sexta-feira, 29 de novembro de 2013

digam a satã que o recado foi entendido

Pode ser que alguém ainda fique impressionado ao ler sobre sujeitos amalucados, trapaceiros e drogaditos, bebedeiras e traficantes, idiotas ligados a seitas religiosas, viciados em games e escatologia, mas definitivamente eu não consigo. Claro, eu sou um velho e cansado senhor, que já experimentou sua cota de literatura auto indulgente nesta vida, mas já se cansou destes malabaristas do verbo, simples assim. "Digam a satã que o recado foi entendido" é bem escrito, tem um par de bons diálogos e arrisca alguns experimentalismos interessantes, mas seus personagens e sobretudo os rasos dilemas existenciais que eles vivem são um porre só. O leitor precisa ser muito condescendente para continuar após as páginas iniciais e chegar ao fim do livro (que é pequeno afinal de contas). Nem vou me dar ao trabalho de descrever as tramas da narrativa e falar sobre o protagonista da história, Magnus Fortes, um sujeito que organiza roteiros turísticos alternativos em Dublin com a ajuda de dois amigos. Talvez seja o caso de esquecer de vez este livro bizarro. Nunca havia lido nada de Daniel Pellizzari, sobre quem tinha boas referências. Paciência. Talvez este livro seja apenas um desvio irrelevante de uma produção melhor, talvez, um dia veremos.
[início: 02/08/2013 - fim: 19/10/2013]
"Digam a satã que o recado foi entendido", Daniel Pellizzari, São Paulo: editora Companhia das Letras (coleção Amores Expressos), 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 178 págs., ISBN: 978-85-359-2289-9

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

o homem que fumava dois cigarros de uma só vez

A equação que Celso Dias apresenta nesses treze contos parece sempre ser simples. Ele parece falar de coisas que conhece bem, coisas de seu ofício e experiência, ou parece se valer de memórias da infância e/ou juventude que experimentam bem a metamorfose para a ficção, pois geram narrativas realmente boas, curiosamente boas. São histórias curtas, histórias de gente jovem, que testa os limites do mundo; histórias de gente mais velha, que apenas suporta os aborrecimentos da decrepitude; histórias de gente  madura (ou com saudades da juventude ou, pior ainda, temerosa da velhice), sujeitos que vivem suas pequenas tragédias pessoais com assombro, nunca com estoicismo. Na falta de bom humor o leitor encontra alívio na fina ironia que habita cada uma delas, já que o narrador de Celso sempre é duro, quase cruel, e nunca se deixa contaminar pelo desejo fácil de encontrar um final feliz para seus personagens. Esse narrador não faz juízos de valor, não condena os fracos, nem exalta os virtuosos, apenas descreve os pequenos recortes de suas vidas, vidas de gente que sofre e ama, que chora e ri. Bom livro, que encontrei por puro acaso na última feira do livro de Porto Alegre. Há dias em que mesmo uma musa ausente se lembra de soprar novidades nos ouvidos deste velho e cansado amigo dos livros. Cousa boa.
[início: 09/11/2013 - fim: 27/11/2013]
"O homem que fumava dois cigarros de uma só vez", Celso Dias, Porto Alegre: editora Pradense, 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 75 págs., ISBN: 978-85-8294-004-4

