sábado, 26 de setembro de 2009

historias de padres e hijos

"Historias de padres e hijos" reúne três contos. Neles Carvalho mais do que resolver os enigmas, solucionar os crimes, tem oportunidades de refletir sobre sua juventude, relembrar seu pai, preso durante a ditadura franquista. No primeiro Carvalho se envolve por iniciativa própria no assassinato de um conhecido seu de juventude, um sujeito que tinha ambições no mundo do boxe, mas que se desgraçou e tornou-se um daqueles loucos típicos de uma cidade grande, de um bairro decadente (no caso o Raval barcelonês). Nas ruas do Raval Carvalho revisita as academias de boxe, os restaurantes, os botecos, os sabores de pratos de um passado distante. O sujeito que morreu tem um filho que vive de pequenos biscates, pequenos crimes. Carvalho se afeiçôa ao rapaz e tenta descobrir o paradeiro de sua mãe (que se afastou de pai e filho logo que este nasceu). Logo após descobrir como morreu o sujeito (um azar banal) Carvalho consegue fazer mãe e filho se reencontrarem, mas eles preferem seguir seus caminhos de forma independente. Não há mesmo espaço para sentimentalismos no mundo real. Na segunda história uma senhora contrata Carvalho para descobrir o paradeiro de uma moça que sumiu durante uma viagem no mediterrâneo. Carvalho a descobre prostituída em Gibraltar, o enclave britânico na península ibérica, motivo de disputas diplomáticas e políticas entre Inglaterra e Espanha até hoje (os espanhóis se lamentam há trezentos anos a perda da "rocha" de Gibraltar, terra de Molly Bloom, mas está é outra história). Entre as idas e vindas de Carvalho a Gibraltar, o reencontro e a ajuda recebida ali de agentes americanos amigos teus dos tempos em que era guarda costas do presidente Kennedy, conversas cínicas com os agenciadores de sexo que sequestraram a moça, Carvalho consegue fazê-la voltar a Barcelona, mas por um tempo curto demais, pois ela prefere a vida dura das ruas e da prostituição à voltar a viver com sua mãe. A última história é a mais dramática, mais teatral, todavia é bastante previsível. Um rapaz e sua noiva são mortos na noite de núpcias. O casamento é detalhadamente descrito. A viagem até a cidade natal dos pais do rapaz, filho de um rico empresário, ao interior profunda e provinciana Catalunha também é boa de acompanhar. É a mãe quem contrata Carvalho para descobrir as razões do assassinato. Carvalho descobre rapidamente a vida dupla que o rapaz mantinha, sua amante, seu envolvimento com a jogatina, suas conexões com o submundo e a máfia catalã, mundos muito diferentes da casa bancária e do construtora onde ele trabalhava com o pai. Sem muita divagação Carvalho soluciona o crime. O curioso nestas três histórias é o contraste entre o mundo das aparências e o mundo real dos personagens. Bons contos para se ler sem pressa, sem paixão. [início 09/09/2009 - fim 10/09/2009]
"Historias de padres e hijos", Manuel Vázquez Montalbán, editorial Planeta DeAgostini (1a. edição) 2000, capa-dura 13,5x20,5, 179 págs., ISBN: 84-395-8469-5

