quarta-feira, 23 de abril de 2014

cardenio entre cervantes e shakespeare

O 23 de abril de cada ano é um comemorado pelo mundo por vários motivos, talvez o mais interessante pelo fato de uma "quase" coincidência: ser a data da morte, em 1616, de dois sujeitos bem conhecidos: Miguel de Cervantes e William Shakespeare (o "quase" fica por conta do inglês ter morrido sob a vigência do Calendário Juliano na Grã-Bretanha, o que gera uma diferença de 11 dias entre uma morte e a outra, ou seja, cronologicamente falando, Cervantes morreu primeiro). O 23 de abril deste ano é um tanto mais especial por tratar-se do quadrigentésimo quinquagésimo ano de nascimento de Shakespeare. "Cardenio entre Cervantes e Shakespeare" é um detalhadíssimo trabalho acadêmico sobre uma peça (perdida) de Shakespeare que (se realmente existiu e se de fato foi escrita por Shakespeare) devia ser baseada em uma história que originalmente faz parte da primeira parte do Don Quixote, ou seja, trata-se de uma peça que deve muito aos dois escritores ou, ao menos, indica que provavelmente Shakespeare inspirou-se no livro de Cervantes para a composição de uma de suas peças. Trata-se de um meticuloso trabalho de historiador, não exatamente de um literato ou dramaturgo. Há centenas de notas de rodapé, transcrição de dezenas de trabalhos, citações e textos de terceiros (transcrições que somadas devem tomar pelo menos uma terça parte do livro). Boa parte do livro dá conta de como a "A história de Cardenio" cervantina influenciou diversos autores e foi encenada e/ou adaptada centenas de vezes na Espanha, na França e na Inglaterra desde a publicação original do Don Quixote. O curioso é que se a peça Cardenio realmente existiu ela não sobreviveu fisicamente, nunca foi impressa, seu texto nunca fez (nem faz) parte do cânone shakespeariano aceito como tal pelos especialistas em sua obra. Em seu trabalho Roger Chartier demonstra: (i) que há registro de uma peça nominada Cardenio ter sido encenada pela companhia teatral londrina King's Men em 1613 (e que Shakespeare era sócio desta companhia); (ii) que um registro de 1653 de um editor londrino, Humphrey Moseley, cita explicitamente que dentre as peças de Shakespeare deve ser contabilizada uma peça escrita em colaboração com John Fletcher (que viria a ser o sucessor de Shakespeare nos negócios da companhia após a morte deste último, em 1616); (iii) que em 1727 um editor das obras de Shakespeare, Lewis Theobald, encena uma peça de sua autoria chamada "Double Falshood or the Distrest Lovers" e a publica dizendo tratar-se de uma adaptação do Cardenio original; (iv) que em 1990 Charles Hamilton, um especialista em manuscritos, publicou um artigo afirmando que a peça "The Second Mainden's Tragedy", impressa em 1611 e usualmente atribuída a Thomas Middleton era na verdade o Cardenio shakesperiano perdido. Desde então, sobretudo na última década, várias montagens de algum Cardenio (sempre atribuído a Shakespeare) têm sido produzidas, inclusive pela Royal Shakespeare Company. Roger Chartier não está propriamente preocupado se os vários textos atribuídos a Shakespeare foram falsificados, abreviados, reescritos ou não. O que ele discute basicamente no livro é a noção contemporânea de literatura; o processo moderno (pelo menos desde o final do século XVIII) de reconhecer nos autores das produções textuais uma força criadora original e independente; a existência efêmera e fortuita de qualquer obra dos homens; o fato de que cada leitor do passado leu, viu peças, lutou em guerras e viveu seguindo códigos e hábitos que não são mais os mesmos que os nossos. Há muito de instigante nesse livro. Talvez a pergunta mais curiosa de Chartier seja o porquê de uma adaptação de uma parte do Don Quixote prescindir de incluir nela justamente o personagem Don Quixote. Mas nada disso importa realmente. Felicidades para você que gosta de livros nesse dia do livro, nesse dia de festejar a literatura. Evoé.
[início: 29/07/2013 - fim: 23/04/2014]
"Cardenio entre Cervantes e Shakespeare: História de uma peça perdida", Roger Chartier, tradução de Edmir Missio (revisão técnica de Andrea Daher), Rio de Janeiro: editora Civilização Brasileira (Grupo editorial Record), 1a. edição (2012), brochura 15,5x23 cm., 294 págs., ISBN: 978-85-200-1138-6 [edição original: Cardenio entre Cervantès et Shakespeare: Histoire d'une pièce perdu (Paris: Gallimard) 2011]

