quarta-feira, 14 de outubro de 2015

literatura, violência e melancolia

Nesse pequeno livro Jaime Ginzburg convida à reflexão sobre as relações entre violência e cultura. A primeira ambição é estimular estudantes e professores, sobretudo de letras e ciências humanas, que atuem ou não nos vários níveis de redes de ensino, a debaterem de forma sistemática, qualificada e coerente a violência na sociedade brasileira contemporânea. Não se trata de um texto esgotador, antes é uma série de provocações, exercícios de abordagem sobre o tema. Como um paleontólogo da alma humana ele utiliza a literatura para prospectar registros de atitudes e práticas violentas da sociedade, exemplificando, através tanto de narrativas ficcionais quanto ensaios críticos, como opera a tolerância humana à violência institucionalizada. Nos curtos capítulos em que é dividido o livro ("literatura e violência"; "morte e melancolia"; "o mal-estar da literatura"; "tempos sombrios") Jaime faz uso de diferentes ferramentas de interpretação (grosso modo, associados a cada capítulo: a teoria literária; a filosofia; a psicologia; a sociologia). Entretanto, essas complexas ferramentas de análise não contaminam o livro pois o tratamento que Jaime imprime ao texto o torna muito acessível, sem jargões, fazendo-o fácil de ler. Ao citar José de Alencar e Machado de Assis, Guimarães Rosa e Caio Fernando Abreu, Hilda Hilst e Raduan Nassar, Shakespere e Borges, bem como quando contrapõe Freud, Marx e Nietzsche à Descartes, Jaime nos lembra que a realidade do mundo e a realidade das obras literárias somente encontram similitude quando entendemos muito bem tanto o mundo quanto as obras literárias. E, se é que eu entendi bem, que no caso específico da violência apesar de nossa incompreensão sobre sua realidade ainda ser grande demais, a experiência da leitura, da literatura, nos capacita a entendê-la melhor, ou seja, através das representações literárias da violência aprendemos como nos contrapor a ela, individual e coletivamente. Conheço o Jaime e sei o quanto ele é otimista da capacidade humana de entender melhor seu mundo e transformá-lo (sempre na direção de sociedades mais justas, por suposto). Mas não posso deixar de registrar que eu, quando se trata de pensar a violência, continuo um tanto mais cínico e pessimista. Sinto-me como Frederick, aquele personagem do Woody Allen interpretado por Max von Sydow no filme "Hannah e suas irmãs", que dizia "You missed a very dull TV show on Auschwitz. More gruesome film clips, and more puzzled intellectuals declaring their mystification over the systematic murder of millions. The reason they can never answer the question "How could it possibly happen?" is that it's the wrong question. Given what people are, the question is "Why doesn't it happen more often?". Bobagem minha. O mundo certamente merece que temas complexos recebam mais olhares generosos e seminais como esse de Jaime Ginzburg. Parabéns meu caro, belo livro.
[início: 10/10/2015 - fim: 12/10/2015]
"Literatura, violência e melancolia", Jaime Ginzburg, Campinas: Editora Autores Associados (Coleção Ensaios e Letras), 1a. edição (2013) brochura 14x19 cm., 116 págs., ISBN: 978-85-7496-256-6