sábado, 19 de setembro de 2009

todas as almas

"Todas as almas" está para "Seu rosto amanhã" assim como o "The hobbit" está para "O senhor dos anéis". Talvez eu devesse dizer apenas que "Todas as almas" funciona como um prólogo ao último livro de Javier Marías, mas o paralelo com os livros de J.R.R. Tolkien me parece mais adequado. Já havia lido o original (All souls) e inclusive já o resenhei aqui, em um distante dezembro de 2007. Acontece que após a leitura do último volume de "Tu rostro mañana" me pareceu importante checar algumas passagens, tentar entender melhor a genealogia dos muitos personagens que são retomados, verificar se eles, os personagens, se desenvolveram bem ou são apenas repetidos artificialmente. Jaime Deza não tem este nome ainda (ele nunca é nominado na verdade). Toby Rylands mostra toda sua sagacidade e experiência no final do prólogo, mas será seu irmão Peter Wheeler quem fará as vezes de confidente e interlocutor do narrador Deza posteriormente. Enfim, trata-se sim do caso de um bom livro, com bons personagens que acabam merecendo um reaproveitamento, que não desapareceram sem rastro da cabeça de seu criador. "Todas as almas" foi publicado em 1989, no ano mesmo da queda do muro, e o primeiro volume de "Seu rosto amanhã" foi publicado em 2002. Este é exatamente o período que os personagens de Javier Marías neste último livro, principalmente Beltran Tupra, reputam como sendo aquele no qual os serviços secretos do mundo, não tendo mais o que fazer, passaram a trabalhar para interesses privados, grandes corporações, magnatas, ditadores, políticos inescrupulosos e enfim, até para alguns terroristas. Claro, nada disto é discutido em "Todas as almas". Aqui a ambientação é a vetusta universidade Oxford, onde se ensina, se adestra e se julga há 900 anos. O narrador está mais interessado em resolver seu romance clandestino com sua colega Clare Bayes, em acompanhar os planos para a velhice de seu amigo homossexual Cromer-Blake, em entender melhor quem é o curioso poeta Gawsworth, em decidir o que fazer de sua vida, congelada em uma Oxford que nunca será sua de fato (saberemos depois que ele voltará a Espanha, se casará, terá dois filhos, se separará e voltará a viver em Londres, como tradutor na BBC). Se não é o melhor dos Marías que já li ao menos vale como introdução a seu universo, uma introdução a seus truques literários. [início 05/09/2009 - fim 09/09/2009]
"Todas as almas", Javier Marías, tradução de Monica Stahel, editora Martins Fontes (1a. edição) 1999, brochura 14x21, 232 págs., ISBN: 85-336-0990-6