terça-feira, 22 de abril de 2014

bourbon street - volume 2

"Bourbon Street" é uma graphic novel dividida originalmente em duas partes. A primeira parte resenhei aqui meses atrás. O desenvolvimento da segunda parte (Turnê de despedida) é previsível. Oscar (baterista), Daroll (baixista), Alvin (guitarrista e bandleader) e Cornelius (trompetista), o grupo de velhos jazzistas de New Orleans finalmente sai numa turnê.  O leitor fica sabendo mais detalhes da morte de Angelina, a antiga crooner da banda e amante de Cornelius (porém também disputada por Alvin) e descobre como o grupo se separou. O fantasma de Louis Armstrong continua ajudando o grupo. Seja evitando aborrecimentos após bebedeiras e brigas nas sessões de jazz pelos bares do interior da Louisiana, seja arranjando para o grupo a oportunidade de gravar um CD. A história discute algo sobre o poder de nossa imaginação ao emular (e reinventar) nosso passado. E fala também sobre a capacidade da música em nos consolar. Divertido.
[início:14/04/2014 - fim: 15/04/2014]
"Bourbon Street - Turnê de despedida", Philippe Charlot, Aléxis Chabert, Sébastien Bouet, tradução de Paola Felts Amaro, Porto Alegre: editora 8Inverso (selo graphics), 1a. edição (2014), capa-dura 21,5x28,5 cm., 48 págs., ISBN: 978-85- 62696-26-8 [edição original: Bourbon Street - Turnée d'adieux (Charnay Les Macon: Bamboo édition) 2012]

segunda-feira, 21 de abril de 2014

carnes e churrasco

Ganhei esse livro de presente de aniversário em 2013 (por coincidência um pouco antes da morte de Marcos Bassi, em março) mas só comecei mesmo a ler algo dele no aniversário deste ano (quando lembrei dos meus dias na Rua dos Franceses do velho Bixiga paulista e também da morte do Bassi). "Carnes e Churrasco" tem duas funções. Serve como biografia de Marcos Bassi, reconhecido inovador do negócio de venda de carnes em São Paulo e também é um guia sobre como preparar corretamente carnes para um churrasco. Após viver vinte anos no Rio Grande do Sul eu até cometo tentativas na nobre arte de oferecer as carnes ao fogo, mas nunca dispenso um bom manual (já resenhei ao menos um livro de gastronomia aqui que trata especificamente do assunto carne, o soberbo "Sete fogos" de Francis Mallmann, mas estou devendo resenhar aqueles que sempre uso: "O sabor do churrasco", de Carlos Gabriel e "A arte do churrasco", do legítimo gaúcho Leon Hernandes Dziekaniak, meu preferido). Mas vamos voltar a São Paulo e ao Bassi. Na primeira terça parte do livro Chico Barbosa conta rapidamente a história de Bassi, explica como ele iniciou no ramo de alimentação no Mercado Público de São Paulo (a catedral metropolitana dos sentidos) para logo depois estabelecer-se na região da Bela Vista (o Bixiga) com seu pequeno açougue (que viria a tornar-se o diferenciado Templo da Carne Marcos Bassi). Os dois terços restantes do livro são dedicados ao que realmente importa, as dicas e sugestões de Bassi sobre o instrumental necessário para a manipulação das carnes; a instalação da churrasqueira; descreve como escolher os cortes principais das carnes e os segredos de sua preparação adequada. Fartamente ilustrado, com fotografias que mostram ao leitor cada um dos passos necessários para alcançar um bom resultado, o livro pode ser apreciado também como um objeto de arte. Claro, nada substitui a experiência de enfrentar o fogo, o adestramento a que se chega após alguns fracassos, as dicas que aprendemos de churrasqueiros experientes. Mas para isso precisamos de tempo e a vocação. É tempo.
[início: 04/03/2014 - fim: 14/04/2014]
"Carnes e Churrasco: por Marcos Bassi", Chico Barbosa (pesquisa, entrevista, edição do texto), Marcos Guardabassi, São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1a. edição (2012), capa-dura, 27,5x21,5 cm., 128 págs., ISBN: 978-85-396-0279-7