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

tudo o que você não queria saber sobre sexo

Mírian Goldenberg é uma respeitada antropóloga, professora de um programa de pós-graduação no Rio de Janeiro e também escritora prolífica. Ela reuniu parte do material que utilizou em vinte anos de pesquisas acadêmicas e convidou o cartunista Adão Iturrusgarai para participar de um projeto de divulgação dos resultados que obteve. Seu interesse nas pesquisas (qualitativas e quantitativas) e entrevistas que fez é bem diversificado. Elas tratam de casamento, família, sexualidade, relacionamentos, infidelidade, representações de gênero, desejo, inveja, medo, enfim, quase tudo que afeta homens e mulheres na cultura brasileira. Como a maioria dos brasileiros é incapaz de entender até o mais simples gráfico, tabela ou ilação decorrente da análise de dados, os resultados são apresentados em listas e ilustrações bem humoradas. A designer que produziu o livro (Tita Nigrí) propositadamente fez uso de uma dezena de tipos diferentes, distintos tamanhos e cores de letras, além de vários truques gráficos que buscam realçar os dados brutos que Míriam apurou em suas pesquisas. Com isso o livro fica graficamente poluído (talvez poluído demais), mas provavelmente este seja o único modo de fazer com que as informações mais importantes fossem ainda que marginalmente entendidas. O livro também propõe jogos, onde o leitor é convidado a interagir, escrever sobre seus defeitos e virtudes (e eventualmente compará-los com as médias obtidas nas pesquisas), além de responder questões e completar sentenças. A chave do livro é o humor, claro. As ilustrações e cartuns de Adão fazem contraponto a frieza dos dados da pesquisa (por mais edulcorados que estejam pelo trabalho gráfico da designer). A eficiência dos cartuns de Adão é impressionante (o sujeito sabe apresentar conceitos e sintetizar idéias como poucos). É um livro interessante, mas obviamente trata tudo com demasiada superficialidade. Não é também um livro para ser lido de capa a capa. Eventualmente, ao ser ser folheado aleatoriamente, possamos pinçar uma informação qualquer, para refletirmos sobre ela e seguirmos dali. Talvez fosse o caso da edição incluir ao menos uma pequena bibliografia para que o leitor curioso sobre os temas do livro procure informações adicionais. De qualquer forma com ele aprendemos algo sobre nos mesmos, ai de nós, brasileiros destes tempos tão amalucados. E vamos em frente.
[início: 08/11/2013 - 21/11/2013]
"Tudo o que você não queria saber sobre sexo", Mirian Goldenberg e Adão Iturrusgarai, Rio de Janeiro: editora Record, 1a. edição (2012), brochura 18,5x21 cm., 240 págs., ISBN: 978-85-01-09586-2

terça-feira, 26 de novembro de 2013

a lenda do santo beberrão

Joseph Roth nos conta em "A lenda do santo beberrão" uma fábula, uma espécie de conto de fadas, no qual acompanhamos os últimos dias de Andreas, um imigrante polonês que vaga pelas ruas de Paris, intoxicado por dores e bebida, num transe alcoólico e religioso. Uma sucessão de pequenos milagres o faz encontrar algum dinheiro e ver esse dinheiro multiplicar-se, o que possibilita que ele alterne nestes dias experiências aparentemente felizes (boas refeições e bebedeiras, comprar roupas novas, ir ao cinema, reencontrar amigos e uma ex-namorada) e duras decepções (a consciência de sua ruína, a lembrança dos seus anos na prisão, a culpa pela morte de um amigo). A promessa de doar uma certa quantidade de dinheiro para uma santa, numa igreja da periferia, é a única coisa que anima seus dias, o faz seguir adiante. A promessa foi feita a um sujeito que lhe dá uns poucos francos no início da história, mas esse sujeito pode ser o próprio diabo, a divertir-se em fazer Andreas experimentar uma última cota de tentações. A felicidade humana não foi incluída no desenho da criação (é o que Joseph Roth parece querer nos fazer lembrar). Bom livro, que foi publicado postumamente, em 1939.
[início: 13/11/2013 - fim: 20/11/2013]
"A lenda do santo beberrão", Joseph Roth, tradução de Mário Frungillo, editora Estação Liberdade, 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 77 págs., ISBN: 978-85-7448-228-6 [edição original: Die Legende vom heiligen Trinker (Amsterdam: Albert de Lande) 1939]

