domingo, 8 de fevereiro de 2009

a parede no escuro

Nunca havia lido um livro de Altair Martins, mas o Zeca Poli, livreiro portoalegrense e amigo dos bons me garantiu que o garoto (Altair tem uns 33 anos) vale ouro, seu livro de contos "Como se moesse ferro" sendo realmente muito bom. Infelizmente não conseguimos uma dedicatória no exemplar que compramos, pois a fila na Feira do livro de Porto Alegre estava enorme demais para nosso humor. Deixei este "A parede no escuro" na pilha das cousas por ler e eis que neste começo de ano consegui engatar a leitura das primeiras páginas e seguir em frente. É de fato um livro bem escrito, o sujeito sabe manter o ritmo e ir amarrando os caminhos dos personagens. A maioria dos personagens é gente simples (padeiro, professores, aluna de veterinária, aposentados). Vez ou outra encontrei uns termos estranhos, mas um par de conversas com amigos gaúchos legítimos resolveu a maioria (como bacia de "matéria" e provas "preventivas e terapêuticas") mas "dorninho" eu ainda não sei o que é. Paciência. A historia envolve vários estágios de culpa: um sujeito atropela e mata um padeiro quase vizinho da casa de seu pai em uma manhã chuvosa. Foge do local e depois passa a se preocupar se o pai chegou a vê-lo naquela manhã (pois o pai saiu de casa para averiguar o sinistro). Há várias tramas paralelas, envolvendo sempre os mesmos personagens: o sujeito que atropelou o padeiro é professor e se envolve com uma aluna que divide um apartamento com uma menina que é também vizinha do padeiro morto; o pai do sujeito e o padeiro morto mantiveram uma rivalidade por anos e chegaram a tentar se matar; quando jovem o sujeito ajudava o pai a matar gatos com requintes de crueldade; a filha do padeiro morto é uma jovem aluna de veterinária que não tem o sangue frio necessário para exercer a profissão, acaba assumindo o lugar do pai no balcão da padaria; a mulher do padeiro morto é um tanto simplória e distante, mal expressa sua perplexidade e dor; o próprio atropelador tenta ir a delegacia confessar seu crime, mas a burocracia policial praticamente o absolve sem se interessar em ouví-lo. Estas tramas se enredam e de fato tudo é bem arrumadinho, mas arrumadinho demais para o meu gosto. Altair nos mostra um punhado de vidas miseráveis, um mundo cruel e patético, mas nada estranho para quem já a se acostumou a ler a alma humana sem hipocrisias, nestes tempos bicudos. A dúvida do sujeito em saber se o pai soube ou não de seu crime antes de entrevar-se em um leito de hospital é frágil demais para sustentar o desfecho do livro (ao menos para mim). Vou tentar o livro de contos do Altair um outro dia. [início 07/01/2009 - fim 17/01/2009]
"A parede no escuro", Altair Martins, editora Record (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 253 págs. ISBN: 978-85-01-08055-4

sábado, 7 de fevereiro de 2009

los vascos

Achei este pequeno livro na Bienal de São Paulo ainda em meados do ano passado, mas só terminei de ler agora. Trata-se de um volume de uma coleção espanhola de monografias de divulgação. Os textos são bastante objetivos, há sempre vários apêndices com dados estatísticos e bibliografia indicada para quem tem o interesse em se aprofundar nos assuntos. Este volume em particular tenta apresentar um panorama completo sobre a história e cultura do povo vasco. A edição é de 1996 mas à exceção das informações sobre a política e sobre a atuação do movimento separatista ETA o livro não está totalmente desatualizado. Ele é dividido em capítulos específicos sobre a história, a composição étnica, a língua e a cultura, a religião, a economia, a sociedade, a política e o fenômeno da violência. Claro, o texto é naturalmente despretencioso por sua concisão, mas não impreciso ou vago. É uma boa introdução à cultura vasca em suas várias facetas. Aprendi várias coisas: influência jesuítica e judaica na região; o papel destacado da mulher na sociedade desde tempos remotos; a lingüística do Euskera, a língua falada por eles; o xenofobismo quase oficializado (e que até onde sei só recrudesceu e ganhou força popular desde que o livro foi escrito). Povo pragmático e industrioso, os vascos merecem uma aproximação e alguma tentativa de entendimento. Estive duas vezes em Donostia (San Sebastian em castelhano) e não tenho medo de dizer que é uma das cidades mais agradáveis que já visitei. Uma coisa que eu gostei também foi encontrar no livro uma compilação de reflexões de estrangeiros que visitaram o País Vasco. O registro deste olhar estrangeiro é mesmo muito interessante. Belo livro. [início novembro/2008 - fim 16/01/2009]
Los Vascos, Ramón Nieto, editorial Acento (3a. edição) 1998, brochura 9,5x19,5, 95 págs. ISBN: 84-483-0110-2