domingo, 13 de setembro de 2009

tu rostro mañana 3: veneno y sombra y adiós

Tu rostro mañana 3: Veneno y sombra y adiós. Será difícil escrever esta resenha sem transformá-la em um "spoiler", ou seja, de falar sobre a trama, das histórias que se completam, dos enigmas que são elucidados. Esta terceira parte de "Teu rosto amanhã", ou melhor, terceira parte de "Tu rostro mañana", consegui comprar na versão original (pois a tradução só será publicada aqui no ano que vem). Comprei na Gran Via madrilleña, em uma tarde de sol e calor, feliz da vida ao achar o livro, como deveria sempre ser. Por conta disto já te aviso, caro e eventual leitor, só leia a partir daqui por tua conta e risco. No primeiro volume (Febre e lança) Javier Marías começa dizendo que "Ninguém nunca deveria contar nada". No segundo volume (Dança e sonho) ele começa com "Calar é a grande aspiração que ninguém realiza", um mal da modernidade, na definição do ancião Peter Wheeler. Já neste terceiro volume (Veneno y sombra y adiós) ele diz ao iniciar: "Não desejamos, mas preferimos sempre que morra quem esteja a nosso lado", e por aí segue por setecentas páginas. A teoria cede à realidade, à violência. O romance inteiro deve ter umas mil e seiscentas páginas, mas cada uma delas tem algo a dizer ao leitor (mesmo aquelas criticadas por mim no segundo volume, confesso). A história avança, paralisada que estava com a decisão de Tupra de mostrar algo ao narrador Jaime Deza. Tupra (ou Reresby, ou Ure, ou Dundas) mostra a Jaime (ou Jacobo, ou Jack, ou Iago, ou Jacques) filmes onde sujeitos estão ativa ou passivamente, direta ou indiretamente, cometendo os mais variados tipos de crimes, se drogando, sendo violentos, trepando, executando, torturando, se reunindo com tiranos, roubando, participando de jogos cruéis. São filmes que servem para ter-se e exercer-se poder sobre as pessoas. Tupra responde a indagação de Deza sobre o porque de toda aquela violência dizendo que todos os seres humanos são capazes, mesmo os que negam ou não o sabem de antemão, dos atos mais violentos, das declarações ou dos comportamentos mais torpes, desde que seja imperiosamente necessário que nos comportemos assim, seja racionalmente ou apenas institivamente. Enfim, a partir desta injeção de veneno Deza parece entender melhor o que faz no seu trabalho, utilizando aquela habilidade incomum de ser capaz de interpretar o caráter e a personalidade das pessoas apenas conversando um pequeno período de tempo com elas, ou apenas as vendo de longe, enquanto conversam com terceiros. Os personagens dos capítulos iniciais voltam a participar ativamente da trama. Sua colega Pérez-Nuix lhe pede um favor e os dois mantêm um curto romance. Deza visita um ainda assustado De la Garza, recuperado da surra que levou. Deza e Tupra viajam pelo mundo coletando informações e, além de ganhar uma certa sofisticação, ele passa a controlar muito melhor a sua arte. De férias na Espanha fica sabendo que sua ex-mulher está tendo um caso com um sujeito (o pintor Custardoy, personagem de "Coração tão branco", que conheceremos melhor aqui) que é violento com ela. Deza descobre aos poucos que ele não apenas sente ciúmes mas é capaz de ser tão violento quanto Tupra foi com De la Garza. De volta a Londres visita seu antigo professor Lord Wheeler, que vem a ser irmão de um de seus mentores nos tempos de Oxford, o mercurial Toby Rylands, que vivia já aposentado às margens do rio Ísis, com seus cisnes selvagens como companhia. Foi este último que detetou a capacidade de observação de Deza e o indicou, primeiro ao irmão Wheeler e depois ao próprio Tupra, para ser recrutado pelo serviço de informações que eles criaram. No início ele marca esta visita ao velho professor para coletar informações sobre Tupra (de quem de resto jamais saberá nada), mas acaba sabendo mais sobre o papel de Wheeler na segunda guerra mundial, sobre as circunstâncias da morte de sua mulher Valerie, sobre seus contemporâneos e colegas, sobre muitos assuntos relacionados à espionagem e os serviços de segurança da Inglaterra durante a guerra fria. Ele fala muito sobre pintura (há uma longa sessão que se dá no museu do Prado) e literatura ou ainda sobre o cinema, tudo muito interessante. Há muitas outras coisas para falar deste livro, mas a idéia aqui é fazer mesmo curtas resenhas. Poderia falar muito sobre o trecho longo onde Deza e Custardoy caminham da região do Retiro (em Madrid) até a região da praça do Oriente, que é espetacular; sobre a teoria de Marías sobre o que aconteceu no mundo entre a queda do muro em 1989 e os atentados terroristas de 2001; sobre a presença do personagem Custardoy ou os personagens ligados ao mundo taurino; ou sobre a doença e as conversas que Deza tem com seu pai; sobre as diferenças entre o jogo sujo, de desinformação, na guerra civil espanhola e na segunda guerra mundial; ou a transformação de Deza; a ainda a discussão sobre a vida pessoal e o trabalho; ou mesmo sobre as línguas e como os povos se relacionam e se afastam por conta das diferenças entre as línguas; enfim, há muitas coisas neste romance. Talvez um dia eu venha a relê-lo de uma vez só, sem interrupções. Se nos dois primeiros volumes a ambientação do romance se concentra em poucos cenários, deste último há muito mais sobre o que refletir. Aparentemente com este livro Javier Marías resolve questões pessoais com os algozes franquistas de seu pai e com seus anfitriões ingleses. Vamos esperar um tanto para ver que outra obra, que outro romance, ele escreverá após o longo período em que esteve envolvido com "Tu rostro mañana". [início 26/08/2009 - fim 04/09/2009]
"Tu rostro mañana: Veneno y sombra y adiós", Javier Marías, editora Alfaguara (1a. edição) 2007, brochura 14x23, 709 págs. ISBN: 978-84-204-7235-5

