quarta-feira, 30 de novembro de 2011

teatro

Provocado por don Hugo Crema eis que decidi aumentar minha cota de livros de autores brasileiros. Não me arrependi com "Teatro", romance antigo, de 1998, reimpresso recentemente. As pistas falsas bem contadas de "Teatro" são uma festa para o leitor. Bernardo Carvalho apresenta uma história intrincada, um romance psicológico realmente interessante, que funciona tanto como estudo de caso da forma como opera a mente de um sujeito paranóico, quanto pela inventividade e concisão. O livro é realmente pequeno, mas tão bem escrito que não reclamamos da economia de Carvalho. Descrever a narrativa com alguma precisão desarma os truques utilizados pelo autor, mas vamos a ver o que eu consigo: São dois capítulos. No primeiro Carvalho decalca para suas finalidades um personagem que é aparentado a Theodore Kaczynski (o Unabomber, o professor universitário amalucado que tornou-se terrorista urbano e assombrou os Estados Unidos por muitos anos, até ser preso, em 1997). O narrador da história descreve sua participação na investigação das atividades desse personagem, mas ao saber fortuitamente da prisão do sujeito percebe que deve fugir, procurar exílio, temer por sua vida e sanidade. Como aquele curandeiro de Viena já nos ensinou nada é trivial em um delírio crônico. A imaginação, articulação e lógica interna dos paranóicos sempre são surpreendentes. No segundo capítulo encontramos um ator pornográfico famoso enredado em um assassinato político. Um fotógrafo tenta entender as motivações do assassinato e o leitor começa a entender as mensagens cifradas com as quais o autor povoou sua história. Os dois capítulos se complementam, o que poderia ser aceito como verdade passa rapidamente a irrelevância, o que é dito na segunda parte pode ser apenas o discurso de um louco. As falsidades bem ensaiadas, os estudados simulacros, as melhores atuações de atores sobre o palco (como diz um bolero antigo) deleitam do começo ao fim. Fazia tempo que não lia algo tão instigante e provocador. Grande livro. [início 18/11/2011 - fim 22/11/2011]
"Teatro", Bernardo Carvalho, São Paulo: editora Companhia das letras, 1a. edição (1998), brochura 14x21 cm, 132 págs. ISBN: 85-7164-749-6

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ainda temos tempo

Lançado em 2006, durante a 30a. edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, "Ainda temos tempo" reúne quinze histórias assinadas pelo industrioso Leon Cakoff. São antes causos que crônicas, antes registros de viagens e aventuras que ensaios sobre cinema, sua grande paixão. Cakoff morreu em outubro, às vésperas da 35a edição da Mostra que ele idealizou em 1977. Meses antes eu havia lido na Folha de São Paulo um relato corajoso seu dando conta dos aborrecimentos decorrentes da descoberta de um câncer no cérebro e da arriscada intervenção cirúrgica pela qual ele havia passado. O texto oferecia conforto e solidariedade a todos que padecem de algum mal, mas também tinha alguma ironia e sarcasmo (de fato não há porque ser auto-indulgente ao nos confrontar-nos com a morte). "Ainda temos tempo" é irregular, mas gostoso de ler. Cakoff devia estar acostumado a contar esses causos aos amigos, mas algo da graça das histórias se perdeu ao serem fixadas em livro. Cakoff, que formou-se em sociologia, é generoso em interpretar o que vê nos países que visita, mas não é nem definitivo, nem professoral. Nos solidarizamos com ele quando um casal de jovens franceses rouba seu dinheiro, sentimos alívio quando um burocrata russo o libera para voltar a Alemanha, aprendemos a valorizar o tempo que dedicamos aos prazeres. Seu senso de liberdade é algo marcante, invejável. Ele não tem medo de apontar o dedo para os reis nus das tiranias, do comunismo e do fascismo, da hipocrisia e da mentira. Ao mesmo tempo sabe contar as coisas boas, os encontros e passeios com amigos, o aceno cúmplice a um desconhecido, o copo de vinho dividido com aqueles que ouvem suas histórias. Há pessoas que não precisamos conhecer pessoalmente para admirar. Ele deve ter sido um grande sujeito. O livro inclui um prefácio generoso de Carlos Reichenbach. Nota breve: Acho que este é o primeiro exemplar de um livro da Cosac Naify que encontrei realmente mal editado. Claro, pode se tratar de algo requentado por conta da morte do autor, paciência, mas além do fato da capa estar mal colada, as ilustrações, que são bonitas, mais poluem que deleitam o leitor. [início 21/10/2011 - fim 21/11/2011] 
"Ainda temos tempo", Leon Cakoff, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2006), brochura 13,5x20 cm, 176 págs. ISBN: 85-7503-556-8