terça-feira, 13 de outubro de 2015

saudade

Há quase vinte anos conheci duas pessoas especiais, a Sirlei e o Ernani. Foi na sede do Instituto Estadual do Livro, em Porto Alegre, num dia em que o Donaldo Schüler falava sobre o Finnegans Wake e James Joyce (conheci um bocado de gente bacana naquele dia, mas esta é outra história). Nesse período de tempo que vai de meados dos anos 1990 até agora fizemos muitas coisas boas juntos, dividimos algumas tristezas, compartilhamos alegrias, mas também deixamos de nos encontrar como conseguíamos antes, na maioria das vezes por conta de minha agenda errática ou das trapaças do acaso. No início deste ano, por conta da virada do ano, Helga, Natália e eu ganhamos esse livro deles. O livro andou pela casa, foi lido por nós e combinamos de ir a Porto Alegre visitá-los, juntos, mas quem disse que conseguimos. Argh! Ainda há tempo, mas o ano termina rápido, os dias minguam. Veremos. "Saudade" foi produzido por um diretor, professor e dramaturgo argentino que está radicado em Portugal há muitos anos, Claudio Hochman. Ele escreveu sete contos curtos para que seu filho os lesse, um por dia, durante uma semana de retiro num acampamento de férias. A história discute o significado da palavra "Saudade", vocábulo e conceito estranho para um portenho que ensinava o filho a entender o português. A cada dia um arrogante rei que se imaginava muito culto tenta decifrar o sentido da palavra saudade (que lhe foi proposta por um diabólico Fernando Pessoa, claro). A história também fala à criança como os dias da semana são ditos em outras línguas (palavras associadas aos deuses e aos planetas, não a nossos monótonos múltiplos de "feiras"). Ao descobrir/sentir o significado de saudade o rei torna-se mais sábio e mais tolerante com aqueles que eventualmente sabem menos do que ele. Posteriormente, em 2009, os contos foram publicados em livro, numa edição bilíngue, castelhano e português. Com isso aquilo que era um segredo entre pai e filho tornou-se público. Dois anos depois uma outra editora decidiu reeditar o livro, incluindo ilustrações do português João Vaz de Carvalho. Ontem, que foi o dia das crianças, reli o livro, lembrei da Sirlei e do Ernani. Sei que vamos nos encontrar, como não, afinal já sabemos o que é sentir saudades.
[início 01/01/2015 - fim: 12/10/2015]
"Saudade: um conto para sete dias", Claudio Hochman, ilustrações de João Vaz de Carvalho, Editora Schwarcz (Companhia das Letrinhas), 1a. edição (2013), capa-dura 27x10 cm., 36 págs., ISBN: 978-85-7406-597-7 [edição original: Saudade, un cuento para siete dias (Aveiro/Portugal: Editora Teatro Aveirense) 2009; edição original com ilustrações (Gafanha da Nazaré/Portugal: Bags of Books editions) 2011]