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

castillos de cartón

Nunca havia lido um livro de Almudena Grandes, mas sabia que ela é uma escritora muito respeitada na Espanha. Encontrei este "Castillos de cartón" em uma loja de livros de segunda mão e li com muito prazer. Trata-se de uma história envolvendo uma mulher e dois homens, ao longo de vinte anos, que se conhecem em um curso de artes plásticas, se envolvem afetivamente como só os jovens sabem fazê-lo e por fim se afastam em meio a mentira e a dor (afinal o amor é primo da morte, convém sempre lembrar). É um livro escrito de forma bastante esquemática, em quatro curtos capítulos, cujos títulos já apontam para o desfecho da história. O que dizer da seqüência "arte, sexo, amor, morte"? Esta previsibilidade irrita um tanto, mas não se pode dizer que o livro é ruim. É uma história onde se discute como o sucesso e o talento aproxima e afasta as pessoas, como as histórias pessoais são afetadas pelo contato social, como cada um de nós reage às demandas do trabalho, da família, do sexo. Lembrei também daquela história do Proust onde ele fala do "fim do ciúme" (em uma das histórias de "Os trabalhos e os dias"). Grande Almudena, um dia voltarei a procurar algo dela. [início 21/08/2009 - fim 24/08/2009]
"Castillos de cartón", Almudena Grandes, Tusquets editores (1a. edição) 2009, brochura 12,5x19, 199 págs., ISBN: 978-84-8383-542-5

domingo, 6 de setembro de 2009

guia michelíndio

Comprei este livro mais pela piada da capa, onde se faz troça dos guias turísticos tradicionais, como o Michelin. Apesar da segunda metade do livro ser muito irregular, como se a autora não soubesse o que mais dizer sobre o assunto, dá para se aprender um tanto com ele. Ela usa a idéia de "programa de índio" para classificar viagens que não deveríamos fazer, comportamentos que deveríamos evitar, compras que deveríamos ser proibidos de fazer. O livro é bem humorado e ali não se preocupa com a informalidade do texto, como se estivesse mesmo em um boteco ensinando uma amiga algo que ela aprendeu em suas andanças. Daí que a abordagem é mais voltada para o público feminino, mas nada que torne o livro sexista demais, simplesmente ela tem mais experiências femininas para contar. O livro é dividido em três partes de tamanhos irregulares. A primeira parte é a mais essencial e boa de ser lida por qualquer aprendiz de turista ou sujeito que pretenda se aventurar em lugares que não conhece. A segunda parte é mais engraçadinha, onde ela lista "dicas de onde e quando não ir". Qualquer pessoa que já viajou um tanto sabe que há programas específicos para cada tribo: não adianta refazer uma viagem que você fez sozinho, jovem e de mochila nas costas, com sua mulher e sua sogra, seus filhos e seus cachorros, vai ser mesmo uma roubada. Ela lista uma dezena ou mais lugares que são mesmo só para aficcionados e nômades natos: ver a troca da guarda na Inglaterra, passear de barco no Mississipi, ver o museu do sexo de Amsterdan, ir ao Havaí para participar de um luau fake, etc e tal. Na duas últimas partes ela dá sugestões sobre alimentação, compras, presentinhos, sexo casual, fotografias e a inevitável volta ao trabalho. Divertido, para se ler em um dia de sol a beira da praia e planejar uma próxima viagem. [início 16/08/2009 - fim 22/08/2009]
"Guia Michelíndio", Helena Perim Costa, Matrix editora (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 123 págs., ISBN: 978-85-7788-068-3

sábado, 5 de setembro de 2009

enchente de 41

O jornalista Rafael Guimaraens compilou neste livro quase uma centena de belas (e também terríveis) fotos tomadas na cidade de Porto Alegre durante uma grande enchente acontecida no inverno de 1941. Trata-se de um trabalho muito bem cuidado, publicado com dinheiro de uma lei de incentivo a cultura da cidade de Porto Alegre, onde encontramos além das fotos em grande formato de uma boa bibliografia e também um texto relativamente curto que explica a situação econômica e política da cidade imediatamente antes da enchente, bem como nas repercusões provocadas por ela. Os dados não chegam a cansar e o leitor pode simplesmente folhear o livro e tentar entender como aquela tragédia deve ter afetado toda a população de Porto Alegre. Ele cita um trabalho onde se afirma que os prejuízos provocados pela enchente alcançaram algo em torno de 30 milhões de dólares. Fala também dos ciclos meteorológicos que criaram as condições para uma enchente daquela magnitude. O autor também discute a funcionalidade do muro de quase três quilômetros construído ao lado da Avenida Mauá trinta anos depois da enchente. Há detalhadas pranchas com os projetos iniciais propostos. Achei o final muito abrupto, mas o texto é mesmo secundário neste belo livro. É difícil o leitor não ficar convencido da importância da memória e de seus registros físicos. Post-Scriptum: um comentário do Athos me fez lembrar que pelos dados do livro choveu muito no interior do estado, principalmente em Santa Maria, mas eu acredito que os registros fotográficos daqui não tenham sido tão numerosos e assim os estragos e a destruição não ficaram registrados. Cabe dizer também que foi o Athos que me sugeriu este livro, em um dia de vagabundagem pela feira do livro de Santa Maria. [início 13/08/2009 - fim 22/08/2009]
"A enchente de 41", Rafael Guimaraens, editora Libretos (2a. edição) 2009, brochura 19x28, 100 págs., ISBN: 978-85-88412-21-7