domingo, 20 de novembro de 2011

não há nada lá

Soube há tempos deste livro e bem que tentei encontrar um exemplar da edição original, publicado pelo próprio Joca Reiners Terron. Mas os volumes da finada (e louvada) "Ciência do acidente" são difíceis de encontrar. Se como muitos antes dele Terron editou a si mesmo, foi como poucos, e com faro e tino, que soube editar sujeitos de verve poderosa como Glauco Mattoso, Marçal Aquino, Mário Bortolotto, Nelson de Oliveira e outros tantos. "Não há nada lá" poderia se chamar "O apocalipse segundo Joca Reiners Terron". Se João escreveu seu apocalipse na ilha de Patmos, Terron teve a idéia do seu ao sair do "Rancho nordestino", no Bixiga paulista. Algo intoxicado ele provoca alguns amigos no bar, fala de um bispo de Macau que conhecia a verdade sobre o segredo de Fátima, das maquinações que as verdades sofrem ao serem registradas, do uso político e eclesiástico das verdades, de um provável fim do livro e de um inevitável fim do mundo. Nenhum dos zé-manés que ouviram sua história de bar parece ter se convencido muito, mas ele jogou sua cerveja quente no chão, guspiu alguns tronantes "É o caralho", rumou Rua santo Antônio abaixo e foi para casa escrever sua história. Em "Não há nada lá" encontramos sete histórias aparentadas, divididas em sete séries regressivas (o livro todo é paginado em ordem decrescente, mas isso é só um artifício extra). Além desses quarenta e nove capítulos correspondentes às sete histórias, há dois capítulos soltos, um logo no início e outro quase no final: esse último é uma espécie de Gênesis, intitulado "O bispo de Macau", onde Terron conta o insight original de seu livro e aquele primeiro, "Das considerações", é um breve resumo técnico sobre um conceito geométrico, o de Tesseract. Cada uma das sete histórias que Terron conta é um recorte arbitrário na biografia de sete indivíduos, cada um enigmático e perturbado a seu modo, que fazem às vezes de anjos destruidores, portadores de selos e verdades, cavaleiros de seu apocalipse literário. Terron até inclui um glossário ao final do livro identificando objetivamente seus anjos anunciadores: William Burroughs, Raymond Roussel, Torquato Neto, Isidore Ducasse, Arthur Rimbaud, Aleister Crowley, Lúcia (de Jesus dos Santos). O livro é povoado por outros personagens (Fernando Pessoa, Billy the Kid, Jimmy Hendrix, o papa Pio XI), não menos provocadores que os anjos de Terron. Suas histórias são amalucadas e divertidas. São de alguém imerso no universo da cultura popular, de alguém que parece querer esconder sua sofisticação. Encontramos os macacos voadores de "O mágico de Oz", poetas malditos traficando haxixe, poetas esotéricos enganando a polícia, duelos a bala (e com palavras) no velho oeste, teorias conspiratórias saídas de uma espécie de arquivo x, um divertido papa transfigurado em diabo gay, cenas escatológicas dignas dos filmes do David Cronenberg, cenas belíssimas que devem algo aos filmes de Peter Greenaway, a perene presença da igreja católica em suas maquinações, o poder das drogas e alucinações. "Não há nada lá" transborda o milenarismo dos anos em que foi escrito originalmente (o final do século XX). Enfim, é um bom livro, que oferece muitas associações e provocações a um leitor curioso. Preciso ler outras coisas desse sujeito. [início 12/11/2011 - fim 18/11/2011]
"Não há nada lá", Joca Reiners Terron, São Paulo: editora Companhia das letras, 1a. edição (2011), brochura 12,5x18 cm, 160 págs. ISBN: 978-85-359-1940-0 [edição original: Não há nada lá (São Paulo: editora Ciência do acidente) 2001]

