domingo, 30 de outubro de 2016

las manos de los maestros: ensayos selectos I

É inevitável, cedo ou tarde um sujeito interessado em literatura deve voltar ao Coetzee, caso precise de um estímulo realmente provocador. Dos treze ensaios reunidos neste primeiro volume de "Las manos de los maestros" três eu já conhecia de "Inner Workings" (aqueles dedicados a Walt Whitman, William Faulkner e Arthur Miller) e três de "Stranger Shores" (os identificados por What is a classic?, Gordimer and Turguéniev e Doris Lessing). Os demais são mais recentes, quase todos publicados na revista New York Review of Books. A grande maioria trata explicitamente de questões literárias, mas há também ensaios cuja ênfase é em interpretações sociológicas, reflexões sobre a África do Sul, análises sobre autores radicados na Austrália e finas indagações culturais, coisas que o Coetzee sempre faz muito bem. Coetzee fala de T.S. Eliot e J. S. Bach a partir de sua própria biografia; analisa o fundo moral, cristão a bem da verdade, na crítica que os hotentotes e bôeres experimentavam na África do Sul colonial; fala de pintores e poetas sul-africanos que descreveram a paisagem daquele país; reflete sobre o diário de uma espécie de anti-herói sul-africano dos tempos dos bôeres, Hendrik Witbooi; discute livros recém publicados (quando não a obra inteira) de vários autores, em geral tão seminais quanto ele: Nadine Gordimer, Dóris Lessing, William Faulkner, Patrick White, Les Murray, Philip Roth, Walt Whitman, Arthur Miller e Gerald Murname. Maravilha.
[início: 10/09/2016 - 27/10/2016]
"Las manos de los maestros: Ensayos selectos I", J.M. Coetzee, tradução de Pedro Tena, Eduardo Hojman e Javier Calvo, Barcelona: Penguin Random House Grupo Editorial, 1a. edição (2016), brochura 13,5x23 cm., 255 págs., ISBN: 978-84-397-3145-0 [edição original: (New York: New York Review of Books) 2001, 2007, 2010, 2011, 2012, 2013; Writers at the Movies (New York: Harper Collins) 2000; South African Literary History: Totality and/or Fragment (Essen: Die Blaue Eule) 1997; Current Writing (Graz) 1993; Votre paix ser la mort de ma nation (Paris) 2011)]

sábado, 29 de outubro de 2016

mutações da literatura no século XXI

Em quatorze ensaios curtos e muito bem escritos Leyla Perrone-Moisés alcança oferecer ao leitor um bom panorama da literatura contemporânea. Nos seis primeiros dos quatorze ensaios ela faz um resumo do que pode ser entendido com os dilemas da cultura no século XX. Ela discute, define, conceitua, esclarece, reflete sobre o que pode ser dito do "fim da literatura", da herança cultural que pode ser recebida por meio da literatura e dos livros, do pós-modernismo na literatura, dos tons infinitos de cinza que são as formas de crítica literária e do ensino de literatura nas escolas. Nos demais ensaios ela analisa em detalhe as experiências narrativas mais comumente utilizadas nas últimas décadas, por escritores brasileiros e estrangeiros. Fala dos modismos e do mercado dos livros, das reflexões que escritores de sucesso produzem acerca de seu ofício, dos exercícios de metaficção e intertextualidade, de autoficção e das tentativas de capturar a modernidade, da literatura de entretenimento e da literatura sofisticada, que cobra erudição do leitor. O tom é sempre neutro. Ela nunca utiliza categorias de apreciação ou gosto vagas. Há livros que ela analisa minuciosamente e outros que descreve em dois ou três curtos parágrafos. Compara estilos e propostas narrativas. Tenta contrastar os ciclos ficcionais do século passado com aquilo que é produzido hoje. Fala de diversos escritores sem induzir o leitor a classificar um autor como melhor que outros. Certamente ela poderia obscurecer o texto com chavões acadêmicos e outros malabarismos, mas afortunadamente ela preferiu escrever um livro que mesmo o mais neófito dos leitores, o mais iludido dos jovens youtubers poderá aproveitar. Enfim, aprende-se um bocado com Leyla Perrone-Moisés. Belo livro.
[início: 13/10/2016 - fim: 20/12/2016]
"Mutações da literatura no século XXI", Leyla Perrone-Moisés, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras), 1a. edição (2016), brochura 14x21 cm., 296 págs., ISBN: 978-85-359-2773-3