sábado, 10 de outubro de 2015

curso sobre el quijote

Ano passado, após ter lido o seminal "Lições de literatura russa", procurei outros conjuntos de notas de aula de Vladimir Nabokov. Por sorte encontrei dele esse "Curso sobre el Quijote", pois nesse 2015 se comemora os 400 anos do lançamento da segunda parte do Quixote (uma edição comemorativa acabou de ser publicada pela Real Academia Española). Trata-se de um livro que foi preparado a partir das aulas ministradas durante o período sabático em que Nabokov passou na Harvard University, em Massachusetts, no outono/inverno de 1951/52 (Nabokov manteve uma posição permanente na Cornell University, em New York, entre 1941 e 1959). Nesta edição, preparada pelo mesmo Fredson Bowers que organizou as "Lições de literatura russa" citadas acima, estão incluídos trechos generosos do texto original de Cervantes utilizados por Nabokov para apoiar/ilustrar suas considerações e opiniões (algo em torno de 40% do total do livro). Nabokov é um professor aplicado, não utiliza manuais ou resumos temáticos, combate tanto argumentos de outros acadêmicos quanto as opiniões dos leitores comuns. Ele busca no texto original as passagens que explicam a coesão da estrutura do romance; o processo de construção dos personagens; a técnica de Cervantes de isolar grupos de personagens para desenvolver um tema específico; as interpolações incluídas no romance (como "A novela do curioso impertinente" e a história de Cardênio e Lucinda); os momentos em que o texto fica obscuro; os lances geniais e também as falhas, os defeitos do livro. Nabokov aprecia muito a força dos diálogos de Cervantes, mas lamenta suas descrições da paisagem natural. O leitor perde, claro, o encantamento que a presença e a voz de Nabokov deveria produzir nas aulas, mas pode acompanhar no texto as ironias e o bom humor dele (ri um bocado durante a leitura). O livro está estruturado em três partes. Na primeira ele apresenta suas idéias sobre o quê é um romance; fala da fortuna crítica e dos mitos literários associados ao livro; detalha os componentes estruturais do livro: fragmentos de velhos romances de cavalaria, refrãos e jogos de palavras, diálogos teatralizados, pastiches de poemas, descrições pastoris - arcádicas, trapaças e ardis com efeitos cômicos; explica como Don Quixote e Sancho Pança perdem contato com o livro que os fez nascer e vagam hoje pelo mundo, ganharam vitalidade com o tempo, tornando-se únicos; contextualiza aquilo que para ele é o mais exasperante: a naturalidade dos atos violentos e cruéis (tanto físicos quanto psicológicos) distribuídos no livro; fala do falso cronista da história (o árabe Cide Hamete Benengeli), de Dulcinéia e da Morte; apóia (talvez o certo seja dizer que brinca com a idéia de apoiar) a possibilidade da segunda parte espúria do Quixote (publicada em 1614 por um sujeito que usou o pseudônimo de Alonso Fernández de Avellaneda) ter sido escrita pelo próprio Cervantes, como forma de fazer propaganda e aumentar as vendas da verdadeira segunda parte, publicada em 1615 (sobretudo por ser, segundo ele, literariamente falando, a melhor solução para muitas questões estruturais do livro). A segunda parte é uma espécie de jogo, onde Nabokov faz um censo de todas as batalhas nas quais se envolveu don Quixote (tanto as físicas quanto as morais, ou seja, aquelas em que ele apenas argumenta e não se envolve em combates). Ele faz uma analogia com as regras de contagem de pontos do tênis (pontos, games e sets), games, matches) para chegar a um curioso 6-3, 3-6, 6-4 e 5-7, que dá um empate em número de games e sets. Todavia don Quixote perderia, pois não chegaria a jogar um quinto set, perdendo para a morte. É um tanto forçado, mas tem lá sua graça, principalmente porque Nabokov descreve detalhadamente as circunstâncias de cada uma das vitórias e derrotas. "Narración y Comentario", a terceira parte do livro é composta de resumos temáticos de cada um dos 126 capítulos (somando as duas partes do livro). Em geral ele descreve os fatos do capítulo e transcreve uma passagem que lhe pareceu interessante ou bem escrita. Segundo Fredson Bowers, na apresentação, esta terceira parte não era discutida pormenorizadamente nas aulas, apenas eventualmente utilizada por Nabokov quando a discussão sobre o livro merecia algum detalhamento ou explicação, uma espécie de complemento ou expansão daquilo que era discutido nas aulas. Está incluído num apêndice a transcrição do material que Nabokov distribuía aos alunos com trechos dos dois livros que mais influenciaram Cervantes na composição do Quixote: "Le morte d' Arthur", de Thomas Malory e "Amadís de Gaula", de Vasco Lobeira. Os manuscritos originais de Nabokov estavam distribuídos em seis cadernos, correspondentes as seis palestras (lectures) ministradas. Enfim, Nabokov defende que o Quixote não é o melhor romance já escrito mas que o gênio de Cervantes e sua excepcional intuição artística deu a seu personagem central uma vitalidade incomum, algo que apenas muito raramente um autor alcança fazer. Em tempo: O governo espanhol prepara para o ano que vem muitas festividades por conta dos 400 anos da morte de Cervantes. Talvez seja a hora de reler o Quijote, voltar à Castilla-La Mancha, cruzar uma vez mais aquelas planícies áridas, comer queijo manchego e tomar vinho barato (não, melhor tomar um bom vinho barato). Vale.
[início: 01/09/2015 - fim: 09/10/2015]
"Curso sobre el Quijote", Vladimir Nabokov, tradução de Maria Luisa Balseiro, Barcelona: Ediciones B (Zeta Bolsillo: Biblioteca Ana Maria Moix), S.A., 1a. edição (2009), brochura 12,5x20 cm., 412 págs., ISBN: 978-84-9872-309-0 [edição original: Lectures on Don Quixote (New York: Harcourt Brace Jovanovich: New York) 1983]