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

jakob von gunten

Esse pequeno livro de Robert Walser atormentou-me por meses. Não que sua leitura seja maçante ou exatamente impenetrável, mas sim por conta dos desvios que fiz, dos outros volumes que comecei a ler nesse período, quase sempre por absoluto impulso (isso sempre prejudica os livros que cobram mais zêlo e atenção do leitor, como é o caso de "Jokob von Gunten"). Pelo que descobri lendo alguns textos sobre ele, Walser nunca pertenceu a um grupo ou corrente literária em sua Suiça natal, mas foi, no início de sua carreira como escritor  um sujeito bastante respeitado, tanto pela poderosa imaginação literária encontrada em suas histórias quanto pelo virtuosismo com que escrevia em alemão. Ele tinha quase trinta anos, em 1909, quando "Jakob von Gunten" foi publicado. Uns quinze anos depos ele sofreu uma espécie de colpaso e passou seus últimos vinte e cinco anos internado em uma clínica psiquiátrica.  Os romances e contos de Walser ficaram praticamente esquecidos, sem grande circulação, até muitos anos depois do período em que esteve internado, mas desde o início dos anos 1970 sua obra tem sido reeditada com invulgar sucesso. Muitos escritores e críticos contemporâneos louvam a importância de sua obra. "Jakob von Gunten" é um livro curioso. Narrado em primeira pessoa, dividido em capítulos curtos e diretos, de pouco mais de duas ou três páginas cada um, encontramos nele as reflexões de um sujeito que se matricula em uma escola especializada em formar criados. É um projeto curioso, principalmente pelas ilações de que ele é membro de uma família de posses. Jakob quer ser educado não para se libertar, não para ter os instrumentos para desafiar a vida, trabalhar e crescer intelectualmente, mas justamente o oposto, ele quer anular-se em tarefas mecânicas e repetitivas, que não exijam dele nada além de subserviência, obediência cega e disciplina. Na escola, administrada por um casal de irmãos, Jakob conhece os poucos colegas estudantes que ainda estão matriculados: Kraus, Schacht, Schilinski, Fuchs, Peter, Heinrich, Tremala e Hans. O livro descreve quase sempre com sarcasmo o que se discute nas aulas. A ironia de Jakob o aproxima do diretor do instituto. Ambos desenvolvem uma relação tensa e ambivalente, um misto de agressividade e admiração mútua. Com o colega Kraus as conversas são mais técnicas, objetivando entender o futuro profissional que os aguarda. Mas é com a irmã do diretor do instituto que Jakob mantém a relação mais estranha. Ele se apaixona por ela e aparentemente é correspondido, mas essa aproximação funciona mais como uma libertação para Lisa, sempre eclipsada por seu tirânico irmão. Após a morte da irmã do diretor ele providencia bons empregos para todos os estudantes, mas não para Jakob. Os dois saem do instituto juntos, como se fossem explorar o mundo a partir dali. Minha primeira impressão é associar "Jakob von Gunten" a "O Ateneu", livro de Raul Pompéia que li há uns quarenta anos, mas nesse último as descrições dos relacionamentos entre os alunos e o final dramático são detalhados demais, explicitados demais. O livro de Walser é mais seco, deixa ao leitor a incumbência de penetrar a mente racional de Jakob, força o leitor a interpretar o bizarro desejo de Jakob de alcançar a insignificância. Livro muito apropriado para entender algo desses dias de imbecilidade reinante.  [início 01/08/2011 - fim 15/11/2011]
"Jakob von Gunten: um diário", Robert Walser, tradução de Sergio Tellaroli, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a. edição (2011), brochura 14x21 cm, 148 págs. ISBN978-85-359-1820-5 [edição original: Jakob von Gunten (Berlin, Bruno Cassirer Verlag) 1909]

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

perder teorías

Esse pequeno livro nasceu da mesma idéia que criou "Dublinesca", mas tem um outro fôlego, outra abordagem, outra proposta. Em "Dublinesca" acompanhamos os sucessos de um editor em crise, Samuel Riba, que reflete sobre o fim do mundo dos livros como conhecemos e organiza uma espécie de funeral da "era de Gutenberg", escolhendo o Bloomsday (a gloriosa festa literária dedicada ao Ulysses de James Joyce), na brumosa Dublín, para marcar o réquíem dos livros e da literatura. É um romance muito irônico e muito divertido, onde tanto os leitores contumazes de Joyce, quanto os entusiastas da prosa rascante de Vila-Matas, encontram genuíno prazer. "Perder Teorías" funciona como uma espécie de adestramento à ele. O narrador deve ser o mesmo Samuel Riba (inominado, claro), mas se nos breves capítulos de "Perder teorías" ele engendra a idéia de escrever uma teoria sistematizada do romance moderno (para logo abandoná-la, renegá-la, antecipando sua futilidade e inoperância), será em "Dublinesca" que ela é posta em prática, tranformando-se em um romance. Vila-Matas inclui um prólogo laudatório e cifrado, assinado por Liz Themerson, uma pretensa hispanista americana. Mas se é que eu entendi bem esse prólogo deve ser mais uma daquelas "trampas" vila-matianas, engendradas para confundir e brincar com o leitor, pois não existe uma Liz Themerson real. "Perder teorías" funciona como um apêndice do que se discute em "Dublinesca" e como um exercício estilístico do que encontramos sempre nos livros de Vila-Matas. Divertido, mas nada transcendental. Vamos em frente. [início 04/11/2011 - fim 14/11/2011]
"Perder teorías", Enrique Vila-Matas, Barcelona: editora Seix Barral (coleção Únicos), 1a. edição (2010), capa-dura 12x19 cm, 80 págs. ISBN: 978-84-322-4324-0