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

o gato por dentro

Aborrecido em um aeroporto e já tendo terminado os dois livros que levara comigo, inevitavelmente procurei uma livraria. A seleção em oferta era sofrível, mas por sorte consegui encontrar esse William Burroughs e um Hunter S. Thompson (sobre o qual em breve escreverei aqui). "O gato por dentro" é uma pequena série de apontamentos autobiográficos que Burroughs fez sobre seus gatos. O sujeito fala sobre os gatos como se deve, com o maior respeito e gratidão, sabedor dos muitos méritos que os gatos têm e que por fortuna partilham conosco, pobres homo sapiens sapiens que somos. A edição original incluía desenhos e grafismos de Brion Gysin, o artista plástico, músico e poeta multitalentoso que inspirou não apenas o povo da geração Beat (Burroughs entre eles), mas também a geração imediatamente posterior (David Bowie, Keith Haring, Mick Jagger). A edição original com os desenhos de Gysin custa uns três mil dólares hoje em dia. Bueno. Burroughs descreve seu livro como uma alegoria, na qual sua vida espelha-se à dos gatos que o cercam (os gatos oferecendo infinitas charadas, inventando jogos e diversões, procurando proteção). Um texto assim poderia facilmente descambar para o piegas, mas Burroughs sabe o que escreve. Há algo no texto que lembra ensinamentos zen, princípios filosóficos sofisticados. Grande Burroughs. Como não concordar com ele quando diz: "Nos somos os gatos por dentro. Os gatos que não podem andar sozinhos, e para nós há apenas um lugar". A quantas tristezas estamos condenados.
[início/fim: 20/10/2016]
"O gato por dentro", William Burroughs, tradução de Edmundo Barreiros, Porto Alegre: L&PM editores, 1a. edição (2015), brochura 11x18 cm., 102 págs., ISBN: 978-85-254-1526-4 [edição original: The Cat Inside (New York: The Grenfell Press) 1986]

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

filhos da américa

Nunca havia lido nada da Nélida Piñon. Noutro dia vimos, Helga e eu, uma boa entrevista com ela, senhora lúcida e de ideias sutis. Sua linguagem nos enfeitiçou, sua sagacidade parecia vir de alguém que sabe dos aborrecimentos da vida, mas não se abala por eles, sem ser pessimista ou cabotina. No final de semana seguinte o acaso, sempre um fiel camareiro, fez-me encontrar esse "Filhos da América". São ensaios, discursos, necrológios. A edição, frouxa para dizer o mínimo, não identifica a origem deles. Mas o leitor entende pelo contexto que um é o discurso referente as comemorações do centenário de falecimento de Machado de Assis, que ela proferiu na Academia Brasileira de Letras; outro um discurso de aceitação de um prêmio acadêmico em uma universidade gaúcha; outro ainda o discurso de recepção a um colega imortal na ABL. São textos muito bons. Vários deles tratam de sua biografia literária, da gênese de alguns de seus livros ("Vozes do deserto", "República dos sonhos", Guia-mapa de Gabriel Arcanjo"). Claro, um dia preciso ler sua ficção, seguro que sim. Outros são textos de reflexão sobre literatura, as fontes gregas, hebraicas, romanas e ibéricas que nutriram a língua e a literatura brasileira. Outros ainda são necrológios, registros sobre a morte de amigos queridos ou personalidades por quem guarda admiração (Clarice Lispector; Carmem Barcells, Júlio Cortazar, Raquel de Queiroz, Tomás Elroy Martinez, santa Tereza de Ávila, Guilherme Cabrera Infante, Guamám Ayala, José de Anchieta, José Maria Arguedas, Marília Pêra). Há um conjunto de cinco ou seis ensaios relativamente curtos que louvam o brasileiro maior de sua grei (palavra que ela usa invulgarmente): Machado de Assis. Por meio deles ela faz reduções sociológicas e antropológicas sobre o Brasil e o continente Ibero-Americano; reflete sobre a cultura e a palavra; percorre a geografia do Rio de Janeiro; tenta decifrar os mitos fundadores da literatura brasileira e o papel singular de Machado. Muito interessante mesmo. Um leitor curioso pode encontrar parte do material reunido nesse "Filhos da América" na página eletrônica dedicada a ela que está depositada na ABL. Vale a pena.
[início: 20/10/2016 - 24/10/2016]
"Filhos da América", Nélida Piñon, Rio de Janeiro: editora Record, 1a. edição (2016), brochura 14x21 cm., 398 págs., ISBN: 978-85-01-08770-6