domingo, 20 de abril de 2014

autorretrato de otro

Dois sujeitos se conhecem em uma festa. Um é escritor, holandês, tem 60 anos. O outro é alemão, artista plástico, tem um pouco mais que a metade dos anos do primeiro. Reconhecem uma afinidade estética e resolvem fazer um pacto. O jovem artista enviaria ao velho escritor seus desenhos e este escreveria, não sobre os desenhos, isso estava já pactuado, mas sobre aquilo que conversaram na festa: sobre a vida em uma ilha (Nooteboom vive os verões europeus na espanhola Menorca) e sobre a vida em um grande cidade (Max Neumann vive na frenética Berlin reunificada, tão cara a Nooteboom). O escritor não descreveria os desenhos, o artista plástico não ilustraria os poemas. Ao receber o pacote com os desenhos do artista o escritor os fixa em uma parede e os contempla. Depois disso, por semanas, segue uma lógica onírica, deixa-se levar pela impressão que aquele conjunto de desenhos produziu e procura na memória sua inspiração. Há uma mescla de ficção e realidade, mitologia e história, sonhos e invenção. A edição é bilingüe, holandês e espanhol. O tradutor (Fernando García de lá Banda) nos explica que os poemas em prosa originais lhe cobraram trabalho árduo. Encontramos construções difíceis, imagens poderosas, de uma beleza terrivel, um clima que alterna as eventuais alegrias do sonho e a crueldade dos fatos que lembramos, mas não queremos lembrar. Os temas são variados: a água, os deuses gregos, as viagens, a lembrança do pai, o contraste entre velhice e infância, a geografia das cidades. Os desenhos são terrosos, de um vermelho que se molha e perde o brilho. O que é retratado vê-se como máquinas, como homens e animais furiosos e como seres que experimentam metamorfoses. O lugar de uma obra de arte é todo lugar onde o homo sapiens sapiens está, mesmo nas páginas de um livro, mas eu gostaria de ver mais coisas de Max Neumann em grandes formatos. A capacidade, o poder e a força de Nooteboom em registrar as sutilezas das coisas, de sintetizar e oferecer ao leitor idéias e imagens que, distraídos, deixaríamos passar, é sempre algo que me surpreende. Num dos poemas em prosa encontramos: "O número de vidas em um corpo já velho é insuportável"; noutro "A transmigração da almas não acontece depois, mas sim durante a vida"; ou noutro ainda "O convalescente no hospital sorri e responde rápido: 'você é a última pessoa que verei antes de morrer' e, depois disso, nenhum dos dois volta a falar". Coisas assim não deixam o leitor indiferente. Lemos um livro assim como se compartilhássemos uma conversa instigante, mas também um sonho, seja o sonho sonhado durante uma chuva vermelha na Menorca de Nooteboom, seja uma invenção onírica e potente de Max Neumann em Berlin. Compartilhar deste diálogo é algo rico. Não se trata de pouca cousa. 
[início: 21/02/2014 - fim: 19/04/2014]
"Autorretrato de otro: Sueños de la isla y la ciudade de antaño", Cees Nooteboom, Max Neumann (desenhos), tradução de Fernando García de la Banda, Madrid: Calambur Editorial (coleção Poesía), 1a. edição (2013), brochura 14x22,5 cm., 160 págs., ISBN: 978-84-8359-244-1 [edição original: Zelfportret van een ander. Dromen van het eiland en de stad van vroeger (Amsterdam: Uitgeverij Atlas) 1993]

sábado, 19 de abril de 2014

james joyce in paris

Recebi esse mimo bem antes do natal do ano passado. Guardei-o como quem sabe que recebeu um grande bem e precisa estar com o humor certo para apreciá-lo. Depois dos sucessos das férias eis que encontrei esse humor e passei desde então boas horas em puro deleite, etéreo, transportado lentamente como um flâneur para a Paris do final dos anos 1930 e ao universo de James Joyce (do qual raramente me afasto, claro está para quem me conhece). Gisèle Freund é uma socióloga alemã que tornou-se fotógrafa profissional (e muito respeitada por sinal) por acaso. Um dia um jovem escritor conhecido de um colega seu na Sorbonne pediu-lhe que tirasse algumas fotos para ilustrar livro seu. O jovem escritor era André Mauroux e suas editoras Sylvia Beach e Adrienne Monnier, também editoras de James Joyce. Anos depois, já atuando regularmente como fotógrafa e parte do círculo de amizade de Joyce, acabou tendo a oportunidade de fotografá-lo algumas vezes (especialmente por encomenda da editora americana Random House, que preparava os originais do "Finnegans Wake" e que seria lançado em 1939). Boa parte das poucas fotografias conhecidas de Joyce deste período final de sua vida foram produzidas por ela. Mas em "James Joyce in Paris: His final years" não encontramos apenas fotografias de Joyce e sua família. De fato a maioria das 88 fotografias é de colegas escritores, artistas plásticos, paisagens e ruas de Paris. São fotos de um mundo que iria se transformar radicalmente com o início da segunda grande guerra (a própria Gisèle Freund, como tantos outros, emigraria para os Estados Unidos logo no início das hostilidades, assim como Joyce, que emigraria para a Suiça). O livro inclui um prefácio de Simone de Beauvoir e comentários curtos às fotos, assinados por V.B. Carleton (uma jornalista francesa, costumeira colaboradora de Freund). Os colaboradores mais próximos de Joyce em Paris estão todos retratados no livro: Eugene Jolas, Maria Jolas, Paul Léon, Stuart Gilbert, Adrienne Monnier, Sylvia Beach, Samuel Beckett, Valery Larbaud. Há um outro livro de Gisèle Freund (que recebi junto com este) onde encontraremos apenas as fotografias de Joyce e sua família em 1938, inclusive um conjunto de fotografias coloridas. Mas essa história ficará para um outro registro de leitura. Ficarei ainda muito tempo inebriado com os prazeres deste "James Joyce in Paris: His final years", seguro que sim. 
[início: 02/02/2014 - fim: 14/04/2014]
"James Joyce in Paris: His final years", Gisèle Freund, V.B. Carleton, Simone de Beauvoir, New York: Harcourt, Brace and World, 1a. edição (1965), capa-dura 22,5x29 cm., 117 págs., sem ISBN