sábado, 3 de outubro de 2015

léxico familiar

Semanas atrás, num daqueles espasmos pretensamente importantes de nossa industria cultural, houve um breve debate sobre os limites legais (na acepção jurídica do termo) da ficção e autoficção praticada por alguns escritores brasileiros contemporâneos. Logo alguma outra tonteria entrou na cardápio das redações e das mídias sociais e não se falou mais sobre autoficção. Historicamente falando a crítica literária atribui a um escritor francês, Serge Doubrovsky, a paternidade desse estilo de escrita onde se combina elementos de ficção e de autobiografia. As classificações servem sim para propósitos didáticos mas quase sempre restringem demais os conceitos. Paciência. Por mim todo e qualquer texto inventado e produzido pelos homo sapiens sapiens (desde que rastejamos assustados para fora de uma caverna) é sempre ficção e autobiografia. Claro, há aqueles que acreditam em origens e/ou inspiração divina e/ou mágica para muitos textos, mais não precisamos ser hermeneutas praticantes para interpretar que de uma narrativa se sabe apenas dos feitos e dos desejos dos homens. Natalia Ginzburg nos adverte (sim, adverte), logo na primeira página desse seu "Léxico familiar" que os lugares, fatos e pessoas nele são reais, não há nada inventado, mas que há lacunas suficientes no livro para que ele não possa ser lido (e ela sugere que deva ser assim) como um romance canônico, sem exigir dele nada que um romance não possa oferecer. Não há datas em seu livro, mas sabemos que ela nasceu em 1916, filha caçula com quatro irmãos, e que morreu em 1991. O que está registrado no livro começa com ela ainda menina, com dez, onze anos, e segue até meados dos anos 1950, quando de seu segundo casamento. O que no livro está registrado é basicamente o modo de vida de uma família burguesa e sofisticada (cujo pai é um professor universitário de origem judaica e cuja mãe é católica). Ela conta (discretamente seria uma definição, mas a imagem que tenho é que ela escreve como quem fala sem elevar nunca o tom de voz) as formas de relacionamento entre os membros desta família e suas conexões com uma sociedade italiana que se transformava rapidamente, sobretudo por conta das duas grandes guerras do século passado, da luta contra o fascismo e das discussões sobre a viabilidade da implantação do comunismo na Itália que se segue à guerra. Qualquer um que lembre de suas histórias familiares irá identificar vividamente os personagens/parentes de Natalia Ginzburg: o pai irascível porém amoroso; a mãe discreta e sábia; os irmãos que parecem ter sido trocados na maternidade, por terem temperamento demasiadamente distinto; os amigos algo misteriosos que se fundem à rotina familiar. Irá também reconhecer aquelas histórias típicas que nunca são contadas exatamente da mesma forma; os segredos que parecem importantes e depois se sabem ridículos; as tragédias pessoais que não se pode transferir ou purgar; o ruído nas conversações (tanto o literal quanto o metafórico); a força dos livros, da educação e da cultura. Muito bom. Fiquei até com vontade de reler "As pequenas virtudes" mas não, há outros livros dela por aí. Lembrei de muitas coisas lendo "Léxico familiar". Lembrei do Elias Canetti, do Pedro da Silva Nava, do Proust, dos tempos de São Bernardo, de uns primos distantes de meu pai em Ouro Preto, das histórias que meus pais me contaram (mas, aí de mim, que já se perderam ou se fundiram a outras, muitas delas inventadas em terras distantes, embaralhadas agora em minha memória.) E por fim Natalia Ginzburg me fez lembrar de um sujeito que num dos filmes do Woody Allen dizia: "A felicidade humana não faz parte do desenho da criação, (...) somos nós apenas, com nossa capacidade de amar, que damos sentido ao universo indiferente".
[início: 14/09/2015 - fim: 28/09/2015]
"Léxico familiar", Natália Ginzburg, tradução de Homero Freitas de Andrade, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2009), capa dura 16,5x22,5 cm., 240 págs., ISBN: 978-85- 7503-879-6 [edição original: Lessico famigliare (Turim: Einaudi) 1963]

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

os óculos de paula

De Cassionei Petry li os contos reunidos em "Arranhões e outras feridas", publicado em 2012. No ano passado ele publicou "Os óculos de Paula", um romance metaficcional, ou seja, uma narrativa que explicita o processo de construção de uma obra de ficção, que é aquela que o leitor está justamente a ler. Na história mais aparente o leitor acompanha os desdobramentos do reencontro entre Paula e Fred, dois antigos namorados, ela dona de casa, ele um professor do ensino médio que mantém um blog. Ambos estão casados e têm filhos, envelheceram um tanto, mas do reencontro, que se deu através das redes sociais, surge alguma tensão e/ou curiosidade que reaviva o desejo sexual entre eles. Mas esse enredo é apenas aquilo que o narrador apresenta superficialmente. O que interessa mesmo, literariamente falando, é o processo conduzido pelo escritor - o Cassionei, afinal - que leva o leitor a decifrar o sentido real do texto, a trajetória de uma existência, de uma vida específica, como nos textos policiais clássicos. Trata-se de uma história curta, fragmentada, que se deixa ler quase de um fôlego só. A narrativa é povoada de heróis e influências literárias (o que pode ser uma invenção, um estratagema, mas que acredito serem aquelas que agradam mesmo o autor). O texto inclui reflexões ligeiras (mas que aparentam ter mais estofo filosófico do que têm de fato), sobretudo acerca da questão do suicídio e dos bloqueios literários que acometem os escritores. O resultado é interessante (o final realmente é bem planejado e salva o livro), mas acho eu que o Cassionei perde algo quando tenta tornar excessivamente realista, excessivamente verossímil, o mundo literário que criou (que é, afinal, sobre o processo criativo, a experiência de inventar uma história). Talvez fosse o caso de evitar as repetições, ser menos detalhista, não explicar ou generalizar tudo. Mas os livros devem se defender sozinhos e esse "Os óculos de Paula" não faz feio não. Sendo o entusiasta pela literatura que sei o Cassionei ser, haverá outros romances, contos e histórias dele para lermos no futuro. Enquanto isso talvez seja o caso de acompanhar a produção dele em seu bom blog, o "Cassionei lê e escreve". Vale.
[início: 05/09/2015 - fim: 06/09/2015]
"Os óculos de Paula", Cassionei N. Petry, Rio de Janeiro: Livros Ilimitados Editora (selo Autoral), 1a. edição (2014), brochura 15,5x23 cm., 134 págs., ISBN: 978-85-6646442-9

