segunda-feira, 13 de junho de 2011

a noite de mil olhos

Flávio Moreira da Costa lançou uma primeira versão deste livro em 1984, mas resolveu promover algumas modificações (inclusive o título) para esta segunda edição. A história é boa, mas um tanto datada. Um jornalista/narrador assiste por acaso um assassinato no Rio de Janeiro boêmio dos anos 1970. O que poderia ser apenas uma boa oportunidade de produzir uma matéria acaba se tornando uma obsessão. Anos mais tarde, já nos anos de transição para a democracia (em meio aos sucessos de uma copa do mundo de futebol - e convenhamos, nada mais patético do que o futebol), este jornalista percebe que há uma ligação entre aquela morte carioca e um possível refúgio de nazistas escondido na América do Sul (este é o lado datado deste livro, pois quem é que sabe que houve uma segunda guerra mundial, nazistas, xenofobismo em escala mundial, matanças, ideologias a granel, tempos atrás). Bueno. O livro de Moreira da Costa sobrevive a tudo isto, inegavelmente é um livro bom de se ler. O jornalista/narrador conta como resolve sair em busca de uma matéria, dos fatos para um livro. De seu Rio Grande do Sul fundador ele parte para a Bolívia, Paris, Itália, Áustria, Ucrânia (claro, estamos sobre a influência e eufonia do "Dossiê de Odessa", best seller de Frederick Forsyth daqueles anos). Ele interage com personagens reais longo do livro: Sartre, o rabino Sobel, Joseph Mengele, Simon Wiesenthal. Há passagens que lembram coisas do Umberto Eco ou do Dan Brown (vamos a ver, no que tange sua preocupação recorrente com conspirações mirabolantes, acasos cósmicos, oportunidades), mas estamos falando de um autor que sabe controlar os temas de seu livro. Não há porquê questionar tudo isto. Enfim: "A noite dos mil olhos" é um romance policial divertido e movimentado, mas que abusa um tanto da credulidade do leitor. Afinal, nem todo mundo pode acreditar que um sujeito possa mesmo flanar por tanto tempo pela Europa com um orçamento tão modesto e limitado. Já as aventuras sexuais do protagonistas são também demasiadas e irrelevantes. Paciência. "A noite dos mil olhos" é um livro que se deixa ler com prazer, não faz promessas vãs, mas também não aborrece. [início 28/05/2011 - fim 11/06/2011]
"A noite de mil olhos", Flávio Moreira da Costa, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2a. edição (2010), brochura 15,5x23 cm, 263 págs. ISBN: 978-85-209-2538-6 [edição original: Os mortos estão vivos (Editora Record) Rio de Janeiro, 1984]

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