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

nova ortografia

Em 1990 foi assinado um tratado internacional entre os países que têm o português como língua oficial. Este tratado ganhou o nome de Acordo Ortográfico (da língua portuguesa) e pretende instituir uma ortografia oficial única da língua e com isso dar maior prestígio internacional à ela. Pelos termos do tratado a partir do momento em que três países o aprovassem ele entraria em vigor automaticamente e isto aconteceu em 2006 (após as aprovações de Brasil - 1995, Cabo Verde - 2004, São Tomé e Príncipe - 2006). Mais recentemente (2008) o tratado foi aprovado por Portugal, cujo governo considerou aplicar a norma apenas após um período de 6 anos. No Brasil decidiu-se que desde o início de 2009 duas ortografias serão legalmente vigentes e aceitas. A partir de janeiro de 2012 apenas a nova ortografia corresponderá à norma culta da língua e deverá ser utilizada oficialmente. Assim sendo o Brasil (junto com Portugal, claro) são os únicos países do mundo que promoveram quatro reformas ortográficas no período de um século (1911, 1943, 1971 e 1995 no caso brasileiro). Cabe dizer que os demais países signatários deste acordo nem existiam na primeira metade do século passado. O teor do acordo e o valor jurídico do tratado estão longe de alcançar consenso por qualquer grupo interessado neste tema (desde linguistas e filólogos, no meio acadêmico, até escritores e jornalistas, massivos operários da língua). Vale dizer que o acordo prevê apenas uniformização da ortografia, ou seja, o modo de escrever em português. Não existe lei que uniformize os modos de falar o que está grafado, porque isso é claramente impossível. Bem. Como todos os demais brasileiros eu tenho quatro anos para aprender a usar a nova ortografia. Não será difícil. Já fiz isto em 1971, quando ainda estava no que hoje é a primeira metade do ensino fundamental. Para começar a entender um tanto do problema li este "Guia prático da Nova Ortografia", do Paulo Ledur, conhecido escritor e homem de letras gaúcho. Trata-se de um livro pequeno, menos de 100 páginas. Na primeira terça o autor apresenta as mudanças obrigátorias e comenta as formas duplas (aquelas que ainda permitirão grafias distintas de muitas palavras nos países signatários, ulalá!). Na segunda terça parte o autor se esforça para exemplificar as regras de uso da nova ortografia, apresentando as normas e algumas estratégias práticas para sua aplicação. A última terça parte reproduz textualmente o tratado aprovado em 1990. O que acrescentar: parece claro para mim que o único objetivo prático desta reforma é propiciar que as grandes editoras de livros sediadas no Brasil possam alcançar o mercado dos outros países lusófonos (!?) sem impedimentos legais quanto a grafia das palavras. Estamos falando de puros e sonantes interesses econômicos. Qualquer pessoa que tenha entrado em uma livraria nestas primeiras semanas do ano acompanha o açodamento com que professores, dirigentes escolares, pais e estudantes procuram a tal "nova ortografia", como se ela fosse um ítem material a ser colocado em uma prateleira mental. O governo brasileiro gastará milhões de reais para adquirir livros adaptados à nova ortografia para serem distribuídos nas escolas de todos os níveis. Milhares de funcionários públicos farão cursos de capacitação às novas regras. Milhões de documentos oficiais serão reescritos. Estou seguro que os cartórios e todo o sistema judiciário tentarão ganhar um naco deste mercado em breve, talvez exigindo correção ortográfica em documentos e petições. Cabe registrar que ainda há um ato final: a Academia Brasileira de Letras deverá publicar um Vocabulário Oficial. É este documento que servirá de base para a republicação de todos os dicionários, todos os manuais de estilo e redação, todos os livros de auto-ajuda ortográfica nos anos vindouros (até um novo acordo, que estou certo acontecerá antes que eu morra, afinal de contas o Brasil não é mesmo para amadores). [início 14/01/2009 - fim 16/01/2009]
Guia prático da nova ortografia, Paulo Flávio Ledur, editora AGE (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 95 págs. ISBN: 978-85-749-7410-1

