"El francotirador paciente" é um livro relativamente curto e fácil de ler. São nove capítulos. Os oito primeiros se não empolgam e são descompromissados, deixam-se ler sem atropelos. Trata-se daquele tipo de literatura de entretenimento honesta que deixo para ler nas férias: texto bem escrito, narrativa movimentada (trata-se de um thriller de ação), tema curioso e moderno, personagens planos como uma porta. Bueno. Tudo ia bem até deparar-me com o desfecho que Pérez-Reverte utilizou no livro, o tal nono capítulo. Que moralismo indecente. Que solução fácil e artificial. Argh! Lembrei-me de Dorothy Parker e do destino que ela dizia merecerem certos livros: serem jogados pela janela, sem dó, ao invés de serem esquecidos ao lado da cama. Em "El francotirador paciente" acompanhamos uma jovem doutora que trabalha como consultora na área de artes plásticas para grandes grupos editoriais. Ela é contratada para localizar Sniper, um grafiteiro famoso que vive recluso e fazer-lhe uma proposta editorial. Esse grafiteiro famoso e recluso do livro é obviamente inspirado em Banksy. Sniper também é procurado pelo pai de um outro jovem grafiteiro, morto num acidente. O pai responsabiliza Sniper, que é uma espécie de líder genial e/ou mentor dos demais grafiteiros, pela morte de seu filho. A história rende boas discussões sobre o valor da arte urbana, o papel das artes plásticas no mundo contemporâneo, as diferenças entre a vocação e/ou expressão artística dos jovens e a utilização de procedimentos artísticos na atuação política de grupos organizados. A história começa pela ruas de Madrid, avança por Lisboa e Verona até chegar a seu desfecho em Nápoles. Como em vários outros livros de Pérez-Reverte que li a narrativa já está formatada num arranjo cinematográfico. Transformar o livro em um roteiro não deve ser uma tarefa muito complicada. Pelo óbvio apelo visual que a história oferece, talvez em um filme mesmo a solução desastrada de Pérez-Reverte para o final acabe funcionando melhor. Veremos. Entretanto, assim como um dos personagens no livro diz: "Si es legal, no es grafiti", um leitor poderá pensar: "Se é cinema, não é literatura".
[início: 28/01/2014 - fim: 01/02/2014]
"El francotirador paciente", Arturo Pérez-Reverte, Madrid: Alfaguara (Santillana Ediciones Generales / Prisa Ediciones), 1a. edição (2013), brochura 15x24 cm., 303 págs., ISBN: 978-84-204-1649-6
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