sábado, 23 de novembro de 2013

osmose

A ambição que gerou esse livro era aparentemente simples: oferecer a seis cartunistas (três brasileiros e três alemães) uma residência artística de quatro semanas em uma cidade que eles não conhecessem para, posteriormente, cobrar deles um registro desta experiência na forma da produção de uma história em quadrinhos. A idéia original deste projeto foi de Reinhard Sauer, diretor do Instituto Goethe de Porto Alegre; a produção executiva do projeto ficou a cargo de José Aguiar, também ele um conhecido autor de quadrinhos, e a curadoria do projeto (que envolveu manter um blog com a documentação e o desenvolvimento das atividades de intercâmbio dos artistas) foi assinada por Augusto Paim. Experiências deste tipo não são incomuns. A busca por vivenciar e descrever quase imediatamente contrastes culturais, sociológicos e estéticos é algo que o homem faz deste sempre (desde que o primeiro aventureiro dentre os homo sapiens sapiens voltou a sua tribo para contar o que viu em um outro vale, em uma outra caverna). Talvez o que chame a atenção do projeto Osmose seja o gênero literário escolhido, já que nem sempre as narrativas em quadrinhos são tão bem acolhidas, como o foi, por uma instituição de difusão cultural tão poderosa como o Instituto Goethe. O resultado são seis relatos bem distintos. As propostas do alemão Mawil (que sai de Berlim para Porto Alegre) e da alemã Birgit Weyhe (que sai de Munique para São Paulo) são as mais interessantes do ponto de vista sociológico (para o meu entendimento das coisas). As propostas da alemã Aisha Franz (que sai de Berlim para Salvador), do brasileiro Amaral (que sai do Piauí para Hamburgo) e do brasileiro João Montanaro (que sai de São Paulo para Munique) as mais curiosas do ponto de vista plástico. A proposta da brasileira Paula Mastroberti (que sai de Porto Alegre para Berlim) é a mais ficcional, menos documental, é a mais parecida com uma graphic novel convencional. O roteiro delas é mais ou menos previsível. O sujeito sai de sua rotina e experimenta uma vida provisória, mas nenhum deles está em uma situação limite ou corre riscos, pois sabe de antemão que aquele mundo desaparecerá (como num conto de fadas) após um período de tempo que é pequeno demais para que o indivíduo realmente se transforme. As primeiras impressões podem ser válidas, corretas e acertadas, mas também podem apenas descrever superficialmente a cultura complexa e distinta que é encontrada. De qualquer forma, apesar da inerente fugacidade das primeiras impressões que eles teem das coisas que veem, trata-se de um livro divertido. Talvez seja o caso de acompanhar a produção plástica destes seis artistas. Quase esqueço de registrar que a edição é bilíngue, e muito bem acabada. E vamos em frente.
[início - fim: 08/11/2013]
"Osmose - Brasil e Alemanha em Quadrinhos / Osmose: Brasilien und Deutschland in Comics", Aisha Franz, Amaral, Birgit Weyhe, João Montanaro, Mawil, Paula Mastroberti, tradução de Luciana Dabdab Waquil e Ralf Krämer, Porto Alegre: editora Libretos (coordenação de Goethe-Institut Porto Alegre), 1a. edição (2013), capa-dura, 21x29 cm., 88 págs., ISBN: 978-85-88412-81-1

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

a filosofia da adúltera

De Luiz Felipe Pondé já havia lido "Contra um mundo melhor: Ensaios do afeto", livro marcadamente autobiográfico, interessante e poético na medida certa. Esse "A Filosofia da adúltera: Ensaios selvagens" é dedicado a reflexões sobre o pensamento de Nelson Rodrigues. Não se trata de uma análise crítica e/ou literária de toda a obra de Nelson, mas sim reflexões pontuais sobre o uso dramatúrgico da mulher adúltera em sua obra, bem como dos desdobramentos deste (digamos assim) arquétipo, na sociedade brasileira contemporânea. Pondé fala sobre democracia e  ciências sociais, sobre política e educação, sobre mídia e cultura, sobre feminismo e sexo. Enfim, seu livro se equilibra entre o jornalismo de costumes e a filosofia, usando a mulher adúltera como representação da condição humana, da escravidão mental, do tédio da repetição, da tristeza da mentira social. Trata-se de um livro pequeno, formado por capítulos curtos, que se não são aforísticos, ao menos tendem a clareza e a concisão. O livro inclui várias fotografias de mulheres em poses fetichistas, sensuais, típicas dos anos 1950 ou 1960, uma provocação explícita às convenções do mundo politicamente correto. Pondé pergunta menos do que afirma, do que responde. Ele não se preocupa em convencer ou justificar completamente para o leitor as suas verdades (ou as verdades que parece extrair dos livros de Nelson Rodrigues). De qualquer forma ele alcança fazer o leitor pensar sobre temas que por demasiado óbvios nos escapam na correria dos dias. Num país como o Brasil, onde praticamente ninguém pensa com independência, preferindo repetir mecanicamente idéias prontas dos outros (de políticos, jornalistas, professores, religiosos e outros farsantes) pessoas como Pondé são normalmente classificadas como politicamente incorretas, quando não achincalhadas com dureza. Não é o meu caso. Gosto de seu estilo. Ele não é hipócrita ou tenta seduzir o leitor com argumentos dúbios. Tampouco tem medo em nos lembrar que tudo o que está ou não institucionalizado no Brasil, das regras de conduta que aceitamos aos juízos de valor que praticamos, certamente irá se esgarçar, piorar, destruir-se até, e muito, muito mesmo, antes de melhorar. Diminuir um tanto o pântano em que vivemos deveria ser a ambição genuína dos jovens brasileiros, caso eles tivessem interesse em viver no futuro em um país menos patético, tosco e ridículo como o Brasil é hoje, mas, paciência, o desejo, até esse meu, é sempre triste.
[início: 16/11/13 - fim: 19/11/13]
"A filosofia da adúltera: Ensaios selvagens", Luiz Felipe Pondé, São Paulo: editora LeYa, 1a. edição (2013), brochura 16x22,5 cm., 190 págs., ISBN: 978-85-8044-862-7