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

beleza e tristeza

As cousas do Japão já há tempos me encantam. Vez ou outra me aproximo deste povo, de sua arte principalmente. Encontrei este "Beleza e tristeza" por acaso. A capa bonita, com duas partes de gravuras, uma de Hiroshige e outra de Yoshitoshi, chamam a atenção do vivente. O título também é um achado (quando se está particularmente vulnerável tudo se transforma em um sinal.) Eu estava em Porto Alegre, tinha acabado de despedir-me novamente das catalanas, como não associá-las a tristeza e a beleza? Comprei e começei a ler o livro em Porto Alegre ainda. Que belo livro! O enredo desenvolve sutilmente relacionamentos amorosos. Um é de um passado indefinido, entre um rapaz dos seus 30 anos e uma adolescente de 16. A moça é seduzida, fica grávida, perde a criança, é abandonada, esquecida e rejeitada. O outro relacionamento dá-se, vinte e cinco anos após o primeiro, entre os mesmos dois personagens, que se reencontram por força de uma decisão do agora velho rapaz, só que agora eles são apenas coadjuvantes de uma nova versão do seu passado, revivido por dois outros jovens adolescentes: a pupila da moça e o filho do rapaz. Aquela seduz pai e filho como forma de vingar-se do sofrimento de sua mestra (com quem afinal também mantêm um relacionamento amoroso.) As artes plásticas, a música, a jardinagem, a literatura, a lingüística, a música, a cerimônia do chá, a estética, as muitas belezas enfim, transbordam pelo livro. Mas os sucessos dos dois relacionamentos (principalmente entre os dois jovens adolescentes) provocarão dor e tristeza. O confronto e a necessidade de se impor sobre o outro é inevitável. O livro tem um bom prefácio de Teixeira Coelho e um curto posfácio de Roberto Yokota, mas a tradução foi feita a partir de uma versão em inglês, um ponto a menos para a editora Globo desta vez. Este livro vale o esforço afinal de contas. [início 10/01/2009 - fim 13/01/2009]
"Beleza e tristeza", Yasunari Kawabata, tradução de Alberto Alexandre Martins, editora Globo (3a. edição) 2008, brochura 14x21, 289 págs. ISBN: 978-85-250-4539-3

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

esaú e jacó

Assim que eu terminei o livro anterior, de Natsume Soseki, resolvi reler um Machado de Assis para checar se haviam mesmo semelhanças entre eles. Escolhi o "Esaú e Jacó", que a bem da verdade eu não estou certo de ter lido alguma vez. É um texto ligeiro. Lê-se com um sorriso armado no rosto e não há nada que dificulte a vida do leitor (elipses, monólogos interiores intrincados, mudanças de vozes rápidas), mas tem seu vigor e é irônico na medida certa. Claro, há um belo uso de uma estrutura narrativa onde quem conta a história (o autor imaginário inventado por Machado de Assis) trata a si mesmo quase sempre na terceira pessoa e digressa sobre tudo a seu alcance, senhor do universo do romance como é de fato. Ele abusa da metalinguagem, sempre dialogando com o leitor e antecipando passagens futuras do romance. Trata-se claro de um poderoso Machado de Assis, il miglior fabbro. Os personagens principais são gêmeos que discordam na vida em quase tudo, menos no amor por uma moça, chamada Flora. Mesmo após sua morte as diferenças entre os dois continuam marcantes (em que pese o desejo da mãe em vê-los pacificados) e provavelmente, pois o romance se encerra neste ponto, continuarão pela vida deles afora. A mãe dos garotos consultou uma vidente quando do nascimento deles e acredita na promessa de um futuro de glória para ambos. Um velho diplomata (o Conselheiro Aires, personagem que dá nome ao último romance de Machado de Assis) acompanha analiticamente as venturas dos dois irmãos, ora aconselhando o pai dos rapazes, ora ouvindo a moça dividida entre os dois, ora refletindo sobre os sucessos da época (as semanas que antecedem a proclamação da república no Brasil, em 1889). Os outros personagens são acessórios: o pai da moça é um típico político brasileiro, que muda de posição política ao ritmo das mudanças de poder; os pais dos gêmeos são monarquistas alienados, que pouco entendem o que se está a produzir nos estertores de um império dos trópicos claramente anacrônico; alguns personagens aparecem para demonstar como certos períodos históricos permitem ascenção social rápida, mudanças de classe e de códigos morais, como o dinheiro pode trocar de mãos rapidamente. Um romance de Machado de Assis sempre ensina algo para o leitor. [início 08/01/2009 - fim 09/01/2009]
"Esaú e Jacó", Machado de Assis, editora Nova Fronteira (1a. edição) 1982, brochura 14x21, 292 págs. ISBN: 85-209-0959-0