sexta-feira, 18 de abril de 2014

noites em chamas

Na dedicatória Romar escreve umas palavras gentis e termina grafando a data: 30/08/2012. Lembro-me bem da ocasião desse presente. Era um dia agradável, em Santa Cruz do Sul, numa feira do livro, dia do lançamento de um livro do Cassionei Petry: "Arranhões e outras feridas" (que já resenhei aqui há tanto tempo). Depois li e resenhei um livro de Majela Colares que foi-me apresentado pelo mesmo Romar em uma outra feira do livro, a de Porto Alegre, daquele mesmo e afastado ano. Mas seu livro deixei nos guardados sob o peso dos outros. Os desvios das leituras serpeantes que faço me fizeram esquecer dele. Em abril passado (está anotado em uma das badanas do livro) comecei a ler seus poemas, mas novamente devo ter me desviado dele pois só recentemente, em meio as costumeiras arrumações de início de semestre, dei com o livro algo aflito, já bem rabiscado mas não terminado, pedindo novamente atenção (ou seria minha a aflição por tê-lo esquecido sem dó?). Bueno. Nestas últimas semanas retornei a ele. São sessenta poemas, bem distintos em extensão e temática. Os bem curtos parecem fazer perguntas a uma musa, uma dama rosa inominada; nos maiores o narrador usa a retórica para prescrutar em si mesmo coisas sobre a memória, o destino, as dúvidas e as viagens que fez. Os poemas me parecem apurados, bem cuidados, produzidos com zêlo e erudição. Há três poemas em epígrafe distribuídos no livro, dois deles da poeta polonesa Wislawa Szymborska (sempre poderosa) e um do poeta macedônio Srbo Ivanovski. Os três abrem, oferecem um intervalo e fecham o livro, como se fossem arautos invocados por Romar para apresentá-lo aos leitores. Também alguns aforismos estão distribuídos pelo livro (de Júlio Cortázar, Armindo Trevisan, Cíntia Moscovich, Eduardo Galeano, Rainer Maria Rilke e Paul Celan, dentre vários outros). Estes já parecem dar conta do humor de Romar quando da invenção de seus poemas. Ler esse mar de poemas fez-me um grande bem, lembrou-me de quão bem as palavras podem ser reunidas quando um bom poeta decide fazê-lo. Abraços meu caro. Evoé Romar, Evoé.
[início: 26/04/2013 - fim: 11/04/2014]
"Noites em chamas", Romar Beling, Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 1a. edição (2011), brochura 12x19 cm., 144 págs., ISBN: 978-85-63336-02-6

quinta-feira, 17 de abril de 2014

fuera de aquí

"Fuera de aquí" é o livro perfeito para aqueles leitores que precisam de ajuda para decifrar cada um dos livros de Enrique Vila-Matas, ou seja, para todos os leitores possíveis e imagináveis de Vila-Matas. Claro, qualquer leitor pode inferir o que quiser de cada leitura que faz, de qualquer livro que lê, mas é bom por vezes ter um guia ou mapa de intenções de um autor para comparar seus projetos literários com as impressões que alcançamos após ler seus livros. O website mantido por ele (www. enriquevilamatas. com) é sempre fundamental para esclarecer um ponto enigmático ou outro de seus livros, mas as entrevistas reunidas neste livro também têm seu valor. André Gabastou, o tradutor de Vila-Matas na França, conduz as entrevistas cronologicamente, percorrendo cada livro publicado e cada experiência memorável e/ou transcendental de seu entrevistado. Os elementos paratextuais do livro fazem a festa do leitor. Encontramos trechos grandes de cada uma das histórias de Vila-Matas publicadas (à exceção de seu último "Kassel no invita a la lógica"). Há também muitas reproduções fotográficas, de pessoas, capas de livro, paisagens e de artes plásticas, distribuídas nas laterais do texto, que acompanham o que está sendo discutido e/ou citado nas entrevistas. Por fim encontramos uma bibliografia e um índice onomástico. Além desse material todo encontramos sete textos inéditos de Vila-Matas no livro. Nesses textos ele discute objetivamente questões formais sobre seu projeto literário, esclarece o leitor sobre a recorrente hibridização de seus textos (que tem sempre componentes inventivas, ficcionais, mescladas a ensaios e a crítica), explica seu conceito de intertextualidade e seu emprego de metaliteratura, ironiza sobre a necessidade de um texto ser absolutamente verdadeiro (ou falso). Vila-Matas sempre é generoso com os amigos, cita repetidas vezes o quanto sua vida social, as conversas com seus amigos e colegas escritores o sensibilizam para temas que depois serão explorados em sua produção literária. Ao mesmo tempo não se cansa de vergastar a crítica literária (e o cenário cultural como um todo) da Espanha. O livro termina com uma "Autobiografia literária", onde cada livro recebe dele mesmo um pequeno resumo que parece responder àquela definição de Vladimir Nabokov: "A melhor parte da biografia de um escritor não é a crônica de suas aventuras, mas sim a história de seu estilo". "Fuera de aquí" certamente conta uma boa história do estilo de Vila-Matas. Em tempo: Se há um sujeito que vai gostar de ler esse livro é o Kelvin Falcão Klein (bom divertimento meu caro).
[início: 25/02/2014 - fim: 14/04/2014]
"Fuera de aquí: Conversasiones con André Gabastou", Enrique Vila-Matas, André Gabastou, Barcelona: Galaxia Gutenberg / Circulo de Lectores, 1a. edição (2013), capa-dura 16x24 cm., 265 págs., ISBN: 978-84-15863-04-5