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

o cerne da matéria

O prêmio Nobel de física de 2013 foi conferido conjuntamente a François Englert e Peter W. Higgs, pelo desenvolvimento teórico do mecanismo que explica a origem da massa das partículas sub-atômicas. A confirmação experimental deste mecanismo foi anunciada em meados de 2012, após a detecção de um bóson de Higgs (cuja energia é de aproximadamente 126 GeV) em experimentos realizados no Grande Colisor de Hádrons (LHC) do CERN (laboratório europeu de pesquisas nucleares). A explicação mais simples e didática que conheço para explicar o significado do campo de Higgs (e do bóson de Higgs) é uma idéia original de um sujeito chamado David J. Miller. "The Higgs Boson Explained", vídeo produzido no CERN também pode ajudar um neófito em ciências a entender a cousa. Mas a idéia aqui não é colecionar links sobre o bóson de Higgs, mas sim registrar a maravilha que é este pequeno livro, "O cerne da matéria", de Rogério Rosenfeld, professor do Instituto de Física Teórica (da UNESP). Rogério passou um ano sabático no CERN, exatamente no período de funcionamento do LHC onde foram feitas as primeiras coletas de dados experimentais que resultaram na observação de um bóson de Higgs. Com o entusiasmo daqueles cientistas que percebem estarem perto de uma grande descoberta ele participou de seminários, palestras e reuniões onde anúncios dos resultados preliminares obtidos eram divulgados. E também estava lá no seminário do dia 4 de julho de 2012, quando foi feito o anúncio oficial da descoberta há tanto esperada. "O cerne da matéria" é um livro realmente bom pois alcança apresentar rapidamente, mas com correção, tanto o básico da teoria da física de partículas elementares quanto a engenharia do processo de construção dos aceleradores de partículas. Rogério consegue juntar admiravelmente bem muitas informações, de diferentes áreas da física e da história da ciência, da história do CERN e dos outros grandes aceleradores de partículas já construídos, da biografia de dezenas de cientistas envolvidos na grande aventura que ele quer descrever. Os capítulos curtos, focados em temas específicos, ajudam o leitor a acompanhar suas reflexões. A sorte de repórter iniciante (ou o tino de cientista bem preparado) o ajudou, pois por acaso ficou hospedado num apartamento cujo proprietário foi o primeiro dos jornalistas dedicados a atividades de relações públicas no CERN, Roger Anthoine, que deve ter ajudado Rogério a entender as implicações políticas dos primeiros anos de construção do laboratório. Ele faz no livro menção às contribuições brasileiras na física de partículas; inclui boas (e atualizadas) notas de referência; um bom número de ilustrações e suas idéias sobre os caminhos que a física de partículas poderá seguir a partir da comprovação experimental do bóson de Higgs. Fiquei realmente impressionado com a qualidade deste livro. Acho que no ano que vem ninguém tira o prêmio Jabuti de Ciências Exatas do Rogério. Evoé Rogério. Evoé!
[início: 12/11/13 - fim: 14/11/13]
"O Cerne da matéria: A aventura científica que levou à descoberta do Bóson de Higgs", Rogério Rosenfeld, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 212 págs., ISBN: 978-85-359-2346-9