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

da física do faraó ao fóton

Conheci os Tufailes, ou seja, a Adriana e o Alberto, lá no IFUSP, nos anos 1990, quando ambos ainda eram estudantes de graduação e estavam envolvidos em projetos de iniciação científica. Hoje eles são ativos e respeitados pesquisadores nas áreas de sistemas dinâmicos, caos e outras cositas mais. Em 2013 eles lançaram esse "Da Física do Faraó ao Fóton", mas só no início deste ano tive a chance de utilizar o livro deles em uma das minhas aulas e fiquei animado em incluir um registro aqui. Eles compartilham com o leitor, com disciplina e método, uma série de atividades práticas que podem ser utilizadas tanto para fins didáticos quanto para divulgação científica ou mesmo entretenimento. Eles discutem conceitos físicos importantes e sofisticados a partir de situações simples do cotidiano, utilizando-se de balões, imãs de geladeira, papagaios/pandorgas, espelhos e velas, material de escritório e brinquedos, dentre uma miríade de outras coisas. Trata-se assim de um livro que propicia sobretudo um exercício de encantamento, de treinamento do olhar científico, de aproximação descompromissada da ciência para aqueles que são curiosos pelos fenômenos naturais porém não gostam de entrar em laboratórios. Claro, aqueles que são educadores das distintas áreas das ciências da natureza são os que mais diretamente se valerão desta proposta, pois poderão com a ajuda deste livro oferecer a seus estudantes não apenas demostrações qualitativas de fenômenos físicos, mas também propor experimentos quantitativos de física e desenvolver atividades práticas, estimulando-os ao mesmo tempo a procurar na bibliografia técnica respostas a quaisquer dúvidas. O livro tem dezenas de referências bibliográficas, afortunadamente distribuídas ao longo do texto, logo após cada tópico ou assunto, não acumuladas no final, o que sempre desestimula o leitor. Adriana e Alberto se utilizam de fotografias e ilustrações para indicar aos leitores a melhor forma de abordar cada problema e não se furtam de incluir equações e fórmulas quando elas são necessárias para explicar corretamente um fenômeno. Por fim, cabe dizer que "Da Física do Faraó ao Fóton" é um livro que resume as atividades práticas desenvolvidas por eles nos últimos anos na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e em cursos de divulgação oferecidos pelo Instituto de Ciência e Tecnologia de Fluidos Complexos (INCT-FCx), do qual ambos fazem parte. Há um curto teaser sobre o livro no YouTube e um vídeo curioso com o trabalho mais recente deles (o sol de laboratório) na edição de março de 2015 da Revista Fapesp. No final do livro eles fazem um convite aos leitores que todos aqueles que também trabalham com ciência certamente respaldam: "Descubram outras maravilhas através da ciência nos mais diversos lugares e situações, como museus, exposições, laboratórios, brinquedos, meios de comunicação, literatura e nas situações quotidianas. Boa sorte!". Parabéns meus caros, continuem com suas lasersices por aí. Vale.
[início: 12/04/2015 - 19/09/2015]
"Da Física do Faraó ao Fóton: Percepções, Experimentos e demonstrações de Física", Adriana Pedroso Biscaia Tufaile, Alberto Tufaile, São Paulo: Editora Livraria da Física, 1a. edição (2013), brochura 16x23 cm., 158 págs., ISBN: 978-85-7861-195-8