quarta-feira, 16 de abril de 2014

pileques

Uma editora como a Companhia das Letras deveria se envergonhar de publicar um livro assim, mas a culpa não é só dela, afinal apenas traduziu um livro caça níqueis editado em 2011 pela New Directions. Que fiasco. São seis conjuntos de narrativas de F. Scott Fitzgerald. Apenas um deles, "O colapso nervoso" vale os reais que paguei pelo livro. Neste texto, em poucas páginas, Fitzgerald, sem a menor autopiedade mas com toneladas de sarcasmo e ironia total, descreve como uma pessoa fracassada e deprimida se sente (trata-se de texto de 1936, algo anterior aos ansiolíticos, a psicanálise e outras modalidades  contemporâneas de fuga). Ele morreu em 1940, aos 46 anos, mas já se sentia inútil e dispensável desde bem antes dos 40 anos. "O colapso nervoso" é uma narrativa muito poderosa, cheia de frases memoráveis, algo que dificilmente deixa um leitor indiferente. Qualquer pessoa que já tenha experimentado aborrecimentos nesta vida (o que, convenhamos, reúne quase a totalidade dos homo sapiens sapiens) saberá apreciar esse capítulo do livro, que lembra algo de um outro famoso fracassado no fim da vida, Oscar Wilde, em seu "De profundis". Os outros textos são incrivelmente ridículos, devem ter sido compilados de algum cartapácio de coisas de Fitzgerald e incluídos aqui somente para fazer com que o livro pudesse ter esquálidas 100 paginas. Patético. "Seleções dos cadernos de notas" tem dez páginas de algo que originalmente deveria ser enorme; "Acompanhe o sr. e a Sra. F. ao quarto número..." é uma vagabunda compilação de experiências em hotéis, escritas entre 1921 e 1934; "Dormindo e acordando" é uma crônica besta sobre insônia; "Minha cidade perdida" é uma razoável homenagem a New York e ao mesmo tempo uma autobiografia ligeira de Fitzgerald, que percorre as transformações posteriores à queda da bolsa de valores americana em 1929 nele e na cidade, mas nada excepcional; "Seleções das cartas" é a infame reunião de três cartas curtas, uma endereçada a Edmund Wilson e duas a John Peale Bishop. Argh! Não é possivel levar um livro assim à sério. Vamos em frente. 
[início: 13/03/2014 - fim: 15/03/2014]
"Pileques: drinques e outras bebedeiras", F. Scott Fitzgerald, tradução de Donaldson M. Garschagen, São Paulo: editora Companhia das Letras (Má Companhia), 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 108 págs., ISBN: 978-95-359-2317-9 [edição original: On Booze (New York: New Directions Publishing) 2011]

terça-feira, 15 de abril de 2014

a máquina do tempo

Quando o mais recente livro de Adão Iturrusgarai foi lançado decidi que era hora de pagar minha dívida com Jesús González, talvez o maior dos fãs de Iturrusgarai em Madrid. Decidi que compraria o livro, juntaria com os demais que já havia prometido enviar-lhe e os colocaria no correio naquele mesmo dia. Mas, ai de mim, o Jesús terá de esperar um tempo mais, paciência. Em "A máquina do tempo de Adão Iturrusgarai" encontramos trabalhos variados, personagens antigos e novas propostas, 64 páginas de humor corrosivo e certeiro, sem nenhuma concessão para a hipocrisia e ao politicamente correto (como o humor de verdade deve ser). A apresentação inverte a ordem cronológica: começa com o trabalho mais recente, de 2013 e segue até o mais antigo, de 1983. É tempo. Vê-se que o sujeito trabalha mesmo um bocado. O livro inclui dois trabalhos feitos em colaboração com Laerte e um outro onde Gilmar Rodrigues assina o texto. O leitor percebe facilmente ao folhear o livro que o Adão não é escravo de um personagem ou traço. Há muita experimentação, tanto estética quanto temática. O que une todos os trabalhos é sua abordagem pessoalíssima na sátira, onde nada é tabu ou sagrado (as histórias parecem dizer que não se deve levar nada a sério, mas diz isso levando a sério tudo o que parece e é ridículo e podre na sociedade). Seria engraçado deixar um exemplar destes na sala de espera de consultórios de analistas e/ou psicólogos. Acredito que provavelmente boa parte dos clientes resolveria ali mesmo seus problemas imaginários, sua eventual vocação para a intolerância, a falta de humor crônica ou inaptidão social. É coisa para se pensar.
[início: 18/03/2014 - fim: 28/03/2014]
"A máquina do tempo de Adão Iturrusgarai", Adão Iturrusgarai, Campinas: Zarabatana Books, 1a. edição (2013), brochura 21x28 cm., 64 págs., ISBN: 978-85-60090-54-9