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

el viajero más lento

A edição original de "El viajero más lento" é de 1992. Quase vinte anos depois Enrique Vila-Matas o republica em uma edição muito bem cuidada da Seix Barral. O curioso da globalização é ter em mãos um livro que tem como data final, incluída no novo epílogo, o início de maio desse 2011. Das gráficas de Barcelona a Santa Maria quase sem escalas (devo incluir nesta conta, talvez por se tratar mesmo de "El viajero más lento", o bom par de meses que o livro descansou em minha biblioteca). São trinta e cinco textos, se incluirmos o prólogo e os dois novos epílogos (preparados especialmente para essa reedição). Os textos originais, publicados em jornais e revistas antes que em livro, pertencem a um período longo de tempo, o mais antigo de 1968, boa parte deles, do final dos anos 1980. São ensaios literários, reflexões sobre literatura, autores. Não li nem metade de tudo o que Vila-Matas já publicou, mas nesse livro reconheço vários dos temas caros à ele: o jogo da citação literária, dos pastiches, o jogo das influências, das opiniões sobre a história da literatura contemporânea, o censo dos habitantes do mundo maravilhoso dos livros, a invenção amalucada de conexões entre temas aparentemente díspares. O próprio Vila-Matas apresenta cada um dos textos e indica ao leitor quais narrativas longas brotaram das idéias originais publicadas no livro. Ele fala também de seu método de invenção (se é que isso é possível) e da escolha de leituras e temas. Gostei muito de ler a entrevista com Marlon Brando que ele fingiu traduzir em 1980 (cabe lembrar que nele nenhuma informação pode ser trivialmente aceita como verdadeira). A entrevista (verdadeira?) com Salvador Dali também está incluída na compilação. A história do exílio de don Pio Baroja (El acero del dolor) é particularmente tocante. Nela encontramos a associação entre o ofício do escritor e o ato de cruzar fronteiras, uma coisa boa de se pensar. É um livro para se disfrutar, com calma e prazer, mas tendo em conta, como Vila-Matas mesmo diz: "Ya hace años que no soy nada amigo de las afirmaciones categóricas. Salbo que sean dichas en tono irónico." Sejamos irônicos pois. [início 24/10/2011 - fim 13/11/2011]
"El viajero más lento: El arte de no terminar nada", Enrique Vila-Matas, Barcelona: editora Seix Barral, 1a. edição (2011), brochura 13,5x23 cm, 222 págs. ISBN: 978-84-322-0943-7 [edição original: Barcelona: Anagrama, 1992]

