sábado, 28 de abril de 2007

més una vegada


Descobri o Montalbán há pouco, mas já sou um entusiasta de seu estilo rápido e irônico. Ao ler "A Rosa de Alexandria" não tinha idéia de quão prolífico ele foi, nem como era tão respeitado no mundo da língua castelhana. "O homem da minha vida" é mais um livro da série Carvalho, seu alter ego, um detetive particular que tem uma cultura vastíssima e um sarcasmo natural igualmente imenso. Gosto destes livros pelas breves descrições de lugares e paisagens catalãs, que quero guardar melhor na memória. Há citações de restaurantes e as inevitáveis receitas da "vieja catalunya" que eu gostaria de já ter conhecido antes, pois teria tido a chance de visitá-los. Quem sabe em um outro dia. Neste volume, um dos últimos da série, publicado três anos antes da morte do autor, Pepe Carvalho está as voltas com um assassinato bizarro, promovido por uma seita religiosa aparentemente, e as injunções políticas disto em uma Catalunha às vésperas de eleições municipais. Os temas que estão na pauta da política espanhola atualmente: os novos estatutos de autodeterminação das comunicadades, o uso língua catalã como instrumento de identificação daquela região, a disputa pelos direitos e deveres de cada região. Todos eles estão antecipados no livro mas talvez estes temas sempre estivessem por lá e seja eu o desinformado. A análise econômica e política dos problemas é bastante original e leva o leitor a pensar no papel do homem comum, do indivíduo, neste início de século tão conturbado. Além desta crime para resolver o personagem principal tem de ajustar algumas pendências afetivas, o reencontro com duas antigas namoradas e seu estranhamento no retorno a Barcelona após uma temporada longa em Buenos Aires. Não fosse Manuel Vázquez Montalbán um catalão de quatro costados dificilmente ficaria sem críticas pelo seu franco deboche de temas muito caros aos catalães: a língua, o turismo, a história e as tradições. Em algum momento ele define ácido: "Bonita, mas sem alma", mas talvez fosse porque o narrador estava cansado demais e desesperado demais para avaliar com isenção. Noutra ele escreve: "Na época dos Jogos Olímpicos contruiram aqui um imenso teatro e agora nem sempre encontram espetáculos para ele". Igualmente cruel e ambíguo. Recomendo sem reservas. É um livro que se lê descansado, muito gostoso mesmo. Vou continuar garimpando mais coisas deste sujeito.
"O Homem da Minha Vida", Manuel Vázquez Montalbán, tradução de Rosa Freire d'Aguiar, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2003) ISBN: 85-359-0421-2

Um comentário:

Lucía disse...

Vázquez Montalban foi um dos melhores escritores de romance policial. Se teres ococasiâo também podes ler Francisco González Ledesmas.Vais gostar muito de ele.