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

um nazista em copacabana

Ubiratan Muarrek conta uma história improvável, mas sua técnica e construção narrativa realmente se destacam e salvam seu livro. O título é enganador, induz o leitor a algo bastante periférico na trama, muito embora esse personagem que brota do título possa ter sido propositalmente abandonado para eventualmente ser explorado no futuro (ao menos eu, o menor dos anões desta paróquia, não abandonaria Otto Funk morto nos anos 1970/80, solitário num apartamento no Flamengo, sem reinventá-lo e a seus sucessos pregressos, mas isso é algo que só o Muarrek poderá fazer, caso tenha tempo e tino). "Um nazista em Copacabana" conta na verdade a história de um bobão chamado Delúbio. Esse sujeito talvez seja mineiro e talvez seja são-bernardense (e de bobões são-bernardenses ou mineiros eu entendo muito bem, pois nasci em São Bernardo do Campo nos anos 1960, cidade onde boa parte da trama se desenrola, e sou neto de mineiros). Bueno. Pois este sujeito se envolve com Diana, uma garota que é filha do tal "nazista de Copacabana", Otto Funk. O romance dá conta dos desacertos políticos típicos do Brasil contemporâneo, de como os indivíduos comuns junto com seus sonhos e projetos acabam sempre destruídos pela máquina eficiente de corrupção e hipocrisia que opera em todos níveis deste desafortunado país. Um terço do romance canta as cousas do Rio de Janeiro, primeiro sobre como um imigrante alemão acaba se radicando por lá e se envolvendo com uma carioca da gema, Iracema, mãe de Diana. Depois de como são os dias aborrecidos de Diana, grávida e assustada na companhia da mãe e de uma vizinha voyeur. A parte mais longa do romance dá conta do quê fez Diana em São Bernardo do Campo com seu príncipe consorte, Delúbio. O que sustenta o romance é o hábil controle que Muarrek tem dos pensamentos de seus personagens, de como lentamente ele esclarece ou obscurece a trama, povoa a narrativa com personagens curiosos que espalham pistas falsas para o leitor. Interessante. Ojo. Esse Ubiratan Muarrek deve ter outras cousas para serem lidas em seu balaio de letras. Logo veremos.  
[início: 19/08/2016 - fim: 18/09/2016]
"Um nazista em Copacabana", Ubiratan Muarrek, Rio de Janeiro: editora Rocco, 1a. edição (2016), brochura 16x23 cm., 350 págs., ISBN: 978-85-325-3006-6