sábado, 12 de abril de 2014

desde que te vi morir

"And in the twilight toward me a man / comes, class. I recognize / your energetic stride. You haven't / changed much since your died. // Y en el crepúsculo viene hacia mí / un hombre, llama. Reconozco / tus enérgicas zancadas. No has cambiado / mucho desde que te vi morir." Encontramos em "Desde que te vi morir" dezoito poemas de Vladimir Nabokov, escritos entre 1919 e 1956, publicados quase todos em revistas e jornais antes da edição em livro, em 1970. Javier Marías os traduziu em 1979. Em 1999, no centenário de nascimento de Nobokov, os poemas foram revistos e reeditados numa bela edição da Alfaguara. O livro inclui dezoito problemas de xadrez inventados por Nabokov (que era um aplicado jogador). Estes problemas e suas soluções fazem parte da edição original e foram traduzidos por Félix de Azúa, que assina também uma nota prévia ("La poesía del ajedrez"). Encontramos por fim cinco ensaios curtos assinados por Marías ("Para que Nabokov no se le cargue - presentación o disimulo"; "Los imposibles pasos del exiliado ruso"; "Vladimir Nabokov en éxtasis"; "El canon Nabokov"; "La novela más melancólica - Lolita recontada"). Assim, neste pequeno livro encontramos ao menos três alegrias distintas: alguns dos poemas de Nabokov, as opiniões fortes de Marías sobre um de seus autores mais admirados, uma desafiadora amostra da paixão de Nabokov por xadrez. Começo por este último conjunto: não é tarefa para amadores. Os problemas são difíceis, mas como há soluções e variantes, aprendemos com elas. Féliz de Azúa nos explica que há um paralelo entre a estrutura argumental básica de alguns livros de Nabokov com o tema dos problemas enxadrísticos, pois a peça de xadrez (ou o protagonista) que se movimenta provoca sua destruição (e é a nostalgia de sua posição/status anterior  - que gera o movimento inicial - que implicará nesta queda e/ou morte). Interessante. Senti saudades de meus dias de enxadrista furioso. Os ensaios de Javier Marías sempre são um assombro. Ao mesmo tempo que informam sobre a vida de Nabokov eles dão pistas sobre suas escolhas literárias e método de tradução (afinal Nabokov é também o tradutor de sua obra, quase sempre escrita em russo e depois transcrita por ele para o inglês, ou como no caso de sua obra mais conhecida, "Lolita", escrita originalmente em inglês e depois vertida para o russo). Nos poemas a paisagem parece não existir. O narrador está sempre olhando o céu, as estrelas, ou um mundo interior, abstrato, onde há apenas o vazio, os pensamentos, as idéias. Num poema o leitor encontra um corredor, um hotel, uma vela, mas logo essa última se apaga e deixa narrador e leitor novamente na escuridão. São poemas densos, que deixam-se ler com vagar e cobram um bom tempo de reflexão. São poemas que antecipam as névoas de um inverno longo e frio mas ao menos parecem dizer: ainda podes se preparar, há tempo.
[início: 22/02/2014 - fim: 10/04/2014]
"Desde que te vi morir (Vladimir Nabokov: una superstición)", Vladimir Nabokov, tradução de Javier Marías e Félix de Azúa, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de Ediciones), 2a. edição (1999), capa-dura 19x27,5 cm., 141 págs., ISBN: 978-84-204-7853-9 [edição original: Vladimir Nabokov, Poems and Problems (New York: McGraw-Hill, 1970), edição original da tradução: revista Poesía, n0. 4, verão de 1979 (Madrid, Espanha)]