domingo, 13 de novembro de 2011

o dinheiro e as palavras

Li esse "O dinheiro e as palavras" simultaneamente ao bom "O negócio dos livros". Mas eles são livros com projetos diferentes. "O negócio dos livros" é um livro de memórias, onde Schiffrin conta seus tempos na editora Phanteon e reflete um tanto sobre como o ofício de editar e comercializar livros modificou-se nas últimas décadas. Dez anos após "O megócio dos livros", Schiffrin foca seu discurso em alternativas ao cenário terrível que apresenta logo na introdução: o controle da publicação de livros por conglomerados, a  pressão por lucros imediatos, a expansão desse conceito aos mercados inglês, francês, alemão e espanhol. Não apenas a diversidade de títulos, o preço deles e a facilidade de acesso a informações que está em risco, Schiffrin advoga que são a democracia e a liberdade que estão sob ataque sistemático dos grandes conglomerados. Ele afirma que a imprensa tem sido criminosa em não cobrir adequadamente essas questões. Bueno. Se eu tivesse de escolher um subtítulo adequado para os dois livros defenderia algo do tipo "It's the economy, stupid". Digo isso pois é a lógica onipotente da economia de mercado que explica a concentração da capacidade de editar e comercializar livros em poucos grupos e que explica o comportamento padronizado, hoje, de quase todos os agentes desse setor. Mesmo em um país com um mercado ridiculamente pequeno como o brasileiro as transformações são bastante visíveis (entrada de grandes grupos americanos e europeus no mercado, fechamento de livrarias independentes e sebos, fechamento de distribuidoras de livros, aumento da força relativa de compras - e controle - governamentais, pasteurização dos métodos e das idéias através da manipulação dos meios de divulgação, a presença perene da mídia no negócio). Talvez, mais do que dirigido àqueles envolvidos na linha de produção e comercialização dos livros (editores, publicitários, agentes, gráficos, designers, livreiros, antiquários, jornalistas) é aos escritores (ou aspirantes a escritores) que esse livro parece ser mais útil. Um escritor não pode hoje ficar encastelado em seus originais chorando a ausência de editor/mecenas (e vale lembrar que a morte da maioria deles aconteceu há uns dois séculos, mais ou menos). Ao menos para os agentes que não são cínicos e não vivem apenas de reproduzir conceitos bobos esse livro é seminal. Talvez, como no mundo todo, no Brasil haja uma glamurização excessiva ao ato de escrever, ao ofício de falar e viver dos livros, que, associada a uma condenação paranóica as forças do mercado, por conta da eventual capacidade dessas forças de impedir o acesso do público leitor às maravilhas criadas por esses escritores estóicos e abnegados, tenha tornado o negócio dos livros um setor complexo demais para ser entendido apenas pela régua do amor que muitos devotam a ele. [Me irrito com a patetice de quem defende o ato de ler, mas não lê - como legiões de políticos, notadamente no Brasil; defende o livre pensamento, mas é escravo mental de associações, partidos e empresas; defende apoio governamental, mas quer apenas dinheiro chapa branca para desviar para sua turminha. O negócio da cultura não é para estômagos sensíveis e eu sou um chato profissional, fazer o quê?] Schiffrin tem um texto muito bom e o livro é fácil de ler. Os capítulos são objetivos: qual é o papel do estado?, o caso norueguês pode ser copiado?, o exemplo do cinema é adequado?, a canibalização das livrarias é um fenômeno reversível?, o jornalismo sobrevive ao esgotamento imposto pelas redes sociais?, é possível financiar publicamente os jornais? Em algum momento ele pergunta se a rede de resenhistas pagos, assessores de imprensa, jornalistas palpiteiros, sujeitos que criam prêmios públicos e privados, blogueiros financiados e demais habitantes das redes sociais ajudam ou simplesmente confundem ainda mais os leitores sobre o valor intrínsico de um livro. Se os leitores soubessem que boa parte que é agitado nas redes sociais nada mais é que marola paga pelos grandes conglomerados talvez não se dirigisse tão rapidamente às livrarias. Tirando o fato de que não existe livre mercado nos campos da cultura e que os jovens estão sendo ensinados a desprezar os jornais como fonte de informação suas demais conclusões não são definitivas. Apesar de solidamente calcado em dados estatísticos (de até 2009) há a sensação de que o quadro ainda está incompleto. O papel dos meios digitais não está completamente entendido (nem será tão cedo, dada a aceleração do fenômeno). Essa nova mídia não foi completamente implementada, nem ainda consolidado, não alcançou hegemonia, nem tem um hardware, nem formato definitivo para edição, comercialização e leitura de livros. Qual será o cenário em cinco, dez anos? Schiffrin promete algumas perguntas e algumas respostas, em um novo livro, em breve. Vamos a ver o que acontece. Enquanto isso vou ali ler meus livros (e não me preocupar com os blogueiros pagos, jornalistas toscos, escritores que se descobrem gênios, mas não descobrem que são textualmente ágrafos, sujeitos que advogam a censura como ferramenta de doutrinação e editores inescrupulosos). Assim segue meu mundo.  [início 12/11/2011 - fim 13/11/2011]
"O dinheiro e as palavras", André Schiffrin, tradução de Celso Mauro Paciornik, São Paulo: editora Beí, 1a. edição (2011), brochura 13,5x20,5 cm, 149 págs. ISBN: 978-85-7850-071-9 [edição original: Words & money (Verso books, New York) 2010]

sábado, 12 de novembro de 2011

o negócio dos livros

Apesar do título e da irônica apresentação à edição brasileira assinada pelos editores da Casa da Palavra, não acho que esse seja exatamente um livro de ensaios, onde são defendidos determinados pontos de vista ou idéias (como no caso, algo sobre o funcionamento do mercado editorial). Acho que o livro funciona como a boa autobiografia que é, isso sim. André Schriffin é hoje um sujeito de quase ointenta anos, foi editor poderosíssimo nos anos 1960 e 1970, na respeitada editora Pantheon, à época parte do grupo Random House. O que ele descreve em seu "O negocio dos livros" é a ascenção e queda da Pantheon, fundada por seu pai e alguns sócios ainda no início dos anos 1940, sua inserção nela ainda muito jovem, a transformação dela em uma referência na área (livros de política, economia, sociologia, educação), a história de seu afastamento forçado em 1980 e a criação da New Press, sua editora "sem fins lucrativos". Ao descrever a Pantheon ele fala dos hábitos de leitura, do papel dos livros e da livre discussão de idéias no século XX. Claro, há longas sessões onde Schiffin detalha o processo das sucessivas e agressivas aquisições pelo qual passou o mercado dos livros, até a configuração atual, onde cinco grandes grupos monopolizam 95% das vendas no mercado americano. Para o leitor curioso esses grupos são: Time Warner, Disney, Viacom/CBS, Bertelsmann e News Corporation. O que um sujeito pode acreditar ser uma editora é na verdade parte de um mosaico de marcas de fantasia, selos editoriais, que convergem à um conjunto pequeno de conglomerados. Como esses mesmos conglomerados controlam os demais segmentos midiáticos (jornais, revistas, radios, emissoras de televisão, cinemas, internet, publicidade), o controle das idéias é quase automático. Schiffrin fala basicamente de livros de não-ficção e do mercado americano, mas a situação da literatura de ficção e das editoras em todo o mundo não deve ser muito diferente. "O negócio dos livros" é muito bem escrito, informativo, objetivo e elegante, funciona como uma espécie de thriller literário. Schiffrin apresenta muitos dados brutos sobre o mercado editorial, exemplifica e apresenta sugestões para o futuro. Como o livro foi publicado originalmente em 2000 (e em 2006 em português), Schiffrin é prudente em avaliar o impacto da tecnologia digital na produção e comercialização dos livros, mas todas as afirmações que faz antecipam o que hoje percebemos claramente como realidade (discussões sobre autoria, a questão do copyright, do acesso a internet, da edição e distribuição on-line de livros). Bom livro. [início 11/11/2011 - fim 12/11/2011]
"O negócio dos livros: como as grandes corporações decidem o que você lê", André Schiffrin, tradução de Alexandre Martins, Rio de Janeiro: editora Casa da Palavra, 1a. edição (2006), brochura 14x21 cm, 184 págs. ISBN: 85-7734-023-6 [edição original: The business of books: How the international conglomerates took over publishing and changed the way we read (Verso books, New York) 2000]