terça-feira, 25 de outubro de 2016

um amor feliz

Da Wislawa Szymborska já li duas boas antologias de poesia, o "Poemas", lançado em 2011 pela Companhia das Letras, e o "Paisagem com grão de areia", da portuguesa Relógio D'Água. Recentemente a tradutora Regina Przybycien produziu uma seleção de poemas, desta vez reunindo cousas desde o primeiro livro publicado pela Wislawa (Wolanie do Yeti, de 1957) até o último (o póstumo Wystarczy, de 2012). São 85 poemas, retirados de onze livros (Wolanie do Yeti, 1957; Sól, 1962; Sto Pociech,1967; Wszelki Wypadek, 1972; Wielka Liczba, 1976; Ludzie na Moscie, 1986; Koniec i Poczatek, 1993; Chwila, 2002; Dwukropek, 2006; Tutaj, 2009; Wystarczy, 2012). Os temas são bastante variados. A tradutora chama a atenção pelo interesse da poeta por temas científicos, pela astronomia, matemática e biologia, mas também encontramos investigações curiosas sobre o mundo das coisas inanimadas (pedras, areia, água, terreno) e dos conceitos puros (beleza, consciência, ausência, risos, cores). E há também as relações humanas, as coisas boas e más que fazemos todos, nós homo sapiens sapiens. Não é o tipo de livro para se ler de capa a capa. Folheamos vagabundos o livro e encontramos prováveis verdades, enigmas sem solução, perguntas que se esquivam de respostas, vestígios de memórias sepultadas pelo tempo, que se metamorfosearam em algo mais puro (será isso a poesia?). A poeta se orgulha de ser mulher, num mundo misógino e duro; controla a ironia que verte em gotas nos olhos do leitor. O livro inclui também o curto discurso de aceitação do prêmio Nobel de literatura de 1996, onde ela louva a potência infinita que guardam duas palavras que todos deveríamos prezar: "não sei". Grande poeta. Evoé Szymborska, evoé.
[início: 23/09/2016 - fim: 18/10/2016]
"Um amor feliz", Wislawa Szymborska, tradução de Regina Przybycien, São Paulo: editora Companhia das Letras (1a. edição) 2016, brochura 14x21, 327 págs. ISBN: 978-85-359-2788-7 [edição original: The Wislawa Szymborska Foundation]

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

el traductor del ulises

Lucas Petersen, jovem jornalista argentino, dedicou-se a escrever uma biografia completa e detalhada de José Salas Subirat, o primeiro tradutor do Ulysses para o espanhol. Nas palavras do próprio Salas Subirat, ainda em 1928: "Una autobiografia no tiene ninguna importancia. Si mi biografía la hiciera otro me gustaría leerla: es posible que supiera algo con respecto a mí.". "El tradutor del Ulises" tem quatrocentas páginas, só um quarto delas, pouco mais que cem, dedicadas a tradução do Ulysses, de James Joyce. Muito provavelmente ninguém se daria ao trabalho de escrever sobre Salas Subirat caso ele não tivesse se dedicado a traduzir o Ulysses. Não que sua vida não tivesse sido movimentada, cheia de passagens mirabolantes (o sujeito sobreviveu até a um pouso forçado de um avião, numa praia brasileira, nos anos 1950). De fato, como não se interessar por um autodidata; escritor bissexto de ficção (que chamou a atenção de Mario de Andrade, ainda no início dos anos 1920); frequentador excêntrico de salões literários; diligente vendedor de seguros de vida; empresário talentoso; tradutor; editor; estudioso de filosofia; melômano e crítico musical; autor de manuais de auto-ajuda. Petersen nos apresenta um homem complexo, multitalentoso, que tem facilidade para aprender línguas e é respeitado por sua capacidade empresarial. A crítica especializada costuma reputar muitos defeitos a tradução de Salas Subirat (Borges dizia que era péssima, "pero todo el mundo aplaudía aquella tontería"). Mas é fato que ele a produziu em 1945, vinte anos após a publicação original, sem acesso algum a outras traduções e ao enorme aparato técnico que hoje pode ser consultado rapidamente pela internet. Cabe registrar que a primeira tradução para o português só foi publicada em 1966, por Antônio Houaiss. Mesmo a segunda edição de Salas Subirat, revista e publicada em 1952, não pode ser considerada definitiva, pois ele interrompeu-a por conta da grave doença de uma de suas filhas (uma terceira versão, do final dos anos 1950, perdeu-se naquele acidente de avião que citei acima). De qualquer forma Petersen enfatiza as soluções criativas da tradução de Salas Subirat. Aparentemente sua primeira tradução foi produzida mais para consumo próprio, para que a trama e o encadeamento de sucessos do livro se desvelasse, enquanto que na segunda versão, já mais seguro, arrisca muito mais, alcançando emular em espanhol a musicalidade, a fusão de palavras, o fluxo de consciência das personagens e os jogos verbais propostos por Joyce (e eliminar os defeitos apontados pela crítica, sobretudo os apontados por Borges). A edição é muito bem cuidada. Inclui um bibliografia completa de Salas Subirat; as dezenas de fontes bibliográficas utilizadas por Petersen, reproduções fotográficas e fac-símiles do exemplar que Salas Subirat utilizou para sua tradução e um bom índice onomástico. Um leitor que domine o espanhol tem hoje a disposição três outras traduções do Ulysses, certamente devedoras dos muitos caminhos explorados por Salas Subirat: a de José María Valverde (de 1976), a de Francisco García Tortosa e María Luisa Venegas (de 1999) e de Marcelo Zabaloy e Edgardo Russo (de 2015). Bom divertimento. 
[início: 02/10/2016 - fim: 16/10/2016]
"El traductor del Ulises: Salas Subirat. La desconocida historia del argentino que tradujo la obra maestra de Joyce", Lucas Petersen, Buenos Aires: Sudamericana / Penguin Random House Grupo Editorial, 1a edição (2016), brochura 15,5x23 cm., 398 págs., ISBN: 978-950-07-5613-6