terça-feira, 8 de abril de 2014

kassel no invita a la lógica

Aos livros de Enrique Vila-Matas sempre dedico uma atenção desconfiada (que é derivada de uma frase de Churchill: "Russia is a riddle, wrapped in a mystery, inside an enigma; but perhaps there is a key". A charada e o mistério e o enigma mais recente de Vila-Matas: "Kassel no invita a la lógica", foi publicado no início deste ano. Trata-se de um romance, uma narrativa ficcional, mas também é um relato de uma experiência e ainda um ensaio sobre arte contemporânea (ou talvez uma outra cousa qualquer que eu, ai de mim, não entendi completamente). Ele foi convidado a participar da Documenta 13 (de Kassel), uma das mais respeitadas exposições de arte moderna e contemporânea. A proposta da diretora artística e da curadora daquela edição (respectivamente Carolyn Christov-Bakargiev e Chus Martínez) era que diversos escritores se instalassem sucessivamente em um restaurante chinês nos arredores de  Kassel durante a Documenta e se dedicassem a escrever em público (além de Vila Matas fizeram parte deste projeto os escritores Etel Adnan, Aaron Peck, Mario Bellatin, Adania Shibli, Holly Pester, Marie Darrieussecq e Alejandro Zambra). Vila-Matas, confessadamente neófito em artes plásticas, aceita o inusitado convite e no verão europeu de 2012, na última semana da exposição, experimenta uma espécie de imersão estética no mundo da arte contemporânea de vanguarda. Sua ambição foi a de utilizar essa experiência com artes plásticas para verificar como sua produção literária poderia "localizar e efetuar uma reanimação dos elementos mágicos e humanos" nestes tempos sombrios e estúpidos em que vivemos. Segundo ele "Kassel no invita a la lógica" é um convite otimista aos leitores para que encontrem alegria na vida e na arte. Se é que eu entendi bem (não da proposta, que pode ser encontrada em suas entrevistas publicadas em jornais ou em seu sempre ótimo website), mas do que eu entendi do resultado dessa proposta, seu livro "Kassel no invita a la lógica" é uma tentativa de discutir com o leitor os dias que correm, uma tentativa de definir o que de fato pode ser considerado contemporâneo, importante, válido, relevante (ou antes, como um homo sapiens sapiens nos dias que correm pode viver e refletir plenamente seu tempo, não apenas reproduzindo idéias e chavões de terceiros, verdadeiros escravos mentais que somos quase todos). Terminamos o livro e entendemos que ao menos ele, entusiasmou-se tanto com a Documenta 13, incorporou em si tanto do que viu nas instalações expostas lá, que viu-se novamente como em seus anos iniciais de artista, como escritor; recuperou de alguma forma o que ele considerou sempre sagrado, seu pertencimento ao vanguardismo total (ou seja, se é que entendi bem, ele testou até que ponto sua arte, sua ficção literária, após quarenta anos de prática, de fato poderia ser considerada de vanguarda). O resultado é interessante, mas não arrebatador. Talvez, assim como nas jornadas místicas, experiências deste tipo não possam de fato serem compartilhadas; talvez a única coisa realmente válida seja o convite para que antes de criticarmos indolentemente a arte contemporânea (ou a defendermos bovinamente) cada um de nós devesse utilizá-la como um antídoto contra a estupidez reinante, cada um de nós fizesse uso dela como uma forma de entendermos melhor nossa própria vida, entendermos melhor a geografia, a política, a cultura e a história do lugar onde vivemos. Nas palavras de Chuz Martínez, transcritas no livro: "... a arte não é nem uma questão estética nem uma questão de gosto, mas de conhecimento." Louvo o otimismo de Vila-Matas, mas acho que continuarei algo cético com o poder da arte - e de resto da ciência, da educação e de qualquer outra forma de conhecimento - ,ao menos neste lugar triste e desgraçado que chamamos de Brasil. Talvez seja o caso de incluir aqui uns links: (i) a lista completa dos artistas que participaram da Documenta 13; (ii) um tour fotográfico com as obras lá exibidas; (iii) a lista com os livros/cadernos de leitura produzidos por 100 artistas/escritores durante o evento; (iv) a página eletrônica de Vila-Matas dedicada a esse livro; (v) a página eletrônica da próxima Documenta, que acontecerá no verão europeu de 2017. Já me escalei mentalmente para lá estar em 2017, mas haverá em 2017 um Brasil de onde poderemos sair para visitar uma exposição de arte contemporânea desse porte? Haverá em 2017 um país chamado Brasil? Haverá alguma vida inteligente (e arte) em 2017? Logo veremos.
[início: 30/03/2014 - 05/04/2014]
"Kassel no invita a la lógica", Enrique Vila-Matas, Barcelona: Editorial Seix Barral Biblioteca Breve (Grupo Planeta) 1a. edição (2014), brochura 13,5x23 cm., 300 págs., ISBN: 978-84-322-2113-2

