terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

el francotirador paciente

"El francotirador paciente" é um livro relativamente curto e fácil de ler. São nove capítulos. Os oito primeiros se não empolgam e são descompromissados, deixam-se ler sem atropelos. Trata-se daquele tipo de literatura de entretenimento honesta que deixo para ler nas férias: texto bem escrito, narrativa movimentada (trata-se de um thriller de ação), tema curioso e moderno, personagens planos como uma porta. Bueno. Tudo ia bem até deparar-me com o desfecho que Pérez-Reverte utilizou no livro, o tal nono capítulo. Que moralismo indecente. Que solução fácil e artificial. Argh! Lembrei-me de Dorothy Parker e do destino que ela dizia merecerem certos livros: serem jogados pela janela, sem dó, ao invés de serem esquecidos ao lado da cama. Em "El francotirador paciente" acompanhamos uma jovem doutora que trabalha como consultora na área de artes plásticas para grandes grupos editoriais. Ela é contratada para localizar Sniper, um grafiteiro famoso que vive recluso e fazer-lhe uma proposta editorial. Esse grafiteiro famoso e recluso do livro é obviamente inspirado em Banksy. Sniper também é procurado pelo pai de um outro jovem grafiteiro, morto num acidente. O pai responsabiliza Sniper, que é uma espécie de líder genial e/ou mentor dos demais grafiteiros, pela morte de seu filho. A história rende boas discussões sobre o valor da arte urbana, o papel das artes plásticas no mundo contemporâneo, as diferenças entre a vocação e/ou expressão artística dos jovens e a utilização de procedimentos artísticos na atuação política de grupos organizados. A história começa pela ruas de Madrid, avança por Lisboa e Verona até chegar a seu desfecho em Nápoles. Como em vários outros livros de Pérez-Reverte que li a narrativa já está formatada num arranjo cinematográfico. Transformar o livro em um roteiro não deve ser uma tarefa muito complicada. Pelo óbvio apelo visual que a história oferece, talvez em um filme mesmo a solução desastrada de Pérez-Reverte para o final acabe funcionando melhor. Veremos. Entretanto, assim como um dos personagens no livro diz: "Si es legal, no es grafiti", um leitor poderá pensar: "Se é cinema, não é literatura".
[início: 28/01/2014 - fim: 01/02/2014]
"El francotirador paciente", Arturo Pérez-Reverte, Madrid: Alfaguara (Santillana Ediciones Generales / Prisa Ediciones), 1a. edição (2013), brochura 15x24 cm., 303 págs., ISBN: 978-84-204-1649-6

domingo, 2 de fevereiro de 2014

bloomsday, an interpretation

Há 132 anos, em um 02 de fevereiro, o de 1882, nasceu James Joyce. Por conta disto, talvez hoje seja o dia certo para começar a reler e rever coisas relacionadas a ele. Comprei "Bloomsday: An interpretation of James Joyce's Ulysses" como presente para o Bloomsday 2013. Já passei horas sem fim admirando-o e relendo-o, como quem guarda com as mãos e com os olhos um grande bem. As gravuras originais incluídas nele foram produzidas pelo artista plástico canadense Saul Field, morto em 1987. Elas foram produzidas originalmente em 1967 para um exposição intitulada "Bloomsday Suite", que faz parte hoje do acervo da "Biblioteca pública de Toronto, Canadá". As gravuras (que são primariamente gravuras em metal) foram produzidas por meio de um processo não-tóxico de gravação inventado por Saul Field e Jean Townsend chamado "compotina" (onde utiliza-se uma emulsão de acrílico e gesso em substituição ao ácido na preparação das gravuras). O livro inclui aproximadamente reproduções de 40 gravuras em cores e 15 estudos em preto e branco. São peças realmente bonitas e impactantes. Field superpõe camadas de elementos em seus trabalhos, como em uma colagem. O efeito obtido é muito bom. As ilustrações acompanham textos relativamente longos de Morton P. Levitt, um conhecido especialista em Joyce. Os textos contextualizam cada um dos episódios do livro e também analisam o impacto histórico e literário do Ulysses. Algumas pequenas passagens do livro também estão incluídas e servem para que o leitor localize exatamente a parte dele que está ilustrada nas imagens de Field. Belo trabalho. Como diz Levitt no livro, "Saul Field nos revela de Leopold Bloom tudo o que precisamos saber, na verdade tudo o que nós deveríamos saber dele o tempo todo." E assim, nesse glorioso 02 de fevereiro de 2014, a Nova Bloomusalem pode começar. Happy Birthday Jim.
[início: 16/06/2013 - fim: 02/02/2014]
"Bloomsday: an interpretation of James Joyce's Ulysses", Saul Field (engravings and illustrations) and Morton P. Levitt (text), Greenwich, Connecticut: New York Graphic Society, 1a. edição (1972), capa-dura 29x40 cm., 119 págs., ISBN: 8212-0451-3