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

o gato e o diabo

Em 2012 toda a obra de James Joyce tornou-se de domínio público. Centenas de trabalhos (traduções dos livros, além de montagens teatrais, adaptações cinematográficas, exposições de artes plásticas) inspirados em Joyce foram publicados. "O gato e o diabo", carta que Joyce escreveu a seu neto Stephen, originalmente publicado em 1936, ganhou recentemente sua terceira edição brasileira. A primeira foi publicada em 1980, em tradução de Antônio Houaiss e com ilustrações de Roger Blanchon. A segunda edição foi publicada no início de 2013 pela Cosac Naify (a tradução é assinada por Lygia Bojunga, com ilustrações de Lelis - Marcelo Eduardo Lelis de Oliveira - ilustrador e quadrinista mineiro). E esta terceira edição tem tradução assinada por Dirce Waltrick do Amarante (que também traduziu "Os gatos de Copenhagem"), com ilustrações de Michaella Pivetti. Dentre as duas últimas, publicadas neste 2013, gostei mais das soluções de Lélis, mas esta é opinião de um velho, cansado e aborrecido senhor. Talvez o público alvo destes livros - o público infanto-juvenil - pense de outra forma. E viva Joyce! Evoé!
[início - fim: 28/10/2013]
"O gato e o Diabo", James Joyce, tradução de Dirce Waltrick do Amarante, ilustrações de Michaella Pivetti,  São Paulo: editora Iluminuras (selo Livros da Ilha), 1a. edição (2013), brochura 21,5x23 cm., 32 págs., ISBN: 978-85-7321-418-5 [edição original: The Cat and the Devil (Letters of James Joyce, edited by Stuart Gilbert) London: Faber and Faber, 1957]

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

os mortos

Foi por puro deleite que resolvi reler essas histórias. Também achei que voltar a elas seria o jeito correto para homenagear o industrioso don Caetano Waldrigues  Galindo, que ganhou o Prêmio Jabuti semanas atrás por seu monumental trabalho de traduzir o Ulysses de James Joyce. Evoé Galindo, Evoé. São três mimos, três jóias. Duas delas são contos, extraídos do Dublinenses, a outra é o capítulo final do Ulysses, o monólogo de Molly Bloom, uma das partes mais lidas e interessantes do livro (que de resto sempre é incrivelmente interessante). "Os mortos" está além das descrições possíveis. É um conto tão poderoso, uma história que quase sempre provoca no leitor associações e experiências que vão do encantamento a raiva, da felicidade ao medo, que não há porque furtar-se de relê-lo sempre que possível. "Arábias" é menos intimista, mas talvez seja ainda mais cruel, já que faz qualquer leitor lembrar-se de suas aventuras da infância e juventude, dos aborrecimentos e das felicidades mirradas que conseguimos extrair de um mundo sempre cruel e enganador. O "Monólogo de Molly Bloom", extraído do Ulysses, parece ter vida própria. São oito partes que progressivamente transportam o leitor para o mundo dos pensamentos e lembranças de Molly Bloom, naquela madrugada do 17 de junho de 1904, que conhecemos logo após os sucessos de Poldy em seu primeiro e seminal Bloomsday. Ah Galindo, obrigado mesmo. Sempre sim ao Joyce, sempre sim ao Ulysses. Sim.
[início: 18/10/2013 - fim: 29/10/2013]
"Os mortos", James Joyce, tradução de Caetano W. Galindo, São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras (coleção Grandes Amores), 1a. edição (2013), brochura 13x20 cm., 135 págs., ISBN: 978-85-63560-63-6 [edição original: Dubliners (London: Grant Richards) 1914 e Ulysses (Paris: Shakespeare and Company) 1922]