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

coração

"Kokoro", coração em japonês, é o nome deste bom livro, escrito por Natsume Soseki, autor de "Eu sou um gato", que li feliz no ano passado. Coração foi publicado em 1914, mas tem a força dos livros realmente perenes, que suportam bem as viagens no tempo e no espaço. Li em algum lugar que Soseki teve influências semelhantes as de nosso Machado de Assis (Laurence Sterne por exemplo, ou ainda William James) e lendo este livro não tenho como discordar. É um livro bom de se ler. O enredo acompanhamos os sucessos de um triângulo amoroso que é contado retrospectivamente (e muito elipticamente, quase até o final), por um casmurro (porque não) senhor de meia idade para um jovem estudante universitário. Dois temas são importantes no livro: a relação entre mestre e discípulo, que mesmo quando dissimulada é marcante; e a rivalidade entre jovens pelo amor de uma mulher, mesmo quando ambos não sabem ao certo expressar se o que sentem é mesmo amor, ou apenas o desejo de partilhar ou competir por algo com o companheiro. No passado o sujeito havia sido enganado financeiramente por um tio o que tornou-o egoísta e incapaz de relacionar-se francamente com os demais. O sujeito conta aos poucos sua trágica história para o jovem, mas este é susceptível demais e se deprime com as tribulações alheias, afetando seu próprio comportamento. O sujeito não tem exatamente uma dúvida que o atormente (como no caso do Machado de Assis) mas se pergunta sobre cenários distintos para sua vida e do outro casal caso ele tivesse um entendimento melhor do que é mesmo a maturidade e o que é mesmo a capacidade de ouvir as pessoas que o cercam. "Escondi meus pontos fracos na palavra humano", ele diz. E é isto o que fazemos quando queremos escusar nossas misérias. No prefácio aprendi que o livro metaforicamente fala das transformações pelas quais o Japão estava passando, com a rápida industrialização alcançada após a restauração Meiji. Soseki critica também (metaforicamente) o progressivo expansionismo japonês, que levará o país posteriormente para os desastrs da segunda grande guerra. A edição é bem cuidada. O texto foi traduzido diretamente do japonês, há um bom prefácio assinado por um especialista na literatura de Soseki e curtas notas de rodapé dirimem os termos japoneses mais herméticos. Gostei do conjunto, das cerimônias de chá, dos jogos poéticos na casa rural dos pais do estudante, dos crisântemos em flor. [início 05/01/2009 - fim 07/01/2009]
"Coração: Kokoro", Natsume Soseki, tradução de Junko Ota, editora Record (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 279 págs. ISBN: 978-85-250-3351-2