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

saber o no saber

Os livros de Vázquez Montalbán sempre me encantam. Este primeiro volume da coleção Carvalho gastronômico é dedicado aos prazeres das comidas e dos sabores, do tempo dedicado à preparação e ao desfrute daquilo que é mais que simplesmente alimento e energia para um vivente, enfim, aquilo tudo que diferencia homens civilizados e bárbaros (sempre lembro daquel capítulo do Ulysses do Joyce onde Leopold Bloom perde o apetite ao ver uns sujeitos almoçando feito bestas em um pub dublinense). A primeira edição "Saber o no saber" foi publicada um ano antes da morte de Vázquez Montalbán. O formato é interessante. Há uma longa seção inicial na forma de dicionário, onde verbetes de A a Z explicam porque o ato de comer e o saber gastronômico são igualmente importantes, como a memória do paladar nos ajuda a fixar passagens de nossa infância, de nossa família, de nossa tribo, de nossa cidade. Em uma segunda seção há verbetes biográficos curtos, detalhando um tanto a vida de grandes chefs, cozinheiros, escritores que cultivaram o conhecimento gastronômico. A bibliografia do livro é extensa e generosa. O texto é sempre divertido, entremeado nele há trechos curtos dos muitos livros de Montalbán onde a culinária aparece, exuberante. No dia em que achei este volume (no mercado de san miguel, um lugar simpático de Madrid) só consegui encontrar um outro volume, o terceiro, dedicado a cozinha espanhola de mestiçagem (na definição do autor aquela de Murcia, Andalucía, Extremadura e das ilhas Canárias). Conseguirei encontrar os demais? Veremos. [início 21/07/2009 - fim 21/08/2009]
"Saber o no saber: manual imprescindible de la cultura gastronómica - Carvalho Gastronómico, vol.1", Manuel Vázquez Montalbán, ediciones B (Zeta Bolsillo) (1a. edição) 2008, brochura 12,5x20, 253 págs. ISBN: 978-84-9872-106-5

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

cidade dos deitados

Comprei este livro para dar de presente, mas quem disse que eu consigo ter um livro em mãos e ao menos não folheá-lo? É um livro para jovens mais que para crianças e um livro que trata da morte com muito humor. As ilustrações são muito apropriadas. Elizabeth Tognato se apropriou da simbologia dos grupos góticos, punks e metaleiros de São Paulo (costumeiros frequentadores dos belos cemitérios que ficam na rua da Consolação, na Cardeal Arcoverde e na Doutor Arnaldo). Estes cemitérios são verdadeiros museus ao ar livre, repletos de esculturas representativas de vários estilos e épocas. Ao mesmo tempo passear por eles é passear um tanto pela história recente de São Paulo e do Brasil. Este livro faz parte de uma coleção de títulos voltados para o público infanto-juvenil chamada Ópera Urbana. São livros que vem acompanhados com libretos realmente didáticos, onde se pode aprender um pouco sobre um assunto sem os aborrecimentos de um processo pedagógico tradicional. A autora Heloisa Prieto se confessa uma admiradora de escritores sombrios (digamos assim) como Edgar Allan Poe, e consegue criar uma boa história (um curto conto na verdade) que se sustenta sem maiores problemas. Vou inventar mais motivos para presentear os filhos de meus amigos e ler os outros títulos desta coleção, assim mato um tanto as saudades da velha São Paulo dos campos de Piratininga e também aprendo algo novo. [início 18/08/2009 - fim 19/08/2009]
"A cidade dos deitados", Heloisa Prieto, ilustrações de Elizabeth Tognato, editora Cosac Naify e Edições Sesc SP (1a. edição) 2009, capa-dura 16,5x22, 60 págs. ISBN: 978-85-7503-296-1