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

os demônios

Sabia da existência desse livro, mas foi ao andar com o industrioso designer Paulo Chagas, na Feira do livro de Porto Alegre, que topei com ele. O Paulo comprou primeiro, mas eu também consegui meu exemplar. Eloar Guazzelli é um artista plástico e ilustrador dos bons. Tem trabalhos bem variados, um traço que convence sempre e uma imaginação dos diabos. Aqui ele adapta um conto fantástico de Aluízio Azevedo, escrito no final do século XIX. Não conhecia o conto, mas fiquei curioso. Procurei nos meus guardados, para tentar ler o original, mas só consegui mesmo uma versão pela internet, que já imprimi e lerei um dia desses. É um conto curto, pouco menos de 10 mil palavras. Aluízio Azevedo descreve uma experiência de terror noturno, aquela sensação terrível de algo imaterial, irreal, que esteja mesmo acontecendo e nos assombrando. Quem já não passou pelos aborrecimentos gerados pelo medo? A adaptação do Guazzelli é realmente poderosa e encantadora. Ele se concentra em tons escuros, noturnos, usa uma paleta cromática mágica, cria aquela perturbação que prende e enreda o leitor. Uma graphic novel tem que alcançar valor intrínsico, sem depender do texto original, do roteiro, tem de acrescentar algo a obra que emula e transveste em um novo formato. Sou suspeito para falar da arte de Guazzelli, mas acho que ele alcançou esse efeito nesse trabalho. Experiência divertida essa. Cousa boa. [início - fim 06/11/2011]

"Demônios (em quadrinhos)", Aluízio Azevedo, adaptado por Eloar Guazzelli, São Paulo: editora Peirópolis, 1a. edição (2010), brochura 20,5x27 cm, 56 págs. ISBN 978-85-7596-183-4

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

el oro del rey

Uma das coisas que faço com reiterado prazer é voltar às histórias ligeiras, aos romances de aventuras, aos livros que cobram um exercício de minha memória afetiva, ao reconstruir com prazer aquelas tardes sem fim que ficava lendo os livros de meu pai. As aventuras do capitão Alatriste começaram a ser produzidas por Arturo Pérez-Reverte há pouco mais de quinze anos e alcançaram assombroso sucesso de crítica (o entusiasmo do catedrático Francisco Rico é insuspeito) e de público (as vendas se contam na casa dos milhões). De fato essa série de livros de Pérez-Reverte desvelam algo da Espanha do Siglo de Oro, quando o império se estendia por todo o globo. Como sempre, também em "El oro del rey" a história é narrada por Íñigo Balboa, que já velho, relembra os sucessos de sua juventude ao lado do industrioso capitão Alatriste. A ação se dá logo após os feitos descritos em "El sol de Breda", na cinza e fria região de Flandres, mas agora estamos em território espanhol, na ensolarada Andaluzia, na região do porto de Cádiz, da cidade de Sevilha, de Sanlúcar de Barrameda e do rio Guadalquivir. Alatristre é recrutado pelo duque de Medinaceli para uma empreitada arriscada em nome do rei da Espanha (Filipe IV): resgatar um grande carregamento de ouro que está sendo desviado pelo duque de Medina-Sidonia, o poderoso mandatário de toda a região da Andaluzia. Pérez-Reverte usa elementos históricos reais (uma conspiração independista planejada por Medina-Sidonia em meados do século XVII) e a flexibilidade do mundo da ficção inventado por ele, para contar uma história divertida,e movimentada, mas, claro, repleta de coisas previsíveis como combates singulares, visitas a catacumbas e prisões, passeios pela região do Guadalquivir, lutas encarniçadas com espadas e punhais, escaramuças noturnas, assaltos a navios repletos de soldados inimigos, mortes honradas e mortes miseráveis, condecorações honoríficas, reconhecimento público pelas façanhas. Há também o tempero das paixões amorosas, como a de Íñigo por Angélica de Alquézar, a sobrinha de um grande inimigo de Alatriste, que já conhecemos dos volumes anteriores do ciclo (O capitão Alatriste, Limpeza de Sangue, El sol de Breda), assim como a aparição mefistotélica do espadachim Gualterio Malatesta. Alatriste está como sempre caladão, pouco filosófico e muito objetivo. É uma máquina de guerra renascentista. O escritor Francisco de Quevedo volta a aparecer, como sempre usado por Pérez-Reverte para pontuar aqui e acolá com alguma referência histórica (ou para histórica) mais ou menos confiável. O trabalho de pesquisa de Pérez-Reverte não deve ser trivial e o efeito alcançado é mais que satisfatório. Leitura para um dia vagabundo, sem culpa e sem temor. [início 30/10/2011 - fim 01/11/2011] 

