Este livro da Danuza Leão deixa-se ler em um par de horas de vagabundagem. Soubesse eu antes do conteúdo o leria junto ao mar, longe de um computador ou de uma agência de viagens, pois a vontade de seguir sua sugestão e embarcar de pronto é mesmo grande. Ela descreve em um curto livro a gênese e a realização de uma viagem cara a suas memórias afetivas: Sevilha, Lisboa, Paris, Roma. Danuza Leão deve ter acumulado em sua vida mais horas deslocando-se de avião entre o Brasil e a Europa (mais milhagem como se diz hoje em dia) que a maioria das pessoas acumula efetivamente de férias em qualquer lugar do mundo, portanto não se trata de um roteiro de viagem de principiante. As dicas dela são honestas e viáveis para alguém que tenha dinheiro gordo à disposição para estas estravagâncias. Ela incluiu um apêndice com endereços atualizados de hotéis, lojas, mercados, museus e restaurantes das cidades por onde passou e que podem servir de referência, mas os endereços que realmente contam na viagem registrada por ela são os dos muitos amigos e amigas que a receberam e a ciceronearam nas adoráveis semanas de viagem. Quem de nós não apela para um amigo quando estamos a viajar. Mesmo o mais soturno dos independentes gosta de um sorriso amigo esperando-o nos saguões dos hotéis ou nas salas de espera dos aeroportos. Claro, mas esta lista particular cada um de nós é que deve produzir, sem contar com a generosidade alheia. O mote alegado para a viagem tem uma imprecisão, fazer o quê? Ela diz que teve a idéia de iniciar a viagem ao ver o filme "O sol também se levanta", um clássico com os atores Errol Flynn, Ava Gardner e Tyrone Power. Mas este filme se passa na Feria de Pamplona (Navarra) e não na Feria de Sevilla, que ela elege o início de seu periplo europeu. Paciência, os caminhos da memória são sempre insondáveis. É um livro irrelevante eu sei, beira ser pernóstico, mas é divertido, um bom registro de um punhado de experiências saudáveis, de quem sabe apreciar uma outra cultura, um outro povo. No fundo eu acho que cada um deveria fazer um registro deste tipo, mas deveria guardá-lo para si, ou para mostrar aos netos, nostálgico, em uma noite fria com os amigos e os parentes. A vida é um sopro (como diz o Niemeyer) e lembrar dos momentos felizes é mesmo uma arte. No final ela nos lembra que hoje em dia é bom viajar com pouca bagagem e muito dinheiro, pois as aduanas mudaram mesmo de humor. [início - fim 03/01/2009]
Fazendo as malas, Danuza Leão, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2008, brochura 13x21, 136 págs. ISBN: 978-85-359-1343-9
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