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

fazendo as malas

Este livro da Danuza Leão deixa-se ler em um par de horas de vagabundagem. Soubesse eu antes do conteúdo o leria junto ao mar, longe de um computador ou de uma agência de viagens, pois a vontade de seguir sua sugestão e embarcar de pronto é mesmo grande. Ela descreve em um curto livro a gênese e a realização de uma viagem cara a suas memórias afetivas: Sevilha, Lisboa, Paris, Roma. Danuza Leão deve ter acumulado em sua vida mais horas deslocando-se de avião entre o Brasil e a Europa (mais milhagem como se diz hoje em dia) que a maioria das pessoas acumula efetivamente de férias em qualquer lugar do mundo, portanto não se trata de um roteiro de viagem de principiante. As dicas dela são honestas e viáveis para alguém que tenha dinheiro gordo à disposição para estas estravagâncias. Ela incluiu um apêndice com endereços atualizados de hotéis, lojas, mercados, museus e restaurantes das cidades por onde passou e que podem servir de referência, mas os endereços que realmente contam na viagem registrada por ela são os dos muitos amigos e amigas que a receberam e a ciceronearam nas adoráveis semanas de viagem. Quem de nós não apela para um amigo quando estamos a viajar. Mesmo o mais soturno dos independentes gosta de um sorriso amigo esperando-o nos saguões dos hotéis ou nas salas de espera dos aeroportos. Claro, mas esta lista particular cada um de nós é que deve produzir, sem contar com a generosidade alheia. O mote alegado para a viagem tem uma imprecisão, fazer o quê? Ela diz que teve a idéia de iniciar a viagem ao ver o filme "O sol também se levanta", um clássico com os atores Errol Flynn, Ava Gardner e Tyrone Power. Mas este filme se passa na Feria de Pamplona (Navarra) e não na Feria de Sevilla, que ela elege o início de seu periplo europeu. Paciência, os caminhos da memória são sempre insondáveis. É um livro irrelevante eu sei, beira ser pernóstico, mas é divertido, um bom registro de um punhado de experiências saudáveis, de quem sabe apreciar uma outra cultura, um outro povo. No fundo eu acho que cada um deveria fazer um registro deste tipo, mas deveria guardá-lo para si, ou para mostrar aos netos, nostálgico, em uma noite fria com os amigos e os parentes. A vida é um sopro (como diz o Niemeyer) e lembrar dos momentos felizes é mesmo uma arte. No final ela nos lembra que hoje em dia é bom viajar com pouca bagagem e muito dinheiro, pois as aduanas mudaram mesmo de humor. [início - fim 03/01/2009]
Fazendo as malas, Danuza Leão, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2008, brochura 13x21, 136 págs. ISBN: 978-85-359-1343-9

domingo, 1 de fevereiro de 2009

entre nós

Publicado originalmente em 2001 no livro "Entre nós: Um escritor e seus colegas falam de trabalho" encontramos reflexões de e sobre vários escritores, reflexões produzidas a partir de entrevistas organizadas por Philip Roth. Os temas das entrevistas (ou mais bem encontros informais entre Roth e seus colegas) tratam de assuntos variados, notadamente aqueles que tratam da literatura produzida por eles e o processo de escrever, ou mais bem dito, entre a vida real dos escritores, suas escolhas e motivações e a matéria ficcional que são capazes de produzir a partir dali. Segundo Roth grandes escritores não gostam de discutir seus livros entre si, mas nas entrevistas ele alcança produzir par a par com cada um dos entrevistados curtas sínteses do trabalho deles. Além das entrevistas (com Primo Levi, Aharon Appelfeld, Ivan Klíma, Isaac Singer, Milan Kundera e Edna O´Brien) o livro inclui também uma troca de cartas com Mary McCarthy (exatamente sobre "Counterlife" / "O avesso da vida" que li semanas atrás) e três ensaios ou relatos, vamos dizer assim, sobre dois outros escritores (Bernard Malamud e Saul Bellow) e um ilustrador (Philip Guston). São dez bons textos, que dão uma mostra da inteligencia e versatilidade de Roth. As duas cartas trocadas com Mary McCarthy dão o tom de como Roth é zeloso de seu ofício: em meia dúzia de curtos parágrafos defende com garra seu estranho livro. A descrição da decadência física de Malamud tem algo de cruell, porém nada que um honesto amigo não possa registrar. Qualquer pessoa que goste de literatura e acompanhe os textos de Roth vai gostar desta vertente analítica. [início 20/12/2008 - fim 04/01/2009]
"Entre nós: Um escritor e seus colegas falam de trabalho", Philip Roth, tradução de Paulo Henriques Britto, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 176 págs. ISBN: 978-85-359-1358-3