"El oro del rey (Las aventuras del capitán Alatriste) volume IV", Arturo Pérez-Reverte, Madrid: Punto de lectura (grupo Santillana de ediciones), 2a. edição (2008), brochura 12,5x19 cm, 254 págs. ISBN: 978-84-663-2056-6 [edição original: Madrid: Alfaguara, 2000]

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

vertigem

Winfried Georg Maximiliam Sebald, ou apenas W.G. Sebald, como ele assinava seus livros, tinha 46 anos e uma consistente carreira acadêmica quando publicou "Vertigem", seu primeiro texto de ficção, em 1990. Também foi poeta, ensaista e tradutor, mas foram seus livros de ficção que garantiram a ele reconhecimento e admiração. Em um período curto, pouco mais de dez anos, publicou cinco livros que são muito parecidos entre si, formando um conjunto bastante homogêneo, que talvez devesse ser lido como elementos de um único projeto literário, de uma única proposta estética. Suas longas descrições de lugares, pessoas (e das sensações que ele experimenta) parecem sempre fugir de algo objetivo, afastando-se de um final possível. Sua narrativa acumula digressões que ora aguçam a curiosidade do leitor, mas ora o entendiam. Entretanto Sebald, em geral, sabe equilibrar o que poderíamos chamar apenas de enumeração das coisas de seu interesse (a fixação de memórias pessoais e coletivas, o contraste entre o choque do novo e encantamento com aquilo que o hábito - fiel camareiro, dizia o Prout - nos oferece reiteradamente). Ele traça correspondências entre acontecimentos de sua vida (ou da vida do sujeito que narra a história, há uma superposição curiosa aqui) que parecem muito distante entre si, tanto espacialmente quanto temporalmente, mas que parecem encontrar alguma ordem na forma organizada por ele. Acho que é justamente à Proust que Sebald deve algo, afinal de contas. No "Em busca do tempo perdido" há uma história grandiosa que o leitor acompanha até descobrir no último volume o resultado das metamorfoses, das sucessivas encarnações dos personagens de Proust. Nos cinco livros de Sebald o que encontramos são reflexões e digressões sobre as experiências de vida do autor, que vive parte do horror da segunda grande guerra mundial, emigra ainda jovem à Inglaterra, alcança uma formação e uma atividade profissional sólida, mas que precisa prescrutar seu passado para entender do quê realmente é feito. Isso se repete em todos os livros dele que li (mesmo aqueles onde isso é subentendido, velado). "Vertigem" é dividido em quatro seções, que implicam em viagens de descobrimento e volta para reflexão. Primeiro ele fala de Henri Beyle (sem ajudar o leitor lembrando-o que é de Stendhal que se fala). Descreve as viagens de Stendhal pelos domínios de Napoleão e suas relações amorosas (que lembram as bizarrices de um Casanova). Na segunda seção é o narrador quem percorre um caminho parecido com o de Beyle/Stendhal, saindo de Viena, passando por Innsbruck e depois flanando pelo norte italiano, por Veneza, Verona, Pádua e Riva. O narrador de Sebald conversa com estranhos, anota impressões, experimenta coisas. Ele sempre dá um jeito de encontrar algúem que tem tanto apreço pela memória e por contar histórias como ele (claro, isso é artificial, ficcional, não há como se repetir tantas vezes no mundo real, apesar da realidade sempre ser mais surpreendente que o mundo da ficção). Na terceira seção Sebald faz um desvio e fala dos tempos de Franz Kafka em um sanatório de Riva del Guarda, no norte italiano. Através das cartas amorosas (confusamente amorosas) de Kafka dirigidas a Felice Bauer (e nesta parte Sebald deve muito ao que Elias Canetti fala do amor e do amor epistolar) Sebald desenvolve a sua teoria do amor. Na parte final Sebald (talvez fortalecido por suas errâncias italianas) parte em busca de um outro tipo de amor, o amor por uma cidade que foi a sua na Alemanha, na infância e adolescência, antes da emigração quase forçada à Inglaterra. Ali, praticamente incógnito, como um Ulysses que retorna a Ítaca mas não tem pretendentes para abater (se é que os fantasmas pessoais de uma pessoa não possam ser representados pelos pretendentes - é uma coisa para se pensar), o narrador resgata algo de seu passado, fala de suas surpresas, de suas decepções. Mas a volta inevitável à Inglaterra é feita com um novo olhar, pois cada experiência que acumulamos nos metamorfoseia um tanto e, mesmo quase-estaticamente, como na termodinâmica, voltamos diferentes de qualquer viagem (ou de qualquer vilegiatura, como Proust já nos ensinou no "Os prazeres e os dias"). Se o narrador estava incomodado e aborrecido com algo ao iniciar sua jornada ("uma fase particularmente difícil de minha vida", ele diz) ao final há a rotina e o hábito para consolá-lo das eventuais agruras que o acompanharam e que ele ainda traz de volta. Em "Vertigem" assim como nos demais livros de Sebald, há muitas imagens distribuídas no texto. Nos volumes iniciais de sua obra de ficção (Vertigem, Os emigrantes) ainda encontramos associações explícitas entre as imagens e o texto, mas nos volumes finais (Os anéis de Saturno, Guerra aérea e literatura, Austerlitz) essa associação é menos objetiva, como se ele experimentasse afirmar seu estilo. Não acredito que um outro sujeito possa usar os mesmos recursos narrativos de Sebald, imitá-lo, emulá-lo, sem parecer anacrônico e besta (já li coisas assim na seara de vários  "Jovens Escritores de Literatura Brasileira Contemporânea" - definição boa desse fenômeno inventada por don Hugo Crema - mas o efeito é risível). Afinal parece que seus temas e o tratamento que ele dá a eles é algo que não emigra bem para às mãos de um outro autor. De qualquer forma a experiência de ler esses contos e romances de Sebald foi proveitosa (um ponto para don Fernando Landgraf pela dica). O duque de Vértigo (título literário-nobiliárquico concedido por Javier Marías a Sebald em 2000) tem mesmo genuíno valor. [início 23/10/2011 - fim 25/10/2011] 
"Vertigem: Sensações", W.G. Sebald, tradução de José Marcos Macedo, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a. edição (2008), brochura 14x21 cm, 199 págs. ISBN: 978-85-359-1334-7 [edição original: Schwindel: Gefühle, (Eichborn Verlag) Frankfurt/Deutschland, 1990]

