiguidade que encontramos nos livros de Vila-Matas. As conversas registradas/criadas no livro são muito orgânicas, bem organizadas, o que facilita a vida do leitor (ao contrário do que Vila-Matas faz, paciência). Klein dividiu seus "entrevistas" em temas: amizade, tradição e literatura, crítica, política, vanguardas e metaficção. No final ele incluiu um depoimento, o de Rita Malú, um artista plástica amiga (!?) de Vila-Matas. Este depoimento (provavelmente falso como a própria Rita Malú, traduzido por Marcos de Menezes) lembra as coisas mágicas e inventivas de Vila-Matas. Realmente divertido. Enfim, este é um livro escrito de forma ágil e a leitura é mesmo muito agradável. Eu teria incluído uma lista dos livros a título de bibliografia essencial, como o próprio Vila-Matas faz no seu 'Historia abreviada de la literatura portátil". Mas eu não sou o autor deste livro. Parabéns ao Klein por ele. Vamos em frente (tenho ainda a minha cota de Vila-Matas para ler). [início 18/05/2011 - fim 29/05/2011]
"Conversas apócrifas com Enrique Vila-Matas", Kelvin Falcão Klein, Porto Alegre: editora Modelo de Nuvem, 1a. edição (2011), brochura 14x21 cm, 120 págs. ISBN: 978-85-63057-01-3
2 comentários:
Hum, que interessante livro, vou procurar no CESMA. Aliás, de repente no site da UFRGS acho a disertação do Klein, parece bem profunda. Obrigado por comartilhar!
Abraço do estudante espanhol deslocado... a ver se ainda temos ocasção de conversar antes do Bloomsday!
Que legal, Aguinaldo! Muito obrigado pela leitura. Grande abraço.
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