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

uma letra puxa a outra

Noutro dia vi na televisão uma entrevista com o ilustrador Kiko Farkas e fiquei curioso em conhecer seu trabalho. Encomendei para dar de presente para o filho de um amigo meu mas claro que antes eu tinha de ler (e depois embrulhar como se fosse novo, paciência). Minha surpresa foi saber que o texto do livro é do poeta e tradutor José Paulo Paes, morto há uns dez anos, que eu conhecia de outros carnavais. Cousa boa. O livro é um abecedário muito divertido, feito para quem está mesmo na fronteira de entender as letras e os sons. José Paulo Paes construiu umas quadrinhas rimadas que certamente ajudam os pequenos (e aqueles que já frequentam a rua do Alzheimer) a memorizarem as letras. As ilustrações são bonitas e muito coloridas, de muito bom gosto mesmo. Editado em 1992, meu volume é da décima-oitava reimpressão, feito impressionante. O livro ganhou o prêmio Jabuti de melhor produção editorial infanto ou juvenil de 1993 (trata-se de um prêmio importante da Câmara Brasileira do Livro). Sempre fico com pena de me desfazer de livros, mas este vai mesmo ser mais útil nas mãos de um jovem leitor que esquecido nas prateleiras de minha povoada biblioteca. [início 19/08/2009 - fim 19/08/2009]
"Uma letra puxa a outra", José Paulo Paes, Kiko Farkas, editora Companhia das Letrinhas (1a. edição) 1992, brochura 23x25, 48 págs. ISBN: 978-85-85466-12-1

terça-feira, 1 de setembro de 2009

a garota de cassidy

David Goodis, um escritor de romances populares (pulp fictions), também trabalhou na industria cinematográfica americana de baixo orçamento (os filmes noir dos anos 1950 que tanto encantariam os franceses posteriormente), mas somente alcançou algum reconhecimento após sua morte. François Truffaut fez uma adaptação de um de seus livros (Atire no pianista) e ao menos no círculo de leitores de romances policiais Goodis passou a ser respeitado como tão representativo quanto Raymond Chandler ou Dashiell Hammett. Isto eu aprendi entre bits e bytes desta porosa web, vá saber se estas informações são mesmo confiáveis. De qualquer forma ganhei o livro e resolvi experimentar. "A garota de Cassidy" é um livro que se deixa ler sem muito esforço. É uma história que envolve um grupo curioso de alcoólatras, sujeitos violentos e desesperados, brutalizados não pela sociedade ou terceiros particularmente perversos, mas sim por eles mesmos. É um livro onde homens e mulheres estão atrapados em uma vida de dissipação e misérias sem fim. Um sujeito e sua mulher (Cassidy e sua garota afinal de contas) mantêm um relacionamento pouco edificante e invejável. Cassidy sonha com uma eventual separação, desintoxicar-se, mudar de hábitos, mas tanto no mundo da ficção quanto no mundo real é muito difícil modificar aquilo que já está entranhado em nosso modo de ser. A bem da verdade eu acho que há uns bons furos nesta trama. Para um sujeito que foi educado adequadamente e tornou-se piloto de avião Cassidy é bem limitado intelectualmente, beirando a boçalidade. As circunstâncias de um acidente de ônibus e de um acordo com um capitão de navio são patéticos de tão inverossímeis. Bom, quase todos os personagens estão tão chapados pelo álcool que não poderiam mesmo se comportar de outra forma, mas tudo me pareceu artificial demais, com comiseração demais, para que um eventual leitor alcance alguma sabedoria. De qualquer forma ainda vou tentar ler mais alguns dos livros de Goodis. [início 18/08/2009 - fim 19/08/2009]
"A garota de Cassidy", David Goodis, tradução de Jimi Joe, editora LP&M (1a. edição) 2006, brochura 11x18, 224 págs. ISBN: 978-85-254-1444-1