terça-feira, 1 de novembro de 2011

hijos sin hijos

Esse pequeno livro de contos de Enrique Vila-Matas não é exatamente arrebatador. Claro, as histórias são inventivas, cheias de malabarismos mentais e funcionam como provocação intelectual e entreterimento rápido, mas não pertencem ao melhor que li dele até aqui. O que encontramos em "Hijos sin hijos" são treze contos amalucados. Dez deles são curtos, cinco curtíssimos e um relativamente longo. A maioria envolve o universo dos sonhos, das metamorfoses, das reflexões rápidas anotadas em uma espécie de diário. Por vezes os narradores das histórias, frente a perplexidade com a vida, flertam com perversões, amoralidades, logro e mentira. Noutras parecem se esforçar para esconder ou cifrar coisas, mas sem a enxurrada de citações  que tipicamente são utilizadas por Vila-Matas. Cada uma das histórias é localizada espacial e temporalmente, como se o autor pretendesse apresentar um painel da geografia e da história de seu país através de relatos que são cotidianos, personalizados, antes confissões. pessoais que digressões de terceiros. O padrão para se entender as histórias é oferecido pelo próprio autor (em sua generosa e completíssima webpage), quando afirma que os heróis dessas histórias são pessoas que ao decidirem não deixar descendência somente sobrevivem naquilo que produzem e dizem, naquilo que contam e registram. Não farei um censo das histórias aqui, mas gostei de uma em que após o marido perder o emprego sua mulher decide também ficar desempregada (Mandando todo al diablo); do thriller pseudo-religioso de La familia suspendida; do tom folhetinesco e labiríntico de El hijo del columpio; da história onde uma garota conta sucessos de amor e morte em uma relação incestuosa (Mirando al mar y otros temas); da história onde um garoto mudo aterroriza seus pais (Te manda saludos Dante). Haverá algum outro Vila-Matas por aqui em breve. [início 13/10/2011 - fim 23/10/2011]
"Hijos sin hijos", Enrique Vila-Matas, Barcelona: editorial Anagrama (compactos), 2a. edição (2007), brochura 13,5x20,5 cm, 217 págs. ISBN: 978-84-339-6687-2 [edição original: Barcelona (editorial Anagrama) 1993]