quinta-feira, 3 de abril de 2014

ulysses the manual

Dentre os muitos mimos joyceanos que consegui amealhar em 2013 o que veio de mais longe foi o "Bloomsday Survival Kit": livro/objeto/arte do coletivo (que é a palavra da moda para designar grupo) irlandês At it Again!. Trata-se de uma caixa com uns guardados que todo confrade que dispõe-se a participar de um legítimo Bloomsday dublinense precisa ter à mão e consultar. A caixa (o "Kit" propriamente dito) contém um bom mapa de Dublin, sugestões de passeios pela cidade (que se inspiram, claro, nas caminhadas de Leopold Bloom por lá), ítens variados que pretendem estimular o flâneur / leitor a fazer suas próprias associações com o Ulysses, um par de ilustrações muito bonitas e por fim um pequeno livro, um manual para se entender o Ulysses. Esse manual é muito bem produzido e informativo. Encontramos ali uma pequena biografia de James Joyce (que todo neófito rapidamente precisa decorar); um hiper resumo do livro; a localização em Dublin de cada um dos dezoito episódios do livro; descrições dos personagens principais; sugestões de adereços e roupas que podem ser usadas nas comemorações (sim, porque em Dublin centenas de pessoas vestem roupas do início do século XX para entrarem no ritmo certo da festa). O leitor é também estimulado a fazer suas anotações encontrar registros de Bloom e Joyce por Dublin  e eventualmente encontrar o povo do At ir Again! por lá. O bom humor, que dá a tônica trabalho teatral da turma do At it Again! (e que pode ser apreciado em vídeo), contamina o leitor. Claro. Cabe dizer por fim que foi don Thiago, jovem físico dos bons, joycista amador, gremista inveterado e dublinense honorário quem conseguiu me enviar, lá de Dublin, esse meu manual (que agora ninguém tira mais de mim). Sláinte Thiago!
[início: 01/10/2013 - fim: 31/03/2014]
"Romping through Dublin: Ulysses, The Manual", Maite López, Jessica Peel-Yates (text), Niall Laverty, James Joore (illustrations), Dublin: At it Again! (1a. edição) 2013, brochura 10,5x15,5 cm., 61 págs., ISBN: 978-0-9576559-0-4

quarta-feira, 2 de abril de 2014

de vuelta del mar

Em 1980 a editorial Hiperión madrilleña publicou uma primeira seleção de poemas de Robert Louis Stevenson assinada por Javier Marías. Recentemente a editora fundada pelo próprio Marías (Editorial Reino de Redonda) reeditou estes poemas (sabe-se que alguns foram retraduzidos e a que a seleção deles foi algo modificada). Trata-se de uma edição bilíngue, que inclui 66 poemas. Marías nos explica, em sua apresentação do livro, que esses são os poemas que "admitem" tradução, não sendo Stevenson um poeta especialmente brilhante (muito embora tenha produzido coisas muito boas). Marías é um autor que leva o ofício de tradução muito a sério (basta ler Gareth J. Wood para se convencer disso) e gasta um bom número de páginas do prólogo justificando suas escolhas e procedimentos tradutórios. De qualquer forma a produção poética de Stevenson não é particularmente grande (são aproximadamente 350 os seus poemas ). Ele é mais conhecido (e celebrado) por suas novelas e romances (principalmente "A ilha do tesouro" e "O estranho caso do Dr. Jeckyll e Mr. Hyde"), mas foi um escritor prolífico, que publicou romances, contos, ensaios, peças de teatro, música e crítica literária, além de poesias. Os poemas de Stevenson falam do mar, dos amigos e da família, das viagens, da morte e das terras altas de Edinburgh. Um outro tema que aparece recorrente neles é o farol (ele estudou engenharia e sua família era especialista na construção deles). Alguns poemas foram pensados para serem musicados; muitos incluem dedicatórias. Não há demasiada melancolia nos poemas, mas percebe-se que sua doença (ele sofria de tuberculose) ditava seu ritmo e suas escolhas. Alguns poemas falam do amor, mas parece um amor cerebral demais, quase artificial. "De vuelta del mar" é o tipo de livro que transporta o leitor para um lugar e a um tempo onde só os prazeres e as epifanias são permitidos. Pena que esse transe seja temporário, fechamos o livro e logo voltamos a vida, ao mundo real. Impossível não ler os poemas do ciclo final da vida de Stevenson incluídos no livro e não lembrar de Cees Nooteboom e seu "Tumbas - de poetas e pensadores". Com Nooteboom como guia não precisamos ir a Samoa visitar a tumba de Stevenson e ler ali, de frente ao mar, aquelas palavras fortes que parecem perdoar a soberana morte: "Under the wide and starry sky, / Dig the grave and let me lie. / Glad did I live and gladly die, / And I laid me down with a will. / This be the verse you grave for me: / Here he lies where he longed to be; / Home is the sailor, home from sea, / And the hunter home from the hill." 
[início: 20/02/2014 - fim: 31/03/2014]
"De vuelta del mar: Antologia poética", Robert Louis Stevenson, tradução de Javier Marías, prólogo de Luis Antonio de Villena, Madrid: Reino de Redonda (1a. edição) 2013, capa-dura 14,5x23 cm., 244 págs., ISBN: 978-84-936887-4-5 [edição original: Poems (New York: Charles Scribner's Sons) 1895; Poems Including Underwoods, Ballds, Songs of Travel (London: Chatto and Windus) 1917; New Poems and Variant Readings (London: Chatto and Windus) 1918; Home from Sea, Poems for Young Readers (London: The Bodley Head) 1970; edição original da tradução: (Madrid: Hiperión) 1980]