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

el ojo castaño de nuestro amor

As vinte narrativas autobiográficas desse "El ojo castaño de nuestro amor" devem também um bocado para a invenção. Se elas brotaram da memória passaram também pelo filtro brincalhão de um escritor que sabe as regras de seu ofício e as infinitas formas de manipular um leitor. Cartarescu chega aos cinquenta anos e precisa fazer uma espécie de balanço, dar contas de suas experiências mais transformadoras. Em quase todas há uma feroz ironia, um olho que pisca buscando cumplicidade (talvez solidariedade antes que cumplicidade, mas nunca condescendência), encontramos o desnudamento de um sujeito que sabemos estar de alguma forma nos ludibriando, como faz um mágico num circo. Os temas são variados. Cartarescu fala de uma ilha que desapareceu no Danúbio (por conta de uma hidrelétrica) que inspirava seus sonhos de garoto; da gênese de seu primeiro "eu" poeta; conta a vida de Ovídio, o poeta romano exilado em Tomis; partilha seu assombro com os resultados da queda do regime ditatorial de Ceausescu; fala do desejo juvenil em possuir uma legítima calça Levi's; dos efeitos do café sobre ele e a gênese de seu primeiro livro em prosa, "Lulu"; da história de como conseguiu escrever "Levantul", seu poema épico; faz um censo acadêmico sobre a produção poética contemporânea da Romênia; analisa o "Lolita", de Nabokov, e explica como os leitores são os grandes senhores da interpretação de um texto; fala de seu amor aos livros; conta a história de sua mãe e a de uma namorada (de quem roubo sonhos para transcrevê-los em seus livros); descreve a juventude e os aborrecimentos da velhice; explica o que entende sobre "ser europeu". Ri-se das situações cômicas descritas por ele, típicas de um país onde só a censura e o controle social explicam como somos afinal capazes de tolerar comportamentos esdrúxulos. E ri-se também dos momentos mais amargos recriados por ele, aqueles mais graves, pois a função do riso também é amortecer o efeito das dores e das experiências ruins (e eventualmente transformá-las em literatura, como não?).
[início: 19/09/2016 - fim: 02/10/2016]
"El ojo castaño de nuestro amor", Mircea Cartarescu, tradução de Maria Ochoa de Eribe Urdinguio, Madrid: editorial Impedimenta, 1a. edição (2016), brochura 14x21 cm., 208 págs., ISBN: 978-84-16542-32-1 [edição original: Ochiul caprui al dragsotei noastre (Bucaresti: Cartea Romanesca), 2015]